Katia Rodrigues 02/12/2021
"A justiça não chegou"
Carlos de Assumpção tem afirmado sua identidade e sua luta através de sua poesia, transparente e limpa, direta e certeira, que assim como em certas parábolas, escode complexas alegorias, interpretações históricas e sutilizas psicológicas.
"Sou apenas um homem
Lutando em seu quilombo de palavras
Apenas um homem
Tentando interpretar anseios e esperanças
De todo um povo desprezado explorado
Que um dia há de se levantar"
Nas últimas décadas, a poesia engajada, aquela que se coloca a serviço de uma causa político-ideológica e procura ser uma arte de contestação, de grandes nomes como Castro Alves (poeta ligado à causa abolicionista), tem sido levada adiante por poetas como Assumpção.
"Aquele que sustentou
Sobre os ombros negros e fortes
O progresso do país
O que sofrera mil torturas
O que chorara inutilmente
O que dera tudo o que tinha
E hoje em dia não tem nada
Mas hoje grito não é
Pelo que já se passou
Que se passou é passado
Meu coração já perdoou
Hoje grito meu irmão
É porque depois de tudo
A justiça não chegou"
Agora, não mais uma luta pela abolição, mas, antes de tudo, pelo reconhecimento do preconceito racial, cultural, da desigualdade de oportunidades, da discriminação social enraizados em nossa sociedade.
Assumpção merece ser lido e reconhecido como um dos grandes.
"Mas irmão fica sabendo
Piedade não é o que eu quero
Piedade não me interessa
Os fracos pedem piedade
Eu quero coisa melhor
Eu não quero mais viver
No porão da sociedade
Não quero ser marginal
Quero entrar em toda parte
Quero ser bem recebido
Basta de humilhações
Minha alma já está cansada
Eu quero o sol que é de todos
Quero a vida que é de todos
Ou alcanço tudo o que eu quero
Ou gritarei a noite inteira
Como gritam os vulcões
Como gritam os vendavais
Como grita o mar
E nem a morte terá força
Para me fazer calar"
Ig: @ingrisias