Cira e o Velho

Cira e o Velho Walter Tierno




Resenhas - Cira e o Velho


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Alba 15/10/2010

Imperdível!!
Cira é filha de Guaracy - uma bruxa - e Norato, cria de humano com cobra.

Norato e sua Irmã, Maria Caninana nasceram de uma índia que foi seduzida por uma jiboia à beira do rio e foi morta pelas mãos do companheiro ao ser pega amamentando as duas crias.

Num acordo com o “Senhor das Mentiras”, Maria Caninana pede a habilidade de se transformar em humana para matar o ex-amante e assassino de sua mãe em troca de catorze de suas crias e catorze das crias de seu irmão, Norato. Aí a trama se desenrola, e aí que conhecemos o Velho.

Domingos Jorge Velho é um assassino e mercenário. Está pronto para cumprir qualquer acordo e não pestaneja ao aceitar a tarefa de dar cabo dos dois últimos filhos de Norato para que a dívida de Maria Canina esteja, enfim, sanada.

E Cira é filha de Norato e de uma bruxa da floresta que tem parentesco com as sereias. Uma bruxa capaz de enganar a morte! E a tarefa que parecia fácil, se torna difícil, e se cria uma vendeta! E essa vendeta vai ter um palco inesperado. A Guerra dos Palmares.

Gostou? Quer ler mais?? Acesse o site e confira a resenha completa:

http://www.psychobooks.com.br/2010/10/cira-e-o-velho-walter-tierno.html
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Carol Chiovatto 28/10/2010

CIRA E O VELHO - WALTER TIERNO
Não tenho por hábito escrever a sinopse do livro, o que pode ser uma grande falha, mas dou algumas palavras acerca da história. Trata-se uma história bem doida que mistura o folclore nacional de forma mestra, e uma parte da história brasileira na época da escravidão e a queda do Quilombo dos Palmares.

A forma como a história se desenvolve é fluida, não cansa, apenas causa curiosidade maior a cada página para saber como vai acabar aquilo tudo.

Ele apresenta o vilão (que é a personagem da história que conhecemos melhor) e me dava ânsia de vômito a cada cena que ele aparecia. Isso é bom, imagino, porque pelas descrições ele devia ser mesmo a pessoa mais repulsiva do mundo inteiro. É o Domingos Jorge Velho, um caçador de índios e de recompensas, ganancioso que aceita qualquer trabalho lucrativo.

Um desses trabalhos é matar a bruxa Guaracy e a filha dela (a Cira do título do livro, nossa heoína). Ele apenas aceita e se prepara. Não vou contar quem mandou e nem por quê, pois isso faz parte do charme da história.

Ok, ele consegue matar a Guaracy (e não sem uma boa briga) e deixa a Cira pra morrer, depois de ter cortado o pescoço dela e deixado-a com os ossos quebrados. Na época, Cira tinha apenas uns 12 anos de idade.

Cira tem aparência humana, mas é descendente de uma tribo de sereias que inclui a Yara por parte de mãe, e de uma cobra por parte de pai (o pai dela é o Norato, um cobra filho de uma índia e uma cobra) que assume forma humana para ter relações sexuais com humanas.

Bom, a Cira não morre. A mãe faz um feitiço em seu último suspiro transformando-se numa árvore que abriga Cira dentro se si.

Aiii, não posso continuar contando a história sem entregar o ouro! :D Bom, ela é solta graças a uma menina chamada Nhá, uma escravinha raptada de uma fazenda numa invasão de quilombolas.

Depois de liberta, numa forma de mulher adulta, Cira só pensa em se vingar de Domingos (o Velho), que matou sua mãe e a deixou para morrer. Cada um tem sua impressão, mas são costumo ser parcial às personagens movidas por vingança, nem em livros, nem no cinema.

A história é muito rica e cheia de aventuras a partir do momento que Cira e Nhá partem atrás do Velho, e o cobra Norato parte atrás de sua irmã (RÁ, EU NÃO IA FALAR). Há muitos conceitos em que eu nunca havia pensado antes.

Só não consegui familiaridade com as personagens. Fora o Velho repulsivo, não senti envolvimento com nenhuma das outras personagens. E não culpo o autor, ele não tentou fazer isso. A forma escolhida de narrativa demonstra apenas as impressões de quem conta a história a respeito da personagem, e a Cira, por exemplo, só é descrita a partir das muitas visões de quem a conheceu.

Por essa razão, as personagens parecem não ter profundidade, mas, pela narrativa, é nítida que essa era a intenção do autor.

Li o livro em três dias, sendo que só o pegava durante uma hora no ônibus entre minha casa e a faculdade. Isso diz muita coisa.
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Lady 26/06/2012

Cira e o Velho é uma coisa meio louca. Mesmo. Começa num tom de história sendo contada e termina em outro ponto tal que a gente até se esquece no meio do caminho como foi que a gente tinha chegado até ali. Como numa conversa muito boa e muito longa, uma coisa remete a outra que leva a outra próxima e tudo faz sentido, ao mesmo tempo em que não se sabe mais por onde começou. É mais ou menos por aí.
Walter Tierno traz em seu livro uma salada de coisas e referências. Unindo lendas conhecidas do nosso folclore a outras tantas criadas por ele mesmo (ou não?), juntando com fatos históricos e referências de um Brasil muito antigo que já não existe mais, ele conseguiu criar para Cira e o Velho um universo tão fantástico quanto real. Essa mistureba, junto com seu ritmo de narrar a história, fazem com que o livro, além de parecer uma boa conversa, também se torne uma daquelas histórias que as nossas avós contavam pra gente no sítio, antes de dormir. A história da perseguição de Cira atrás de Velho é uma coisa tão louca que se torna plausível, tão intensa que parece real - o tipo de história que poderia facilmente ter sido contada pela minha avó junto às histórias de saci-pererê, de lobisomens, de curupira...
Enfim, é uma história maravilhosa, folclórica e fantástica, intensa e maluca, tão fictícia quanto real. Pra um livro tão curto, é impressionante o quanto ele me pareceu longo. Achei que fosse ler numa sentada, mas a história é tão complexa que precisei de mais tempo pra digerir, tive que ler aos pouquinhos, absorver com cuidado. SUPER recomendado, mesmo pra quem não é tão fã de literatura fantástica! É o tipo de livro que não dá pra deixar de ler!
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De Cara Nas Letras 26/08/2015

Cira e o Velho - Walter Tierno
Cira e o Velho, inspirado no Brasil do século XVII, se baseia no folclore brasileiro e vai nos contar a lenda das cobras Norato e Maria Canina, nascidas da união de uma jiboia com uma jovem aldeã. Os irmãos cobras não se davam bem já que Canina não tinha a inocência de Norato e com inveja foi se acolher nos braços do Rei da Mentira em troca de poder, jogando um feitiço que iria tanto prejudicar ela quanto ao irmão, sendo essa a sina de gêmeos; pagar com a mesma moeda.

Maria Canina muito má e com a vontade de acabar com o irmão, contrata o sertanista Domingos Jorge Velho (O Velho) e sua gangue a troco de muito ouro para dizimar todos os filhos que Norato teve quando se transformou em homem. Proposta aceita, o bando segue com a sua parte do acordo. Cira, filha da bruxa Guaracy (a amante mais querida por Norato) é uma das vítimas, mas o que o Velho não esperava era que sua mãe jogaria um feitiço para salvar a filha, fazendo com que Cira, depois de recuperada do ataque, parta em busca de vingança.

Mas o livro não fica só nesse lado, já que nos dias de hoje, o narrador é um obcecado por figurinhas de álbuns e sente uma forte atração pela figura de Cira, tanto é que com sede de conhecimento, procura informações sobre essa lenda e encontra dona Nhá, uma senhora conhecida pro realizar partos, muito velha que diz ser a responsável por curar a filha de Norato do feitiço que a mãe lançou.
Mas como seria possível uma velha ter passado por tantos anos sem morrer? Como ela teria ajudado Cira a se recuperar? E a vingança de Cira, teria dado certo? Maria Canina e O Velho sairiam impunes dessa façanha?

O escritor e ilustrador, Walter Tierno tinha escrito Cira e o Velho com o proposito de ser um roteiro para um quadrinho, no entanto a ideia foi desviada de foco, e o roteiro se transformou em um livro ricamente construído. Ele aborda as lendas do nosso folclore com uma escrita madura e fácil em capítulos curtos e cheios de reviravoltas, sendo narrado em primeira pessoa, pelo colecionador de figurinhas que não revela sua identidade.

O grande forte do livro é realmente esse tema que raramente é visto em muitos dos livros contemporâneos nacionais, apesar de sermos brasileiros, muitos preferem focar em outras culturas, trabalhando em assuntos até mesmos desconhecidos para si. Mas em Cira e O Velho não acontece isso, todos os costumes transpassados durante a leitura são genuinamente nossos, podemos até não concordar com algumas atitudes dos nativos da época (aqui entra costumes, crenças religiosas e tudo o que permeia esse âmbito cultural), mas notamos que o autor consegue trabalhar bem o assunto e teve uma pesquisa por trás disso o que acaba desmistificando e trazendo novas lendas e até mesmo uma nova visão ao conhecimento do público que foi atingido pelos livros do Monteiro Lobato. Pela violência contida em Cira e O Velho e o seu tema mais pesado, não se trata de um livro para crianças.

É uma leitura bem rápida, mas como disse, rica. Se você adora um livro que tenha essa parte de vingança que instiga a leitura mais a magia de seres da natureza e que te prende rapidamente, garanto que Cira e O Velho é um livro que merece um espaço na sua estante.

Att,
Pedro Silva

site: www.decaranasletras.blogspot.com
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kunstkato 13/06/2013

Valeu cada centavo.
Um livro excelente.
Comprei com o próprio Walter e ele me deixou um comentário "Não acredite no velho, ele mente". E eu quase acreditei.
Domingos - o velho - é o personagem mais autêntico desta história. Realmente acreditei em todos os traços característicos descritos. Cheguei até a vê-lo como um cangaceiro, só que um pouco mais robusto.
Gostei também de dona Nhá, mas não consegui imaginá-la mais nova.
E gostei muito da descrição da morte. Muito diferente do que já li.
Um história muito boa e muita vingança nos corações destas criaturas.
Me lembrou um pouco C.S. Lewis em relação aos animais e as falas.
Mergulhei de cabeça a cada palavra que entrava em meus pensamentos. Vi e vivenciei [onipresente] todos os fatos e acontecimentos.
Gosto do livro que me faz acreditar no que leio. Que me leva a outro mundo enquanto folheio as páginas e, quando volto, sinto que estive lá, que senti os personagens.
Este livro fez isto. Estou muito feliz em poder ter lido.
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Tânia Souza 12/09/2011

As forças das lendas, dizem, está em quem as espalha
Cira e o Velho é um dos livros mais legais que tive a oportunidade de ler este ano. A linguagem límpida e econômica do autor, mesmo em trechos com maior trabalho de descrição, dá agilidade sem perder o foco nos detalhes importantes. Ser preciso sem ser raso é muito bom. Ah, ainda quanto ao aspecto físico do livro, além da capa belíssima, é ilustrado com traços que podem ir do sombrio à leveza. Aliás, são muito bonitos os desenhos que Walter faz nas dedicatórias dos livros.

Quanto a trama em si, como indica a sinopse, muitas batalhas terão lugar nesta aventura, assim como traições, enigmas e eventos surpreendentes. Ao leitor caberá a delicia de descobri-los. Homens de além-amar, guerreiros dos Palmares e criaturas do folclore nacional sob um prisma inovador permeiam estas páginas. O mito está presente, mas nem sempre como o leitor espera. E não apenas alguns, vários deles. Destes eventos e aspectos aventurescos, não farei maiores comentários. Por hora, contento-me em estar com estes personagens tão cativantes, transitando entre os caminhos ainda não desbravados de uma terra nova, cheia de possibilidades e disputas, até o frenesi contemporâneo dos grandes centros.

Então, é hora de começar. Mas...

“Mas por onde começar?”
“Por onde, então? Por Norato ou pelos pais de Norato e Maria Caninana? Talvez pela mãe de Cira?
Ah, sim... por que não? Comecemos por um lugar comum: todo grande herói, ou heroína, precisa de um vilão, ou vilã, a altura.
Comecemos pelo Paulista.”

Boa escolha, caríssima figura narrativa. Gosto da idéia de começar pelo Paulista. Mas também gosto de subverter a ordem.

Começo por... você.

Que nos cativa e surpreende. O foco narrativo do romance alterna-se em primeira e terceira pessoa de forma muito interessante. Entretanto, com suas viagens e pesquisas, com sua obsessão por Cira, quem nos conduz pela trama narrativa? Além de diferentes fontes e mais 50 horas de gravação e cinco cadernos de anotações, não exatamente transcritos, é sempre por suas palavras que adentramos no fascinante universo de Cira e o Velho. E sua figura se concretiza com carinho para mim, devido ao passeio que oferece.

E a seu convite, também eu “quero falar sobre Cira”.

Esta Cira dos olhos negros e vividos tem em si resquícios de sereias no falar.

“Ouvir o riso de Cira era andar nos domínios da loucura e da luxuria” (p. 109)

A personagem me lembra uma tempestade: é afoita, é valente e ao mesmo tempo, carente, tem uma certa meiguice que se torna impossível não gostar e torcer por ela. De fato, a filha da bruxa Guaracy e de Cobra Norato não é uma garota comum. O que esperar de uma moça vestida em couro escamado e vermelho escuro, cabelos negros que se movem ainda que o vento esteja ausente e que carrega nos ombros um crânio que... que... (bem, deixo ao leitor o prazer da descoberta). Bom senso? Nada, é guiada pela paixão e pelo impulso. Humana. Ou quase.
É Cira.

Entretanto, foi marcada pela violência e sua meta principal é a vingança. Aliás, a vingança é um dos motes da narrativa. De uma forma ou de outra, está sempre presente. Mas entre as paixões que permeiam o romance, a ganância é, com certeza, a mais cruel.

Cira tem tanta alegria quanto ódio e sede vingança. E no seu caminho, surge uma figura que, além de essencial a ela em vários momentos, encanta não só a Norato e a Cira, encanta principalmente o leitor. Estou falando de Nhá.

“Meu... meu nomi. Ié Nhá, sim sinhora.”

Nhá. Dela, devo dizer que é uma querida. Sim, eu a adorei. Com sua simplicidade e sabedoria, quase imagino os olhos arregalados de espanto, ou não, conforme o que a vida lhe apresentava. Nhá nos aparece quase assustadora. Ancestral. E o era, de fato. Mas transita de criança a mulher, de menina a velha sábia com uma velocidade surpreendente, mas bem coerente. E seus olhos contam da vida vivida além do comum. Olhos de quem aceita o inusitado e a magia com naturalidade.

Na sua busca por vingança, Cira, na maior parte do tempo acompanhada por Nhá, irá perseguir este que nos foi apresentando no principio: o Paulista. Domingos, O Velho, como era chamado pelos capitães. Pai, como foi chamado pelos índios. Este que era apenas “o mais eficaz e eficiente caçador de gente.” Acompanhado por um exército composto por índios e mamelucos armados, e ocasionalmente, por outros capitães, era temido e odiado. A descrição do personagem feita por Walter Tierno não poderia ter sido mais precisa, nos apresenta visualmente, ainda que com palavras, essa figura tão complexa cujo sorriso poderia ser mais terrível que a ferocidade natural de um rosto marcado. Afinal... “Tudo em seu rosto era assustador. Quando sorria – o que era raro – provocava aqueles arrepios que sobem pelas costas em morrem num espasmo no alto da cabeça.” O Velho era um guerreiro guiado pela ambição, sem espaço em si para sentimentos além da luxuria, do ódio e da sede de sangue. E seu caminho será marcado pelo desejo de vingança que ferve no coração de Cira. Gostaria de falar mais do Paulista, mas seria spoiler demais, apenas dele devo comentar a força, a esperteza e o inusitado. Ah, e claro, a extrema crueldade.

“Domingos fechou a boca, que ficara escancarada durante o linchamento de que participara, e engoliu saliva grossa, misturada com o sangue de alguma das crianças.”

Mas que distração a minha. Falei de Cira. De Nhá. Do Velho. No entanto, dois irmãos, duas criaturas fascinantes do nosso folclore merecem atenção especial: Cobra Norato e Maria Canina.

Cobra Norato é vermelho como a paixão que inspira. Maria Caninana é branquíssima, assim como Cira. Enquanto um é alegre e apaixonante, a mágoa, a crueldade e o desejo de vingança (sim, mais uma vez, ela corroendo os destinos) marca a vida de Maria Caninana. Acho que já da pra imaginar, mesmo para quem não conheça a lenda, que os dois são criaturas serpenticas com um raro dom: metamorfosear-se em humanos. Sedutores, fascinantes e capazes de magias indescritíveis. Repletos de paixões tão presentes nos seres comuns. E fraquezas que nem sempre conhecem.

Além deles, outros personagens desfilam nas teias narrativas. O Caraíba, primeiro intermediário entre Caninana e O Velho. Guaracy, a linda bruxa mãe de Cira, que fascina até mesmo o inconstante Norato, parente de sereias e conhecedora de feitiços cujos preços são altíssimos. O Senhor das Mentiras, que manipula e joga para sempre conseguir o que deseja. Tabatinga, guerreiro e valente, um dos outros filhos de Norato. As sete noivas, tão perdidas de suas individualidades que assim são chamadas, e que ainda assim, me comoveram e surpreenderam. A Morte, que surge como uma apaixonante e birrenta menina.

Criaturas místicas e folclóricas. Sereias, lobisomens, mboitatás, guardiões das matas, princesas, cidades perdidas e tesouros inimagináveis. Árvores tão antigas que se movem e falam aos que ainda sabem ouvir. Os fascinantes reis dos animais: o Rei Tatu, o Rei dos Tamanduás, o Rei-urubu e o Rei-gavião.

O que eles vivenciam juntos? Somente lendo para descobrir.

Um outro aspecto que chamou bastante minha atenção é a musicalidade presente no texto. Explico: o texto apresenta trechos quase sinestésicos e passagens poéticas 'pra mais de lindas', como esta: “Do rio, saiu uma linda mulher, feita de carne e música.” O sinestésico vem mesmo a misturas de sensações, cores, sabores e principalmente sons. A magia das criaturas intensifica e age nos sentidos humanos de uma forma muito interessante.
“Ouvir a música do urubu-rei era como tomar um vinho muito quente em um dia muito frio e senti-lo aquecer todo o corpo, despertando uma energia estranha abaixo do umbigo. Nhá a sentiu. A sensação veio de sua barriga, subiu pelo seu peito, espalhou-se pelos braços, formigou nas pontas dos dedos... veio-lhe uma vontade danada de chorar. Não de tristeza, nem de alegria, mas de êxtase (...) não demorou que seu êxtase se transformasse em puro medo.”

Cira e o Velho é um romance que desmistifica o aspecto lúdico que tomou conta do folclore nacional. Reinventa os mitos. É sombrio, repleto de batalhas e cenas violentas em vários aspectos. É também de histórias de pessoas, plenas de paixões e atos inconsequentes, como deve mesmo ser. E neste caso, também o são as criaturas mágicas. Porém, não é apenas de sombras que esta história é feita, uma saga divertida, emocionante e bastante surpreendente.

“As forças das lendas, dizem, está em quem as espalha”

Pois mais uma lenda me ganhou definitivamente, confesso, adoraria ler mais sobre Cira e os personagens maravilhosos que estas páginas me proporcionaram conhecer.
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Jane.FAlix 11/10/2022

Obra de estreia de Walter Tierno, Cira e o Velho, conta a história de um homem obcecado por Cira desde a infância. Cira é uma personagem folclórica filha de uma bruxa chamada Guaracy com o Cobra Norato.

Diz-se que matou a princesa da grande cidade perdida e libertou os tatus. Em algumas regiões, conta-se que lutou contra um bando de lobisomens e que participou da guerra dos Palmares, lutando ao lado de Zumbi?.
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Nika 10/09/2011

Desde que comecei a me aventurar a escrever, não nego a ninguém a minha defesa de que é possível fazer boa ficção com cenários e elementos brasileiros. Não se trata de bairrismo e nem tampouco de desmerecer uma literatura viajante. É apenas uma afirmação em meio a um certo colonialismo literário ou aquela tendência novelesca de que só o exterior é rico o suficiente para fornecer inspiração. Isso é mais forte se a gente olha para os livros de fantasia cheios de inspiração medieval, terras médias e muito fog inglês. Novamente: não estou desmerecendo este tipo de obra, não é o cenário que mede a qualidade de um livro, apenas, esta é minha afirmação: dá sim para escrever um ótimo livro de fantasia usando elementos próprios da cultura brasileira!


O problema é que quando se faz uma afirmação destas, nossa mente voa direto para as aulas de folclore que se teve no colégio ou as de Cultura Brasileira em alguns cursos universitários ou, o pior de tudo, vai direto até às novelas e especiais da Rede Globo. Isto, obviamente, é alimento para preconceitos, com tudo o que os PRÉ-CONCEITOS têm de ruim. Alguns desses?

Uma distorção do que é cultura brasileira. Com base nos conceitos prévios que hoje chegam mais facilmente à maioria das pessoas, tem-se a impressão de que cultura brasileira é uma mistura carnavalesca, colorida e alienada de invencionices regionalizadas e tornadas nacionais a formão. O trágico parece pueril ou diminuto e limitado. É interessante como nossa ideia sobre o que é um imaginário mitológico rico precisa ser jogada para fora de nós. Enchemos a boca para falar de mitos gregos ou nórdicos e nos afundamos neles para “nos entender” e inspirar. Mas, primos pobres, do Brasil e sua riqueza mitológica e histórica pouco tiramos. Tratamos nossa mitologia como nossa sociedade trata as crianças de rua: é pobre, não vai crescer, não tem brilho, melhor evitar e esquecer.

Para que não me acusem de hipócrita, digo desde já que estudo mitologias (grega, nórdica, etc) com grande entusiasmo e desde muito tempo. De fato, meu presente de 10 anos de idade foi um Dicionário de Mitologia (sem desenhos) Greco-Romana. Então, novamente, não se trata de um manifesto nacionalista, mas do trabalho com as possibilidades imaginárias de um universo muito, mas muito mais rico do que se tem admitido enquanto nos encantamos com castelos. (Não que os castelos não sejam dignos disso, apenas, não são somente eles que são.)

Essa distorção não cai somente em cima do edifício da cultura e do folclore. Cai também sobre a história. Caso você não tenha percebido, a história está na moda. Mas qual história? A que tem feito a fortuna de alguns divulgadores é aquela que pode ser tornada anedota. Não teria problema se, em muitos casos, não estivesse também absolutamente equivocada (não estou nem falando de interpretação dos fatos, estou falando de fatos mesmo). Mas isto é tema para outro comentário. E nem era de nada disso que eu queria falar aqui.

Eu quero falar de Cira...

Sim, parafraseio o autor sem nenhuma vergonha, pois este começo é o que te joga num livro devorador e devorável. Terminei-o em 3 dias. E não, não é um livro de mistério, embora tenha algum. Mas isso, nem de longe é o mais importante. Cira e o Velho tem o gosto de um dos meus velhos livros de mitologia. Nada carnavalesco, embora colorido. Cheio de tragicidade, mas nada pueril. É fundado na mitologia, na cultura popular e na história brasileiras. Tem iaras, lobisomens, cobras que se fazem gente, bruxas que controlam árvores e são árvores. E, nada disso é infantil, ou gratuito, ou inverossímil. A arquitetura da história é perfeita. Ela te envolve e transcende o ordinário, como a boa ficção fantástica tem de ser. Em nenhum momento me peguei pensando: “mas, como?” Estive completamente convencida por todo o tempo. Em outras palavras: o texto fez a mágica. Como diz Milton Hauton, “a tarefa do escritor é nos convencer de que o que lemos podia ter acontecido”. E foi o que aconteceu. Cira e sua família entraram no meu panteão.

Walter Tierno – que também é ilustrador – estréia como autor de literatura fantástica num romance de personagens absolutamente encantadores. De heróis que cometem erros e vilões afundados na própria soberba. De animais que falam, mas com uma personalidade tão própria que, certamente, você perceberá que não está em Narnia. De homens que lutam pelo comando de uma terra que, ela própria, é também um personagem oculto, mas forte e presente. É também violento e a prosa crua, nestes momentos, consegue te transportar a tempos ainda “mais hereges” (como diz o avô do Guto) que os nossos.

Como leitora chata que sou, não direi que o romance mantém o encanto por 100% do tempo. Foram 99%. Mas isso pode ser pessoal. Impliquei com uma ou duas passagens que o autor parece render-se a imagens mais próximas ao HQ. Nada que desmereça o livro, nem mesmo a passagem em si, são apenas algumas frases que já tinha se formado na minha cabeça e não seria necessário lê-las.

Mas, mesmo isto, vem antes de Cira. Porque, veja, é muito difícil manter o discernimento depois que Cira aparece. A pequena feiticeira (isso é por minha conta, e já explico porque) ilumina o livro. É difícil não se encantar por ela, não desejar ouvi-la ou saber sobre as coisas que ela quer fazer. Ela domina o livro e, claro, seu autor, que passa às suas mãos, assim como os leitores. Como só acontece nos bons e não-abandonáveis livros. O feitiço de Cira é com quem lê e não dentro do livro, onde sua magia é mais pressentida que usada.

Dos outros posso dizer que: apaixonei-me por Cobra Norato, quase como uma de suas inúmeras amantes. E toda vez que alguém chamar outra pessoa de Caninana na minha frente, isso terá um sentido mil vezes pior.

O Velho? É um personagem incrível. Desprezível. Odiei-o cada segundo. Como teria de ser.

É interessante que o Walter, ao me dar seu autógrafo no Fantasticon, tenha referido o Velho (e foi o autógrafo mais legal que já vi). Talvez, no meu caso, o aviso devesse ser outro: Cuidado! Cira é feiticeira e você é presa fácil.
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Salatiel Júnior 06/11/2010

Resenha do Blog "Me, MyShelf and I" - Cira e o Velho
Olá mais uma vez pessoal! =D

O livro que resenharei hoje se chama Cira e o Velho, do autor parceiro Walter Tierno, lançado este ano pela Giz Editorial. O design do livro ficou ótimo e, além da capa super legal, há imagens do mesmo estilo no decorrer do livro.

A estória principal de Cira e o Velho se passa no final do século XVII, na época colonial, com capitães do mato e escravos que fugiam para os quilombos, dentre os quais o citado no livro é o Grande Quilombo, o de Palmares.

Eu digo estória principal porque, paralelamente à estória de Cira, o narrador do livro também fala de suas "peregrinações". É válido ressaltar que ele é alguém vivente dos tempos atuais. E, sem ter achado muito sobre Cira (por quem ele é fascinado) nos livros, procura provas vivas da jornada dela. Com a ajuda destas testemunhas, ele vai desvendando as situações vividas por esta guerreira.

- Que esta criança cresça forte e afiada. Que domine o tempo e a vida, tornando-se um tributo de seus pais a estas terras, leitos de minhas águas. Que seu nome seja Cira.


É muito interessante como o autor mistura história do Brasil com folclore. Desta maneira, escravos fugitivos encontrarem o Guardião da Floresta não é algo inexistente e incomum. Além do famoso Curupira, você se deparará com sereias, mboitatás e os sábios (mas nem sempre de bom caráter) e falantes animais-reis.

Leia a resenha completa: http://bit.ly/a2XWtR
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Kyanja 16/01/2012

Impressões sobre uma narrativa acima da média...
Com escrever uma resenha, quando várias outras já foram escritas, sem ser repetitiva? Já aviso que não farei um resumo da história, ou seja, uma sinopse (acredito que muitos elaboraram excelentes sinopses).

Escreverei sobre as impressões que a narrativa de “Cira e o Velho” me trouxeram.

Primeiro, o autor já consegue nos conduzir à trama e compartilhar conosco de sua obsessão por Cira, a protagonista que dá título à história e ilustra a capa deste livro. Gradativamente, nos torna cúmplices das informações que coleta desse personagem, descoberto por meio de uma imagem de figurinha de colecionar em um álbum sobre lendas brasileiras.

A primeira pessoa com quem trava conhecimento e troca informações sobre Cira é a velha Dona Nhá. Impressionante a capacidade do autor de descrever cenas e personagens de maneira econômica, mas projetando imagens na mente do leitor! Sua habilidade com as palavras é a mesma com que traça suas ilustrações: segura, precisa, sem desviar do que é ideal para continuar a prender o leitor mais e mais na continuidade da história. Ele me fez sentir “ouvindo” um causo regado a um bom café, como o oferecido pela hospitaleira Dona Nhá, de tão fluida se torna a leitura.

O leitor mais atento perceberá que em cada página será contemplado com frases de efeito, que explicam muito a causa de algo em função de outra. Exemplos: “Bati à porta, que abriu com um rangido, mas não sei se o som vinha das dobradiças ou dos ossos da velha que se apresentou à minha frente.” Ou: “O riso de Cira adulta era como o som de uma cuíca que tocasse uma sinfonia, o som de um exército imbatível, com uma pitada de prazer e glória. Era assustador, envolvente e magnífico como uma tempestade que limpa toda a vida, deixando apenas areia, brisa e solidão. (...) Ouvir o riso de Cira era andar nos domínios da loucura e da luxúria.”

Vou expressar aqui uma opinião que pode parecer loucura, e talvez até desmentida pelo próprio autor. Mas Cira é uma personagem tão apaixonante, descrita como um ser sem reservas, pudores, preconceitos ou moral (pelo menos, a moral convencional à qual a maioria fica presa), que me remeteu a uma personagem de Monteiro Lobato das histórias ambientadas no Sítio do Pica-Pau Amarelo, lidas por mim há várias décadas: a boneca Emília. Imagino que se Emília fosse de carne e osso e beneficiada pelos hormônios femininos, acabaria se tornando uma espécie de Cira...(risos). Acho que viajei agora, hein? Mas isso é culpa de Walter Tierno, que conseguiu isso.

Somente no final (mais uma vez o autor não brinca em serviço ao exigir mais de seu leitor) é que, numa leitura atenta, revela-se a identidade do narrador. Recurso magistral, digna de um mestre na arte de contar histórias!

Se você é um leitor exigente e quiser sair da mesmice, leia "Cira e o Velho". Garanto-lhe: Leitura de qualidade do início ao fim!
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Thyeri 24/02/2012

www.restaurantedamente.com
Em Cira e o Velho acompanhamos um repórter na realização de um sonho de criança: conhecer mais sobre Cira, uma personagem folclórica, que desde que a viu pela primeira vez, quando brincava de bafo e pegou a figurinha que continha Cira. Desde então ele vem colecionando tudo a respeito da personagem, até que decidiu ir mais além e buscar mais histórias sobre ela.

Ele embarca para um vilarejo à procura de Dona Nhá, anciã, ex-escrava, e detentora de inúmeras histórias, dentre elas a de Cira. Não sabia ele que Dona Nhá viveu com Cira uma boa parte de sua vida, e a acompanhou em sua vingança para com Domingos, um sertanista, mais conhecido por Velho.

Nhá, então, nos conta como tudo aconteceu, desde a relação entre Cobra Nonato com a bruxa Guaracy e o consequente nascimento de Cira, ao episódio em que Guaracy e Cira ficam presas por conta do Velho, e o renascimento de Cira para se vingar. Assim Nhá conta sua história, em como se envolveu nessa vingança, seu amor por Nonato e sua amizade com Cira.

Fiquei impressionado com a escrita do Walter. A não linearidade de sua história e a forma com que ele nos apresenta os personagens foi magistral. A cada novo personagem fomos, primeiro, apresentados à sua história pessoal para, em seguida, sabermos seu envolvimento com a trama principal do livro. E as ilustrações no decorrer do livro são muito bonitas, tanto elas quanto a capa foram desenhadas pelo próprio Walter.

Por não ter costume de ler nada voltado para o folclore nacional, foi uma nova sensação de leitura que eu espero experienciar novamente. Acho que Cira e o Velho é um livro que estávamos precisando, um resgate aos elementos de nossa cultura.
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Ni 17/07/2021

Eu tive muitas dificuldades para escrever essa resenha porque eu gostei do livro e, ao mesmo tempo, não gostei.

No meu ponto de vista, Cira e o Velho é sobre o ciclo da violência, na qual atos de violência trazem mais violência. No começo, eu entendia que era uma época em que as pessoas precisavam proteger a si mesmas por não viverem em uma sociedade como a nossa, porém, no meio do livro, eu comecei a ficar cansada dessas reações e fui ficando cada vez mais incomodada.

As lendas indígenas retratadas na estória foram interessantes. Não pesquisei para saber se são de alguma tribo específica ou se foram inventadas pelo autor, mas, mesmo assim, não deixam de ser interessantes.

E, o final, me surpreendeu bastante. Mesmo que tenha terminado com muitas dúvidas sobre o que aconteceu nas últimas páginas, foi um final que eu não imaginava e adoro finais assim.
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Ôcaravéio 11/04/2012

Cira e o Velho.

É a veia da literatura latino-americana que introjeta o realismo fantástico nas letras, mixando a história do Brasil em seus momentos de gênese representados pelo Quilombo e pelas Bandeiras com o surrealismo da marcante mão de Walter Tierno.
Magia, história, muita brasilidade num território conhecido em locações Pernambucanas, Paulistas e Cariocas.
Cira e o Velho cativa pela estrutura bem montada, pelo desencadear cinematográfico fruto de um ótimo roteiro.
Walter, um escritor que leva a sério seu artesanato com profunda pesquisa, com informações precisas nos detalhes. As ilustrações, ótimas por sinal, deveriam estar guardadas para a versão em quadrinhos. Nós leitores, gostamos de ter nosso próprio diretor de arte. A velha briga entre a imaginação do leitor e a ilustração. Quando a gente cresce, vira purista. Ou é HQ ou literatura.
O tipo, a fonte podia ser outra. Essa está espichada.
O livro de Walter Tierno vale cada real pago por ele. É literatura de primeira. A estória pega o leitor no primeiro parágrafo e o segura pela gola da camisa só o soltando na última página, sem parar, é impressionante.
Cira e o Velho orgulho de ler escritor brasileiro tão bom quanto Walter Tierno.
11/04/2012
Walter Leite.
(http://walterleiteratura.blogspot.com)
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danilo_barbosa 01/12/2010

Mulher guerreira, valente e mulher. Em sua voz ecoa todo a revolta e beleza do mundo folclórico brasileiro.
Em Cira e o Velho, de Walter Tierno (Giz Editorial, 232 páginas) os nosso folclore se indígena e amazônico se mistura, dando o toque que nossa literatura precisava.
Guerras, paixões, sangue, alegria e dor povoam esta página que mistura história e fantasia contando a história de Cira, a rainha guerreira, filha da feiticeira Guaracy e de Cobra Norato. Por causa de sua maldosa tia, Ana Caninana, Cira perde sua mãe e é deixada para morrer pelo bandeirante Domingos Jorge Velho.
Mas a nossa forte heroína foge da morte e busca a vigança da dor de perder quem ama. E nesse caminho as lendas que conhecemos desde criança de misturam com a história cruel e de coragem do povo brasileiro.

Veja resenha completa no Literatura de Cabeça:
http://literaturadecabeca.blogspot.com/2010/09/cira-e-o-velho.html
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