FelipeLMalheiro 28/02/2011
Li, ri e aprendi – “O Evangelho de Barrabás”
A origem da vida não tem explicação;
A fé e a religião, que tentam explicar o inexplicável, têm explicação.
O uso da metáfora a que recorrem a fé e a religião tem justificação e explicação;
Acreditar nos fatos que compõem a metáfora tem explicação;
A intenção de impor a crença em todos os fatos que compõem todas as metáforas, e não no produto delas, a quem logicamente questioná-las, tiro no pé dado costumeiramente por muitas religiões, não tem explicação.
O Evangelho de Barrabás (Ed. Objetiva, 2009) é, em todos os tempos, o mais fiel e verdadeiro relato fictício do que realmente teria ocorrido, além do que consta na Bíblia, com esse personagem, protagonista de nada de muito até as maiúsculas descobertas empreendidas por José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta. Os autores-arqueólogos dão vida à tortuosa caminhada desse bandoleiro, larápio sanguíneo (até demais), piedoso e apaixonado, que, acompanhado de asseclas-discípulos-companheiros-de-circo, em verdade (ou quase) teria talvez deixado mensagens que, ouvidas com o merecido cuidado, cortam a carne das gentes crentes e descrentes com menos compaixão que a mais afiada das adagas. As mesmas adagas que, desde aqueles tempos messiânicos, conduzem pelos caminhos da morte muitos dos que, por dizer a verdade indesejada, de maneira incompreendida festejam a vida.
No decorrer da narrativa, os nem tão sacros Torero e Pimenta, “ateus não praticantes”, pela sutileza com que apedrejam, fazem lembrar de “A Vida de Brian”, de Monty Python, e, para arrastar o leitor ainda mais próximo ao chão da poeirenta Judeia, expressam-se com a suntuosa verve das Sagradas Escrituras. Tudo isso enquanto descrevem a saga de Barrabás, um filho de Genesaré, moldado pelos rigores da barbárie que reinava por aquelas plagas lá pelo ano Zero, desencaminhado por opção, fermentado pelo assassínio imbecil de seus pais pelos romanos, e movido pelo amor verdadeiro a uma historicamente conhecida Maria Magdalena, que foi sempre a causa de suas mais extremas experiências – de nascer de novo a ser uma real criança, de tornar-se homem a ser o mais engenhoso dos pilhantes, de verter-se em habilíssimo profeta da ironia, cativando legiões de seguidores, a deslizar em tábua havaiana, de curar as multidões a ter seu destino selado por elas.
“Barrabás!!”, exclamava meu avô materno, quando me via comer mais de 3 pratos cheios em um almoço, ou quando chegávamos em casa, meu irmão e eu, após surfar das duas da tarde até as nove horas da noite preta. Interjeição cheia de alegria, espécie de prolongamento do gauchesco “bah!”, tomo-a emprestada agora para qualificar meu sentimento ao finalizar a (primeira) leitura desta bela e divertida obra, que faz tudo, menos duvidar do que não se pode conhecer.
http://felipelonghimalheiro.com/2010/11/15/li-ri-e-aprendi-o-evangelho-de-barrabas/