Cira e o Velho

Cira e o Velho Walter Tierno




Resenhas - Cira e o Velho


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Iris Figueiredo 03/02/2011

Para mais resenhas: www.literalmentefalando.com.br
Uma viagem pelo folclore brasileiro, Cira e o Velho é um livro único e fantástico. Valorizando a cultura popular nacional, Walter Tierno nos apresenta Cira, filha de Cobra Nonato e da bruxa Guaracy. Cira guarda um rancor em seu coração por Domingos Velho, homem que foi contratado por um Caraíba para matar sua mãe e deixou Cira a beira da morte.
Alimentada pelo último feitiço de sua mãe, proferido antes de morrer, Cira percorre o país seguindo os rastros de Domingos, com sede de vingança.
Misturando fatos e lendas como jamais vi, Tierno nos conduz por uma história narrada por um narrador-personagem obcecado por Cira, que segue os rastros dela pelo país - tal qual ela seguiu os rastros de Domingos.
O livro possui ilustrações únicas criadas pelo próprio autor, que preenchem diversas páginas do livro e fazem o leitor mergulhar ainda mais no folclore nacional, apresentado com maestria nesse romance. Mas não pense que por ser inspirado em nosso folclore e por possuir ilustrações que o livro é voltado para crianças, muito pelo contrário. A história é mais adulta e pode até incomodar alguns leitores mais jovens. Só que isso não tira seu encanto - talvez até aumente.
Sempre fui fascinada pelo folclore nacional e sentia falta de um livro que explorasse isso. O que fez minha atenção se voltar a esse livro foi saber que ele falava sobre folclore nacional - o que me fez deseja-lo instantaneamente. Mas ainda assim, meu maior medo era que alguém pegasse lendas brasileiras e as transformassem em algo sem valor cultural, o que não acontece aqui.
O mágico de recontar histórias que já existem e fazem parte do imaginário popular é a forma como você conta, e aqui é uma forma fantástica. A linguagem, nua e crua, clara, torna tudo mais fascinante. E aliada as imagens, podemos conhecer melhor ainda essa história.
Falando em ilustrações, elas são um capítulo a parte. Todas de autoria do autor, ele tem um traço impecável que por vezes assusta e por outras diverte, completando o sentido do livro. A ilustração em que ele retrata a morte, por exemplo, é única.
Cira é uma personagem incrível e decidida. Sua força é de dar inveja. Os outros personagens também são cativantes e bem construídos, o que faz uma diferença enorme em uma história. Há uma variedade de personagens e personalidades que cativa, desde Nhá ao nosso narrador, passando por Guaracy, Cobra e todos os outros que pontuam a história.
Não posso deixar de elogiar a edição, a diagramação e o cuidado do livro, que também foi bem revisado. Isso faz toda a diferença em uma leitura.
Cira e o Velho é uma daquelas preciosidades que encontramos raramente, mas sabemos que tem um futuro brilhante pela frente. Fiquem de olho em Walter Tierno, porque se suas próximas obras forem tão boas quanto essa, é um autor nacional que promete muito mais.
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ArenaFantástica 10/03/2011

ARENA FANTÀSTICA - Resenha: Cira e o Velho
Alguns livros são mais difíceis de falar a respeito do que outros. A nestes complicados temos duas situações: ou eles são o lixo da humanidade ou eles são tão bons que as palavras desfalecem. Com certeza a segunda situação é a que se aplica ao livro que irei resenhar hoje.

Li já faz mais do que semanas, e estou planejando fazer esta resenha há mais tempo ainda. No entanto, nem todo esse tempo foi o suficiente para que na minha cabeça surgisse exatamente o que eu deveria falar. Logo, fiz da forma mais simples, da mesma que se faz ...

LEIA MAIS EM :
http://arenafantastica.com/2011/03/06/resenha-cira-e-o-velho-pela-giz-editoral/

ou

arenafantastica.com
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Xilikéti 25/04/2011

Fantásstico
Gostei muito do livro!
Como nada que eu já tenha lido antes!
Primeiro que os nomes são muito sonoros, adorei as escolhas.
Depois, me pareceu como uma história de folclore mas muito mais legal. Gostei mesmo. E o final tirou um sorriso do meu rosto, sabe aqueles que você termina no "ahhh, muito bom". Surpreendente.
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ana paula 05/05/2011

Uma estória ímpar
Acobertada pelo manto das florestas e do folclore nacionais, a estória de Walter Tierno é muito bem elaborada. Ela resgata a memória e as crenças indígenas e africanas, a sabedoria popular e as amadurecem com a visão cosmopolita, dando-lhes um toque de atualidade ao tema.
A rica pesquisa histórica faz com que a narração se torne quase real, pois podemos contextualizar os acontecimentos.
Tudo começa quando um menino urbano recebe uma figurinha com a foto da personagem Cira. Fica intrigado, cativado com ela. Ela se transforma em uma relíquia. A personagem lhe assombra de tal forma que ele, já adulto, resolve elucidar as memórias sobre Cira, procurando as pessoas que tiveram contato com ela. Nesta aventura, ele narra quem ela era, o que fez e todo o fascínio que ela exercia sobre as pessoas.
O final é surpreendente.
Recomendo esta estória pela graça, leveza, bom humor, mistério e, talvez porque como o Walter, gosto de conhecer um pouco mais sobre as nossas raízes.
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Tânia Souza 12/09/2011

As forças das lendas, dizem, está em quem as espalha
Cira e o Velho é um dos livros mais legais que tive a oportunidade de ler este ano. A linguagem límpida e econômica do autor, mesmo em trechos com maior trabalho de descrição, dá agilidade sem perder o foco nos detalhes importantes. Ser preciso sem ser raso é muito bom. Ah, ainda quanto ao aspecto físico do livro, além da capa belíssima, é ilustrado com traços que podem ir do sombrio à leveza. Aliás, são muito bonitos os desenhos que Walter faz nas dedicatórias dos livros.

Quanto a trama em si, como indica a sinopse, muitas batalhas terão lugar nesta aventura, assim como traições, enigmas e eventos surpreendentes. Ao leitor caberá a delicia de descobri-los. Homens de além-amar, guerreiros dos Palmares e criaturas do folclore nacional sob um prisma inovador permeiam estas páginas. O mito está presente, mas nem sempre como o leitor espera. E não apenas alguns, vários deles. Destes eventos e aspectos aventurescos, não farei maiores comentários. Por hora, contento-me em estar com estes personagens tão cativantes, transitando entre os caminhos ainda não desbravados de uma terra nova, cheia de possibilidades e disputas, até o frenesi contemporâneo dos grandes centros.

Então, é hora de começar. Mas...

“Mas por onde começar?”
“Por onde, então? Por Norato ou pelos pais de Norato e Maria Caninana? Talvez pela mãe de Cira?
Ah, sim... por que não? Comecemos por um lugar comum: todo grande herói, ou heroína, precisa de um vilão, ou vilã, a altura.
Comecemos pelo Paulista.”

Boa escolha, caríssima figura narrativa. Gosto da idéia de começar pelo Paulista. Mas também gosto de subverter a ordem.

Começo por... você.

Que nos cativa e surpreende. O foco narrativo do romance alterna-se em primeira e terceira pessoa de forma muito interessante. Entretanto, com suas viagens e pesquisas, com sua obsessão por Cira, quem nos conduz pela trama narrativa? Além de diferentes fontes e mais 50 horas de gravação e cinco cadernos de anotações, não exatamente transcritos, é sempre por suas palavras que adentramos no fascinante universo de Cira e o Velho. E sua figura se concretiza com carinho para mim, devido ao passeio que oferece.

E a seu convite, também eu “quero falar sobre Cira”.

Esta Cira dos olhos negros e vividos tem em si resquícios de sereias no falar.

“Ouvir o riso de Cira era andar nos domínios da loucura e da luxuria” (p. 109)

A personagem me lembra uma tempestade: é afoita, é valente e ao mesmo tempo, carente, tem uma certa meiguice que se torna impossível não gostar e torcer por ela. De fato, a filha da bruxa Guaracy e de Cobra Norato não é uma garota comum. O que esperar de uma moça vestida em couro escamado e vermelho escuro, cabelos negros que se movem ainda que o vento esteja ausente e que carrega nos ombros um crânio que... que... (bem, deixo ao leitor o prazer da descoberta). Bom senso? Nada, é guiada pela paixão e pelo impulso. Humana. Ou quase.
É Cira.

Entretanto, foi marcada pela violência e sua meta principal é a vingança. Aliás, a vingança é um dos motes da narrativa. De uma forma ou de outra, está sempre presente. Mas entre as paixões que permeiam o romance, a ganância é, com certeza, a mais cruel.

Cira tem tanta alegria quanto ódio e sede vingança. E no seu caminho, surge uma figura que, além de essencial a ela em vários momentos, encanta não só a Norato e a Cira, encanta principalmente o leitor. Estou falando de Nhá.

“Meu... meu nomi. Ié Nhá, sim sinhora.”

Nhá. Dela, devo dizer que é uma querida. Sim, eu a adorei. Com sua simplicidade e sabedoria, quase imagino os olhos arregalados de espanto, ou não, conforme o que a vida lhe apresentava. Nhá nos aparece quase assustadora. Ancestral. E o era, de fato. Mas transita de criança a mulher, de menina a velha sábia com uma velocidade surpreendente, mas bem coerente. E seus olhos contam da vida vivida além do comum. Olhos de quem aceita o inusitado e a magia com naturalidade.

Na sua busca por vingança, Cira, na maior parte do tempo acompanhada por Nhá, irá perseguir este que nos foi apresentando no principio: o Paulista. Domingos, O Velho, como era chamado pelos capitães. Pai, como foi chamado pelos índios. Este que era apenas “o mais eficaz e eficiente caçador de gente.” Acompanhado por um exército composto por índios e mamelucos armados, e ocasionalmente, por outros capitães, era temido e odiado. A descrição do personagem feita por Walter Tierno não poderia ter sido mais precisa, nos apresenta visualmente, ainda que com palavras, essa figura tão complexa cujo sorriso poderia ser mais terrível que a ferocidade natural de um rosto marcado. Afinal... “Tudo em seu rosto era assustador. Quando sorria – o que era raro – provocava aqueles arrepios que sobem pelas costas em morrem num espasmo no alto da cabeça.” O Velho era um guerreiro guiado pela ambição, sem espaço em si para sentimentos além da luxuria, do ódio e da sede de sangue. E seu caminho será marcado pelo desejo de vingança que ferve no coração de Cira. Gostaria de falar mais do Paulista, mas seria spoiler demais, apenas dele devo comentar a força, a esperteza e o inusitado. Ah, e claro, a extrema crueldade.

“Domingos fechou a boca, que ficara escancarada durante o linchamento de que participara, e engoliu saliva grossa, misturada com o sangue de alguma das crianças.”

Mas que distração a minha. Falei de Cira. De Nhá. Do Velho. No entanto, dois irmãos, duas criaturas fascinantes do nosso folclore merecem atenção especial: Cobra Norato e Maria Canina.

Cobra Norato é vermelho como a paixão que inspira. Maria Caninana é branquíssima, assim como Cira. Enquanto um é alegre e apaixonante, a mágoa, a crueldade e o desejo de vingança (sim, mais uma vez, ela corroendo os destinos) marca a vida de Maria Caninana. Acho que já da pra imaginar, mesmo para quem não conheça a lenda, que os dois são criaturas serpenticas com um raro dom: metamorfosear-se em humanos. Sedutores, fascinantes e capazes de magias indescritíveis. Repletos de paixões tão presentes nos seres comuns. E fraquezas que nem sempre conhecem.

Além deles, outros personagens desfilam nas teias narrativas. O Caraíba, primeiro intermediário entre Caninana e O Velho. Guaracy, a linda bruxa mãe de Cira, que fascina até mesmo o inconstante Norato, parente de sereias e conhecedora de feitiços cujos preços são altíssimos. O Senhor das Mentiras, que manipula e joga para sempre conseguir o que deseja. Tabatinga, guerreiro e valente, um dos outros filhos de Norato. As sete noivas, tão perdidas de suas individualidades que assim são chamadas, e que ainda assim, me comoveram e surpreenderam. A Morte, que surge como uma apaixonante e birrenta menina.

Criaturas místicas e folclóricas. Sereias, lobisomens, mboitatás, guardiões das matas, princesas, cidades perdidas e tesouros inimagináveis. Árvores tão antigas que se movem e falam aos que ainda sabem ouvir. Os fascinantes reis dos animais: o Rei Tatu, o Rei dos Tamanduás, o Rei-urubu e o Rei-gavião.

O que eles vivenciam juntos? Somente lendo para descobrir.

Um outro aspecto que chamou bastante minha atenção é a musicalidade presente no texto. Explico: o texto apresenta trechos quase sinestésicos e passagens poéticas 'pra mais de lindas', como esta: “Do rio, saiu uma linda mulher, feita de carne e música.” O sinestésico vem mesmo a misturas de sensações, cores, sabores e principalmente sons. A magia das criaturas intensifica e age nos sentidos humanos de uma forma muito interessante.
“Ouvir a música do urubu-rei era como tomar um vinho muito quente em um dia muito frio e senti-lo aquecer todo o corpo, despertando uma energia estranha abaixo do umbigo. Nhá a sentiu. A sensação veio de sua barriga, subiu pelo seu peito, espalhou-se pelos braços, formigou nas pontas dos dedos... veio-lhe uma vontade danada de chorar. Não de tristeza, nem de alegria, mas de êxtase (...) não demorou que seu êxtase se transformasse em puro medo.”

Cira e o Velho é um romance que desmistifica o aspecto lúdico que tomou conta do folclore nacional. Reinventa os mitos. É sombrio, repleto de batalhas e cenas violentas em vários aspectos. É também de histórias de pessoas, plenas de paixões e atos inconsequentes, como deve mesmo ser. E neste caso, também o são as criaturas mágicas. Porém, não é apenas de sombras que esta história é feita, uma saga divertida, emocionante e bastante surpreendente.

“As forças das lendas, dizem, está em quem as espalha”

Pois mais uma lenda me ganhou definitivamente, confesso, adoraria ler mais sobre Cira e os personagens maravilhosos que estas páginas me proporcionaram conhecer.
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Nika 10/09/2011

Desde que comecei a me aventurar a escrever, não nego a ninguém a minha defesa de que é possível fazer boa ficção com cenários e elementos brasileiros. Não se trata de bairrismo e nem tampouco de desmerecer uma literatura viajante. É apenas uma afirmação em meio a um certo colonialismo literário ou aquela tendência novelesca de que só o exterior é rico o suficiente para fornecer inspiração. Isso é mais forte se a gente olha para os livros de fantasia cheios de inspiração medieval, terras médias e muito fog inglês. Novamente: não estou desmerecendo este tipo de obra, não é o cenário que mede a qualidade de um livro, apenas, esta é minha afirmação: dá sim para escrever um ótimo livro de fantasia usando elementos próprios da cultura brasileira!


O problema é que quando se faz uma afirmação destas, nossa mente voa direto para as aulas de folclore que se teve no colégio ou as de Cultura Brasileira em alguns cursos universitários ou, o pior de tudo, vai direto até às novelas e especiais da Rede Globo. Isto, obviamente, é alimento para preconceitos, com tudo o que os PRÉ-CONCEITOS têm de ruim. Alguns desses?

Uma distorção do que é cultura brasileira. Com base nos conceitos prévios que hoje chegam mais facilmente à maioria das pessoas, tem-se a impressão de que cultura brasileira é uma mistura carnavalesca, colorida e alienada de invencionices regionalizadas e tornadas nacionais a formão. O trágico parece pueril ou diminuto e limitado. É interessante como nossa ideia sobre o que é um imaginário mitológico rico precisa ser jogada para fora de nós. Enchemos a boca para falar de mitos gregos ou nórdicos e nos afundamos neles para “nos entender” e inspirar. Mas, primos pobres, do Brasil e sua riqueza mitológica e histórica pouco tiramos. Tratamos nossa mitologia como nossa sociedade trata as crianças de rua: é pobre, não vai crescer, não tem brilho, melhor evitar e esquecer.

Para que não me acusem de hipócrita, digo desde já que estudo mitologias (grega, nórdica, etc) com grande entusiasmo e desde muito tempo. De fato, meu presente de 10 anos de idade foi um Dicionário de Mitologia (sem desenhos) Greco-Romana. Então, novamente, não se trata de um manifesto nacionalista, mas do trabalho com as possibilidades imaginárias de um universo muito, mas muito mais rico do que se tem admitido enquanto nos encantamos com castelos. (Não que os castelos não sejam dignos disso, apenas, não são somente eles que são.)

Essa distorção não cai somente em cima do edifício da cultura e do folclore. Cai também sobre a história. Caso você não tenha percebido, a história está na moda. Mas qual história? A que tem feito a fortuna de alguns divulgadores é aquela que pode ser tornada anedota. Não teria problema se, em muitos casos, não estivesse também absolutamente equivocada (não estou nem falando de interpretação dos fatos, estou falando de fatos mesmo). Mas isto é tema para outro comentário. E nem era de nada disso que eu queria falar aqui.

Eu quero falar de Cira...

Sim, parafraseio o autor sem nenhuma vergonha, pois este começo é o que te joga num livro devorador e devorável. Terminei-o em 3 dias. E não, não é um livro de mistério, embora tenha algum. Mas isso, nem de longe é o mais importante. Cira e o Velho tem o gosto de um dos meus velhos livros de mitologia. Nada carnavalesco, embora colorido. Cheio de tragicidade, mas nada pueril. É fundado na mitologia, na cultura popular e na história brasileiras. Tem iaras, lobisomens, cobras que se fazem gente, bruxas que controlam árvores e são árvores. E, nada disso é infantil, ou gratuito, ou inverossímil. A arquitetura da história é perfeita. Ela te envolve e transcende o ordinário, como a boa ficção fantástica tem de ser. Em nenhum momento me peguei pensando: “mas, como?” Estive completamente convencida por todo o tempo. Em outras palavras: o texto fez a mágica. Como diz Milton Hauton, “a tarefa do escritor é nos convencer de que o que lemos podia ter acontecido”. E foi o que aconteceu. Cira e sua família entraram no meu panteão.

Walter Tierno – que também é ilustrador – estréia como autor de literatura fantástica num romance de personagens absolutamente encantadores. De heróis que cometem erros e vilões afundados na própria soberba. De animais que falam, mas com uma personalidade tão própria que, certamente, você perceberá que não está em Narnia. De homens que lutam pelo comando de uma terra que, ela própria, é também um personagem oculto, mas forte e presente. É também violento e a prosa crua, nestes momentos, consegue te transportar a tempos ainda “mais hereges” (como diz o avô do Guto) que os nossos.

Como leitora chata que sou, não direi que o romance mantém o encanto por 100% do tempo. Foram 99%. Mas isso pode ser pessoal. Impliquei com uma ou duas passagens que o autor parece render-se a imagens mais próximas ao HQ. Nada que desmereça o livro, nem mesmo a passagem em si, são apenas algumas frases que já tinha se formado na minha cabeça e não seria necessário lê-las.

Mas, mesmo isto, vem antes de Cira. Porque, veja, é muito difícil manter o discernimento depois que Cira aparece. A pequena feiticeira (isso é por minha conta, e já explico porque) ilumina o livro. É difícil não se encantar por ela, não desejar ouvi-la ou saber sobre as coisas que ela quer fazer. Ela domina o livro e, claro, seu autor, que passa às suas mãos, assim como os leitores. Como só acontece nos bons e não-abandonáveis livros. O feitiço de Cira é com quem lê e não dentro do livro, onde sua magia é mais pressentida que usada.

Dos outros posso dizer que: apaixonei-me por Cobra Norato, quase como uma de suas inúmeras amantes. E toda vez que alguém chamar outra pessoa de Caninana na minha frente, isso terá um sentido mil vezes pior.

O Velho? É um personagem incrível. Desprezível. Odiei-o cada segundo. Como teria de ser.

É interessante que o Walter, ao me dar seu autógrafo no Fantasticon, tenha referido o Velho (e foi o autógrafo mais legal que já vi). Talvez, no meu caso, o aviso devesse ser outro: Cuidado! Cira é feiticeira e você é presa fácil.
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Cristiano Rosa 20/02/2012

Diário CT: Cira e o Velho
Folclore brasileiro banhado de aventura, romance, suspense e sangue, muito sangue. Assim é Cira e o Velho, de Walter Tierno, publicado pela Giz Editorial em julho de 2010. Um romance contextualizado, cheio de depoimentos e referências, e escrito com muita originalidade. Personagens fortes que cativam e marcam o leitor em uma narrativa intrigante e cheia de surpresas.

Depois de muito ouvir da obra e comprá-la do autor no ano passado, finalmente fui ler a história de Cira, a filha de uma bruxa com a cobra Norato, e do Velho, um sertanista ousado e ganancioso. Porém, não conheceríamos ambos sem o auxílio de Dona Nhá, uma personagem secundária que conta de uma maneira bem especial um pouco de suas experiências de vida.

A trama gira em torno do desejo do narrador que descobre Cira em um jogo de figurinhas e decide conhecer mais sobre a personalidade. Procurando quem saiba lhe dar mais informações, encontra Nhá, uma senhora simples, famosa por ser contadora de histórias, que afirma ter convivido com a herdeira de Norato em sua infância.

Então o leitor é levado a outros tempos, onde conhece o inimigo de Cira, Domingos, um homem sombrio e também famoso como Paulista. É a partir daí que a aventura começa e descobrimos, aos poucos, tudo sobre Cira e o Velho, envoltos de muitos mitos e magias que nos encantam nos 22 capítulos das 230 páginas da obra.

O livro é daqueles em que a narrativa não fica enrolando a leitura, as coisas acontecem porque devem acontecer e até achamos que isso é bastante rápido, mas muita coisa ocorre e, em certo momento, depois de estarmos pensando que as tramas paralelas ficaram muito distantes, tudo se junta e faz sentido para a compreensão da história.

O cenário é o sertão, onde vivem escravos, senhores, índios, guerreiros e mulheres, que servem aos homens apenas porque eles as mandam. Ou as compram, em alguns casos. É em meio disso que o leitor encontra a realidade que se faz presente no volume: lutas, em que muito sangue é derramado; sexo, que é narrado com poucos pudores; e mistério, envolvendo a natureza e os animais.

Para quem gosta de folclore, a obra é um prato cheio. Com base em lendas já existentes, o autor consegue adicionar novos elementos, deixando-as com um ar mais curioso ainda, de modo que a leitura envolva e apresente ao leitor uma visão extra sobre o que os nossos olhos veem e o que nossa mente pode imaginar. As descrições são suficientes para ilustrar as aventuras de Cira. Aliás, o livro é ilustrado com desenhos do próprio autor.

Vingança, violência e traição é a tríade principal que motiva as ações do livro, em que as personagens, apesar de planejarem, pouco pensam nas consequencias. Destaque para a ilustração e definição da morte; para a inserção de diversos elementos que deixam o livro mais encantador; e para a narrativa, que mesclando em primeira e terceira pessoa, prende o leitor e o faz refletir sobre a leitura.

Fonte: http://www.blogcriandotestralios.com/?p=15160
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Kyanja 16/01/2012

Impressões sobre uma narrativa acima da média...
Com escrever uma resenha, quando várias outras já foram escritas, sem ser repetitiva? Já aviso que não farei um resumo da história, ou seja, uma sinopse (acredito que muitos elaboraram excelentes sinopses).

Escreverei sobre as impressões que a narrativa de “Cira e o Velho” me trouxeram.

Primeiro, o autor já consegue nos conduzir à trama e compartilhar conosco de sua obsessão por Cira, a protagonista que dá título à história e ilustra a capa deste livro. Gradativamente, nos torna cúmplices das informações que coleta desse personagem, descoberto por meio de uma imagem de figurinha de colecionar em um álbum sobre lendas brasileiras.

A primeira pessoa com quem trava conhecimento e troca informações sobre Cira é a velha Dona Nhá. Impressionante a capacidade do autor de descrever cenas e personagens de maneira econômica, mas projetando imagens na mente do leitor! Sua habilidade com as palavras é a mesma com que traça suas ilustrações: segura, precisa, sem desviar do que é ideal para continuar a prender o leitor mais e mais na continuidade da história. Ele me fez sentir “ouvindo” um causo regado a um bom café, como o oferecido pela hospitaleira Dona Nhá, de tão fluida se torna a leitura.

O leitor mais atento perceberá que em cada página será contemplado com frases de efeito, que explicam muito a causa de algo em função de outra. Exemplos: “Bati à porta, que abriu com um rangido, mas não sei se o som vinha das dobradiças ou dos ossos da velha que se apresentou à minha frente.” Ou: “O riso de Cira adulta era como o som de uma cuíca que tocasse uma sinfonia, o som de um exército imbatível, com uma pitada de prazer e glória. Era assustador, envolvente e magnífico como uma tempestade que limpa toda a vida, deixando apenas areia, brisa e solidão. (...) Ouvir o riso de Cira era andar nos domínios da loucura e da luxúria.”

Vou expressar aqui uma opinião que pode parecer loucura, e talvez até desmentida pelo próprio autor. Mas Cira é uma personagem tão apaixonante, descrita como um ser sem reservas, pudores, preconceitos ou moral (pelo menos, a moral convencional à qual a maioria fica presa), que me remeteu a uma personagem de Monteiro Lobato das histórias ambientadas no Sítio do Pica-Pau Amarelo, lidas por mim há várias décadas: a boneca Emília. Imagino que se Emília fosse de carne e osso e beneficiada pelos hormônios femininos, acabaria se tornando uma espécie de Cira...(risos). Acho que viajei agora, hein? Mas isso é culpa de Walter Tierno, que conseguiu isso.

Somente no final (mais uma vez o autor não brinca em serviço ao exigir mais de seu leitor) é que, numa leitura atenta, revela-se a identidade do narrador. Recurso magistral, digna de um mestre na arte de contar histórias!

Se você é um leitor exigente e quiser sair da mesmice, leia "Cira e o Velho". Garanto-lhe: Leitura de qualidade do início ao fim!
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Thyeri 24/02/2012

www.restaurantedamente.com
Em Cira e o Velho acompanhamos um repórter na realização de um sonho de criança: conhecer mais sobre Cira, uma personagem folclórica, que desde que a viu pela primeira vez, quando brincava de bafo e pegou a figurinha que continha Cira. Desde então ele vem colecionando tudo a respeito da personagem, até que decidiu ir mais além e buscar mais histórias sobre ela.

Ele embarca para um vilarejo à procura de Dona Nhá, anciã, ex-escrava, e detentora de inúmeras histórias, dentre elas a de Cira. Não sabia ele que Dona Nhá viveu com Cira uma boa parte de sua vida, e a acompanhou em sua vingança para com Domingos, um sertanista, mais conhecido por Velho.

Nhá, então, nos conta como tudo aconteceu, desde a relação entre Cobra Nonato com a bruxa Guaracy e o consequente nascimento de Cira, ao episódio em que Guaracy e Cira ficam presas por conta do Velho, e o renascimento de Cira para se vingar. Assim Nhá conta sua história, em como se envolveu nessa vingança, seu amor por Nonato e sua amizade com Cira.

Fiquei impressionado com a escrita do Walter. A não linearidade de sua história e a forma com que ele nos apresenta os personagens foi magistral. A cada novo personagem fomos, primeiro, apresentados à sua história pessoal para, em seguida, sabermos seu envolvimento com a trama principal do livro. E as ilustrações no decorrer do livro são muito bonitas, tanto elas quanto a capa foram desenhadas pelo próprio Walter.

Por não ter costume de ler nada voltado para o folclore nacional, foi uma nova sensação de leitura que eu espero experienciar novamente. Acho que Cira e o Velho é um livro que estávamos precisando, um resgate aos elementos de nossa cultura.
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MENINALY 05/04/2012

Amei...
Adorei, achei o livro envolvente, personagens cativantes....
Não gosto do folclore brasileiro (assumo), mas a estoria que o Walter criou é simplesmente mágico....
O final me deixou com vontade de: quero mais...
Parabens Walter, mais um autor brasileiro com muito talento.
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Ôcaravéio 11/04/2012

Cira e o Velho.

É a veia da literatura latino-americana que introjeta o realismo fantástico nas letras, mixando a história do Brasil em seus momentos de gênese representados pelo Quilombo e pelas Bandeiras com o surrealismo da marcante mão de Walter Tierno.
Magia, história, muita brasilidade num território conhecido em locações Pernambucanas, Paulistas e Cariocas.
Cira e o Velho cativa pela estrutura bem montada, pelo desencadear cinematográfico fruto de um ótimo roteiro.
Walter, um escritor que leva a sério seu artesanato com profunda pesquisa, com informações precisas nos detalhes. As ilustrações, ótimas por sinal, deveriam estar guardadas para a versão em quadrinhos. Nós leitores, gostamos de ter nosso próprio diretor de arte. A velha briga entre a imaginação do leitor e a ilustração. Quando a gente cresce, vira purista. Ou é HQ ou literatura.
O tipo, a fonte podia ser outra. Essa está espichada.
O livro de Walter Tierno vale cada real pago por ele. É literatura de primeira. A estória pega o leitor no primeiro parágrafo e o segura pela gola da camisa só o soltando na última página, sem parar, é impressionante.
Cira e o Velho orgulho de ler escritor brasileiro tão bom quanto Walter Tierno.
11/04/2012
Walter Leite.
(http://walterleiteratura.blogspot.com)
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Yorsh 20/07/2012

Vingança Eterna
Confesso que demorei um pouco para engatar na leitura. Mas Cira e o Velho se mostrou um daqueles livros em que podemos ver um lado mais fantástico da nossa história.

Parte da narrativa se concentra no serviço assassino que é dado ao caçador de homens, o"Velho", por Maria Canina, sua tia...

A outra parte segue a vingança de Cira contra o Velho, uma vez que ela não estava tão morta quanto tantos pensavam...

No decorrer da história, Walter Tierno nos apresenta alguns personagens mitológicos que se misturam com a história do Brasil. Apesar de questionar o interesse do "narrador" da história, no decorrer do livro ele se justifica.

Considero um livro bom. Uma das coisas que pude ver com ele é que certos personagens nunca encontrarão paz, uma vez que a própria morte se recusa a concedê-la...

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Coruja 11/09/2012

Meio mundo sabe o quanto gosto de mitologia. Conheço um tanto razoável da greco-romana, um pouco de egípcia, pinceladas de nórdica e celta e alguma coisa da japonesa. Do mundo de lendas brasileiras, contudo, confesso que não entendo muito. O que, aliás, acho vergonhoso.

Questão é que a única obra de referência que sei existir sobre o assunto é Câmara Cascudo e, ao menos os livros que tenho ou que já li dele, são obras acadêmicas, não narrativas. Há muito pouco ao alcance do leitor comum – o que sei foi-me ensinado principalmente por Monteiro Lobato (sempre ele!).

Assim é que, quando li a sinopse de Cira e o Velho, senti-me razoavelmente curiosa, curiosidade que só aumentou com a indicação e empolgação da Angélica me falando do livro. Como setembro, no Desafio Literário 2012, era mês de mitologias, lá veio ele para a lista.

Com tudo isso, contudo, eu ainda não sabia o suficiente para criar quaisquer expectativas. Comecei Cira e o Velho com a mente feito uma página em branco. Mas não demorou para que eu ficasse maluca fazendo anotações, cruzando dados históricos e pesquisando o mundo que Walter Tierno construiu.

Cira é filha de uma bruxa, Guaracy, aparentada com as sereias, descendente de alguma antiga e misteriosa civilização que um dia desapareceu; e Cobra Norato – que me faz lembrar um bocado do boto, exceto pela parte em que ele é uma cobra capaz de se transformar em homem.

Cobra Norato tem uma irmã gêmea, Maria Caninana, que é amarga e fria onde o irmão é malandro e charmoso. Tendo assistido ao assassinato da mãe, Maria Caninana faz um acordo com o “Senhor das Mentiras” a fim de conseguir o poder de se vingar – e é no meio desse acordo que entra o bandeirante Domingos Jorge Velho e a desgraça de Cira, que acabará por repetir parte do ciclo da tia, atrás de sua própria vingança.

A história tem constantes turnos, do tipo que sempre te deixam na ponta dos pés sem saber exatamente o que virá a seguir e é uma delícia reconhecer nela episódios da nossa história. A forma como o autor soube costurar fato e mito numa narrativa inteiramente original é, simplesmente magistral.

Ela é violenta, sensual, surpreendente, com um ritmo que quase não te permite deixar o livro de lado (para quem, como eu, não consegue ler em veículos, não se trata realmente de uma escolha...). Uma boa prova de que é perfeitamente possível escrever boa ficção fantástica com elementos nacionais, ao contrário do que acreditam algumas pessoas por aí. Recomendado!

(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)
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