Monge 15/03/2024
Pegar na bunda do vento
A poesia de Manoel de Barros me pegou de surpresa, de início um leve estranhamento, mas logo depois uma admiração genuína. Quantos textos do livro eu lia, mais admirado ficava. A capacidade do autor de falar da banalidade com uma aptidão gigante é incrível. E por falar em banalidades, na verdade, no que é desimportante, este é o material da poesia, tudo que é inútil, que não serve. Manoel de Barros se usa muito bem disso e nos traz uma infância e imagens lindas produzidas pelos textos, como "saudade me urinava na perna". Porém sua poesia vai além, apresenta uma proposta de um novo olhar sobre a realidade, não para as cidades, não para grandes monumentos, mas para árvores, sapos, lagartos, pedras, rios. Afinal as coisas são maiores conforme a intimidade que temos com elas, como diz o próprio autor! Como não se encantar com essa poesia do desencontro, do saber tudo de quase nada, poesia da natureza, poesia do desimportante? Simplesmente os textos mais bonitos que já li estão nesse livro.