Resenhas -

Davi Busquet 10/10/2020

Nos confins da imaginação
Fantasia e ficção científica, uma porta para diversos mundos, personagens cativantes e desfechos inesperados — assim é a nova antologia da WE Coletivo Editorial. A inventividade de cada autor, aliada à proposta de uma coletânea singular, é o que faz desse livro uma obra digna de ser apreciada.

>> A era dos princípios (André Gouveia): Uma releitura fascinante e apaixonada do relato bíblico acerca do livro de Gênesis. Ao contrário do original, no conto, antes do verbo vieram um homem e uma mulher, e com eles, a vontade, a aproximação e o amor. E mesmo que esse amor possa trazer a morte e a destruição, o autor nos mostra que sempre haverá a vida e o recomeço.
>> Expresso turístico (Cecilia Bortoli): Mariana, escrevendo uma esperançosa carta para sua amiga, Amélia, relata suas experiências num longínquo mundo futurístico, cujo governo opressor, mais do que simplesmente a liberdade, roubou das pessoas sua realidade, transformando-as em seres invisíveis e sem rosto, ou simplesmente distantes demais do amor para se lembrarem como é ser feliz.
>> Portos piratas e pudins passados (L. P. Araujo): Um mundo de nuvens, portos flutuantes e navios que deslizam nas alturas, impulsionados pelos ventos e motivados por tesouros oriundos dos diversos planos e dimensões que ali se encontram. Lá, Edgar encontrará sua velha amiga, a capitã Romina, e relembrará os encontros e desencontros desse casal de amigos.
>> Única fuga possível (Alexandre Sant'Ana): A curta vida de uma menina nos mecanismos restritivos e padronizados de um mundo-asteróide — este administrado por poderosas corporações e interesses econômicos escusos — ensina não só sobre a mecanicidade do trabalho, mas também sobre a importância da educação e do pensamento crítico e humanista.
>> O glorioso império galáctico (Luis Felipe Mayorga): O orgulhoso povo urawathiano, uma vez que tomou conhecimento dos seres humanos e do risco que eles representavam para o universo, não pensou duas vezes antes de enviar sua poderosa armada espacial. Contudo, eles não consideraram que nós, seres humanos, teríamos à nossa disposição o meio mais eficaz de se ganhar uma guerra.
>> A canção de Eos (Milles Gattis): Não é de hoje que o ser humano sabe das consequências de seus atos para com a natureza e da necessidade iminente de se reconciliar com a mãe-Terra. No mundo de Eos — o qual a Terra viera a se tornar —, aos que restaram da humanidade, vivendo em cavernas e sobrevivendo graças a sobras, logo será revelada a verdade maior sobre o mundo além de suas paredes de pedras e lendas.
>> Os cavaleiros de Ael: a realidade que nos molda (Samuel Soares): O caçador élfico Daleon e seu companheiro, o humano Wiloy, numa aventura que envolve magia, memórias e flashbacks, testam os limites de suas motivações e paixões, compreendendo muito mais sobre a realidade que os cerca, conectando passado, presente e futuro numa única trama de fantasia.
>> Leoas também choram (Daguito Rodrigues): Ao aterrissar no posto de controle lunar, o último antes de chegar à Terra, Nagoia, depois de muitos anos de trabalhos sofridos nos mundos distantes de seu planeta-natal, se depara com um problema que poderá impedi-la — e aos seus dois filhos — de finalmente retornar ao seu lar.
>> Meu reino por um cento (Paulo Florindo): O conto, através de um conceito bem abstrato, uma boa dose de humor e jogos de palavras inteligentes — e cheios de mensagens nas entrelinhas —, faz uma incrível alusão aos problemas reais e irreais de um reino cem por cento baseado na notação decimal.
>> A lâmina do clérigo (Tomas Rhoga): Quando pensamos num sacerdote executando seus ritos de exorcismo, jamais imaginamos que a maneira que ele conduzirá a tarefa será como a do clérigo José — com suas duas afiadas facas e uma incomparável habilidade no combate às criaturas demoníacas.
>> Histórias de escudeiro (Luana Cruz): O pequeno planeta Ihbrid, distante alguns anos-luz da Terra, abriga uma vastidão de possibilidades, e é durante suas peculiares estações — Aren, Enocé, Trevi e Ikan — que Liane vive suas aventuras de auto-descobrimento e desenvolvimento, definindo a si mesma e a sua maneira de enxergar o mundo.
>> No fim do horizonte (Roberto Schima): Uma humanidade abrigada no longínquo planeta-órfão Dédalo, uma nave-colônia operada por dois avançados andróides e um encontro nos confins da galáxia com um objeto tão antigo quanto o universo — assim é a visão de Schima sobre o futuro e o inesperado ficcional neste conto incrível.
>> O eclipse da moeda (Atlas Hutton): Hans vem de uma longa linhagem de ladrões e golpistas e, é claro, com ele não será diferente. Embora nesse futuro não haja mais a moeda física, não há porque não se aproveitar do sistema para lucrar um pouquinho a mais.
>> Reconciliação (Vitor Takayanagi): O pós-vida é um mistério que permeia todas as crenças e religiões no mundo inteiro ao longo de toda a história humana. Mas e como seria com os elfos? Talvez, não muito diferente do nosso próprio modo de ver a vida, após ela seja o momento para se perdoar e seguir em frente.

Ainda que o assunto não se esgote nessas meras palavras, vale dizer que cada conto, ao seu modo, procura transmitir uma mensagem, trabalhar um conceito e sentimento, ou simplesmente maravilhar com as mais diversas abstrações da mente de seus autores.

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