O Guardião de Livros

O Guardião de Livros Cristina Norton




Resenhas - O Guardião de Livros


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Jairo 07/12/2012

Viagem pelo Rio antigo
O principal atrativo deste livro é acompanhar a trajetória de Marrocos pelo Rio de Janeiro antigo... Ler os detalhes da arquitetura, da vida do povo, da maneira de viver à época... Tudo neste livro faz com que sejamos remetidos para esta cidade... Marcou muito a passagem onde os recém chegados de Portugal contam sua impressão sobre esta terra.
Frases que marcaram:

"À medida que a fragata se aproximava do Rio de Janeiro, Luís, que tinha imaginado desembarcar numa praia no meio da selva, ficou surpreendido com as rochas colossais que emergiam do mar, escuras e lisas, como se os ventos as tivessem polido para enfeitar a baía. No topo, distinguia alguma vegetação que lhes dava um aspecto menos fantasmagórico. Uma delas embelezava a entrada do portoe parecia ter sido esculpida por mãos gigantes; disseram-lhe que a chamavam de Pão de Açúcar pela altura e forma arredondada. Ao descer o olhar, descobriu praias de areia clara e pequenas enseadas, lagoas entre colinas com florestas de árvores desconhecidas para ele e, se não tivesse certeza de estar sem febre, poderia pensar se tratar de uma alucinação O conjunto tinha o aspecto de uma tela enorme pintada com cores que nunca vira, colocada com a ajuda de Deus para o aliviar de todas as aflições passadas durante a viagem."

"Essa constância, esse dar sem pedir nada em troca, era o melhor que lhe tinha acontecido naquele país que odiou nos primeiros anos e aprendeu a gostar tal como era, com seus defeitos e suas maravilhas."

Muito bom também ver como os escravos viviam e suas impressões sobre o que se passava com eles:

"Sentia que se ia esquecendo aos poucos de falar a prórpia língua, e as palavras aprendidas com a voz suave de sua mãe ou aquelas que usava em sua aldeia para conversar com os rapazes iam desaparecendo de sua memória e eram substituídas pelas portuguesas, que era a língua comum a todos os escravos e só por meio dela podiam se comunicar."

"Mas também sentia o chamamento do ritmo dos tambores, do batuque que lhe fazia vibrar o sangue, e seus pés chatos batiam no chão até doer, num ba;ançar de ancas e de tronco que o elevavam a algo que se aproximava da sensação de liberdade. Porque quando dançava estava perto de seus deuses e não daquela terra que ia ser sempre estranha."
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Dani Fuller 07/08/2011

com esses pormenores que se escreve a pequena história....
Ser conquistada já pela capa...assim foi a forma que conheci O Guardião de Livros.. lançado pela editora Casa da Palavra. E com esse título seria o bastante também em chamar a minha atenção, e depois ao constatar o que seria contado nele... bem já me conhecem um pouquinho, e adivinham o que aconteceria a seguir.. eu precisava lê-lo.

"(...) Luís, que tinha imaginado desembarcar numa praia no meio da selva, ficou surpreendido com as rochas colossais que emergiam do mar, (...) se não tivesse certeza de estar sem febre, poderia pensar de tratar de uma alucinação. O conjunto tinha aspecto de uma tela enorme pintada com cores que nunca vira, colocada com a ajuda de Deus para o aliviar de todas as aflições passadas durante a viagem."

Impossível não lembrar dos livros 1808 e 1822, mas as semelhanças ficam na maneira de conduzir ao leitor a uma época tão importante de tantos acontecimentos do país, e saber apontar os principais marcos na contrução da história do livro... ligando lugares e personagens, deixando a leitura cada vez mais prazerosa e interessante.

Dessa vez pude sentir a reação dos portugueses que foram abandonados a própria sorte lá em Portugal.. e ver seu príncipe e toda corte partindo para o Brasil. A sensação e o clima deve ter sido terrível.. o terror tomando conta de seus corações e nas ruas... e aquela ameaça da invasão dos franceses com Napoleão. Indescritível... e pegando tudo isso Cristina Norton nos apresenta as personagens da sinopse..

Somos levados para dentro daqueles anos de 1807 a 1821 e depois finalizando em 1838.. conhecendo o comportamento e o cotidiano de escravos, portugueses e brasileiros, os impactos que esses novos convívios causaram (com a vinda da corte portuguesa para o Brasil em 1808) e a repercusão, quando paramos para refletir, ao que temos hoje.

A autora intercalou narrações de primeira e terceira pessoa, deixando assim possível termos todo tipo de visão a respeito do que estávamos lendo..e claro permitindo inúmeras conclusões. Eu sempre tento me identificar com alguém, mas dessa vez... foi praticamente impossível com personagens tão ricos e humanos.. só restou ser espectadora e aguardar a conclusão de suas passagens pela terra nessa viagem que o livro proporciona. E quando justamente temos a conclusão (ou a falta dela) que fiquei um pouco frustrada. Depois de tantos detalhes, finaliza corrido.. sem maiores importâncias aos escravos que tanto são mostrados, a própria esposa de Marrocos Ana e suas 2 filhas.. e sua família de Lisboa. Mas levando em consideração que o livro é baseado nas cartas (186 existentes até hoje e arquivadas na Real Biblioteca do Palácio da Ajuda em Lisboa) de Luís Joaquim dos Santos Marrocos enviadas por ele a seu pai, Francisco, e a sua irmã (e informadas a todo o momento durante o livro)... e assim que ele morre.. a narrativa do livro meio que também.. então nada mais podíamos esperar....na verdade foi um pouco antes disso... na sua atitude de não mais escrever a família que o estava ignorando...por motivos exclusivamente idiotas.

"Francisco recebia todas as cartas, (...) guardava-as numa gaveta própria, acarinhando já a idéia de as levar à biblioteca do Palácio da Ajuda, porque eram um testemunho precioso dos tempos que a corte e seus filho estavam vivendo. Naturalmente, havia algumas passagens inconvenientes, desabafos que não deviam ser divulgados naquele momento. Mas ele sabia que é com esses pormenores que se escreve a pequena história e, quando o tempo passasse e alguém descobrisse as cartas, aquelas situações que poderiam embaraçar algumas pessoas já não escandalizariam ninguém nem seriam vistas da mesma maneira."

Foi muito prazeroso poder acompanhar o que autora propôs e também aumentar meus conhecimentos sobre essa época interessante e importante do nosso país. E instigando mais meu desejo de conhecer nosso passado. Boa parte das respostas que procuramos hoje podemos encontrá-las lá atrás.. É claro que muitas delas vão continuar perdidas no tempo e no espaço... afinal sabemos que o saber e o poder juntos poderão causar maior destruição do que é humanamente possível suportar.
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