Marina 11/11/2021ImpressionanteLer esse livro é um misto de desespero e incredulidade.
Me sentia lendo o Conto da Aia, só que fora da ficção.
O início do livro é da perspectiva de Soraya, jovem Libiana sequestrada pelo ex-ditador Muammar al-Kadafi quando ainda era adolescente, e transformada em uma de suas várias escravas sexuais. Sua história nos lembra uma distopia, mas foi real.
A narrativa de Soraya, ainda que transmitida pela jornalista francesa Annick Cojean, era crua, extremamente forte e direta. Demorei pra ler, apesar de ser curta, pelo tanto que me doía ler sua história.
A segunda parte do livro, no entanto, trata da investigação jornalística da autora, Annick Cojean.
Sem desmerecer a grandeza do seu trabalho: incluindo a ida presencial à Libia e a entrevista com inúmeros envolvidos nos esquemas sexuais bizarros de Kadafi, essa parte do livro me incomodou sensivelmente em alguns trechos.
Primeiramente pela falta de cuidado com a preservação da privacidade de algumas das vítimas. Mesmo com a troca de nomes, alguns dos casos eram facilmente identificáveis por aqueles que as conhecem, e a jornalista parecia entender que contar a história pro ocidente (entregando as fontes) era mais importante do que garantir a segurança delas.
Além disso, a visão acrítica da intervenção europeia na queda de Kadafi com o posterior abandono da população à própria sorte e da economia do país em frangalhos, (como se um erro justificasse outro), além de alguns posicionamentos preconceituosos em alguns trechos, foram bastante problemáticos.
Ela fez um excelente trabalho escrevendo o livro e investigando os fatos. Soraya e outras mulheres merecem ter sua história contada, e sua dignidade recuperada. Ainda assim, por questões pontuais não consigo recomendar o livro sem críticas.