spoiler visualizarNicoli 13/06/2024
Alice no País das Maravilhas
Com pequenas frases e reflexões, Alice no País das Maravilhas nos insere em um mundo extremamente fantasioso e, ao mesmo tempo, tão verossímil quanto qualquer outro. O enredo se dá início com a queda da pequena Alice em uma toca de coelho, que de lá a leva a conhecer um universo completamente diferente daquele que a cercava anteriormente, com animais falantes, comidas e bebidas que tinham a capacidade de mudar seu tamanho, gatos sorridentes, jogos de críquete com flamingos como tacos e ouriços como as bolas.. mas a maior diferença era que nesse lugar desconhecido, as regras e conceitos não se aplicavam de forma alguma, fazendo não só Alice, mas seus leitores refletirem sobre o que são e o quão supérfluos são os costumes e regras que são seguidos vigorosamente sem motivo aparente.
Assim, durante o desenrolar da história, é possível a análise de diversos conflitos causados por essa diferença de pensamentos entre as personagens, que por um lado questionam(e até mesmo se sentem ofendidos) pelo modo de agir de Alice, enquanto esta faz o mesmo com eles. Porém, apesar de tantas disparidades, ambos os mundos possuem suas semelhanças, como por exemplo o uso do autoritarismo de Rainha Vermelha para com seus súditos, o pensamento tanto crítico como alienado, as reuniões familiares dos animais(como jogos e festividades) e o convívio - quase harmônico - apesar dos tipos de espécies e raças.
Entretanto, o que realmente me encantou durante a leitura dessa obra foi a capacidade de Lewis Carroll de com esses artifícios e ambientações poder nos impactar tanto com diálogos que aparentemente são insignificantes: a questão da identidade de um indivíduo, a dualidade entre os caminhos escolhidos durante a vida, a passagem do tempo, a ousadia de discordar do outro e o entendimento acerca da autonomia dos seres.
Em poucas páginas, esse livro nos conecta com personagens e temas inusitados até seu fim, no qual Alice acorda de seu "sonho estranho" e percebe que terá de viver em um mundo monótono, podendo apenas compartilhar suas experiências com os mais jovens, se compadecendo com lembranças tristes e se alegrando com as boas, relembrando de suas aventuras de verão da sua infância. No final, Alice é igual a todo ser humano, que é forçado a amadurecer e deixar de lado a imaginação e júbilos de acontecimentos fantasiosos para viver em um mundo enfadonho, no qual estamos fadados ao mesmo destino: a morte.