Letícia 13/06/2021"Essa posse que uma ficção toma de nós é uma coisa bastante curiosa. É um tipo de embriaguez, sendo tanto uma perda quanto um aumento de nossa personalidade. É um estado sugestivo. Ao ler um romance que nos atrai, não somos mais nós mesmos e vivemos nas personagens que nos são apresentadas e nos lugares que são descritos [...]. Há uma perda de nossa personalidade. Mas há também um aumento de nossa personalidade, no sentido de que, nessa vida emprestada, sentimo-nos viver mais poderosamente, mais amplamente, mais magnificamente que no ordinário".
"Cada um de nós é um pequeno mundo onde o mundo inteiro se vê em detalhe e é, verdadeiramente, como em germe; o provérbio italiano citado por Pascal é exato: "O mundo inteiro é como nossa família", e como nós mesmos."
"Só admiro o que não entendo, o que me sinto incapaz de compreender, e que parece que é natural. O que compreendo, me parece que, salvo o estilo, salva certa desenvoltura que não tenho, o faria. Então, não o admiro, não aprovo. Não admiro, eu o reconheço. Não me encanta, aumenta em mim uma luz que eu já tinha. O que não compreendo me ultrapassa e, por consequência, se impõe a mim. Me intimida. Me dá um pouco de medo. Eu o admiro. Há em toda admiração um pouco de terror. Digo a mim mesmo: a qual altura ou a qual profundidade é preciso que esteja esse homem para que não o distinga mais? E sinto que, independentemente do esforço que eu faça, ele estará sempre a essa altura ou a essa profundidade, a essa distância de mim. Eu admiro, estou tocado, estou, ao menos, inquieto de admiração".