spoiler visualizaralexbelm_ 29/03/2024
Simples perfeito!
Nunca fiz uma resenha antes... Mas vamos lá!
??: Essa resenha contém MUITO spoiler!
Primeiramente, o livro é 99% narrado pelo Samuel, que é um dos protagonistas. Apenas um capítulo é narrado pelo Benjamin, mas é bem no início, e bem rápido.
O livro em si é muito bom. A escrita é envolvente, você se conecta com o personagem ? já que é narrado em primeira pessoa ? e acaba pegando as dores dele. Sentindo tudo que ele sente, entendendo o que ele pensa, como ele pensa. E mesmo que no começo ele erre bastante, por ser uma criança também e pela mãe péssima que ele tem/teve, ainda sim, você não o culpa, nem faz julgamentos. É um ponto de vista muito bem trabalhado.
Eu, particularmente, me identifiquei muito com os dois personagens ? Samuel e Benjamin. Porém o Samu me chamou uma atenção especial, pelo trauma que ele sofreu e que foi "esquecido" no seu subconsciente, pela forma que ele luta pela felicidade, não só sua, mas também pela do Benjie e dos amigos. É tudo perfeitamente explicado, não há furos no roteiro, muito menos histórias em aberto, tudo bem desenvolvido. Tanto a individualidade dos personagens, quanto a relação dos dois, juntos. É lindo de acompanhar.
Há duas frases que eu atribuiria a essa história: "O amor não supera tudo" e "O vilão só é vilão, quando a história é contada pelo herói". Vou explicar o porquê delas agora.
"O vilão só é vilão quando a história é contada pelo herói" ? Isso é muito real, porque no começo da história, quando o Samu começou a se aproximar do Benjie e a tentar uma conexão com ele, apesar de todas as inseguranças, ele tinha uma opinião bem negativa sobre a mãe do Benjamin, Minah. E por ser narrado no ponto de vista dele, a gente acaba concordando com o Samuel, afinal nós vemos o que ele vê. Mas naquele pequeno ? e único ? capítulo em que o Benjamin assume o lugar de narrador, nós percebemos que a Minah não é uma mãe ruim, pelo contrário, ela faz o melhor que pode, e para o Benjamin, é a melhor mãe de todas (melhor até que a mãe do próprio Samuel). Então a antipatia que criamos por ela baseada na opinião do Samuel, acaba sumindo instantaneamente, diferente do que sentimos pela Roberta, mãe do Samuel. Quando o Benjamin fala bem da mãe para o Samuel, ele nutre uma certa desconfiança, por achar que o Benjie não reconhece a maldade das pessoas, mas no fim, não é nada disso. O que nos leva a questionar o quanto o Benjamin é inteligente e o quanto ele sabe sobre o mundo, deixando claro que autistas não são, de forma alguma, incapazes, mesmo com todas suas próprias limitações. E essa mensagem e visão que o livro traz é linda e emocionante.
"O amor não supera tudo" ? Escutei essa frase durante grande parte da minha vida, e agora, depois de ler um livro em que nem tudo é do jeito que desejamos, consigo sentir o peso que ela tem. Essa frase, especificamente, foi destinada a três personagens em específico: Fernanda, Rafael e Carlos Eduardo. Veja bem, Samuel é desprezado pela mãe antes mesmo de nascer, foi abusado sexualmente quando criança por um pedófilo, sua avó não o queria por perto e ele não tem pai, pois o mesmo morreu antes de ele nascer. Após começar a se relacionar com Benjamin, ele tem o desejo de fazer s3x0 assim como qualquer adolescente (longe dos padrões assexuais), e com esse desejo, vem as sensações, que se transformam em pesadelos, que, na verdade, são lembranças ruins. Após essa lembrança vir à tona, ele percebe o motivo de seus empecilhos românticos, o medo de ir além, o pânico de sentir as mãos de Benjamin e imaginar seu abusador ali em vez da pessoa que amava, tudo era um grande desafio. Um garoto com tantos traumas, tantos bloqueios emocionais, tantos sentimentos negativos e aprisionados, obviamente, não conseguiria se livrar disso sozinho. Por isso, desde o primeiro capítulo, o Samuel deixa claro que seu grupo de amigos de infância, são sua família e que, sem eles, ele não saberia o que fazer e não teria esperanças de viver. Entre esses amigos, nós temos o Cadu, o Rafael, namorado dele, e a Fernanda, que é uma mulher trans e que, na época, se chamava Guilherme. E é para esses três que eu dedico essa frase. Cadu e Rafa são um casal gay, obviamente. Os dois são homossexuais, por tanto, se interessam por homens. Eles são o famoso casal ioiô. Mas o Guilherme, também entrava nessa equação. Quando o Cadu brigava com o Rafa, ele tr4nsava com o Gui, quando o Rafa brigava com o Cadu, ele também tr4nsava com o Gui. Isso acabou trazendo outros sentimentos à tona, e o amor foi um deles. Os três se amavam, isso não tem como negar ou discutir, estava bem implícito que os três queriam ficar juntos. Porém, com a transição do Guilherme para o feminino, tornando-se Fernanda, as coisas começaram a ficar complicadas. A confusão de sentimentos foi tão grande, que tanto Rafael quanto Cadu não sabiam como lidar com aquilo. E então, há dois caminhos de raciocínio para seguirmos. Julga-los e chama-los de ignorantes e preconceituosos, ou entender que, não é apenas a imagem de uma pessoa querida que está mudando, mas sim seus sentimentos por ela. Eles amavam Guilherme, pela sua personalidade, e por ser homem, pois os dois são gays, como já dito anteriormente. Mas e a Fernanda? Eles não poderiam invalidar a própria sexualidade para continuar com ela. Foi uma cena tensa, repleta de sentimentos, que transbordava amor, tristeza, decepção e, de longe, eu pude ouvir o som dos coraçãozinhos dos três estilhaçando-se no chão. Foi doloroso, mas entendível, apesar de se amarem, eles realmente não podiam continuar com aquilo, pois ultrapassava o amor. Não estavam mais ao alcance deles.
E com isso, nós entramos na última pauta dessa resenha ? que ficou maior do que eu esperava.
Fernanda, ao transicionar, não teve o apoio dos pais, pois infelizmente nem todos vivem na realidade feliz, nem mesmo nos livros. E sem o apoio de quem ela amava (Cadu e Rafa), ela se sentia sozinha, insegura e com medo. Então, como um bom amigo de infância, que estavam juntos desde sempre, Samuel se pôs a oferecer um ombro amigo, oferecer apoio, acolhimento e palavras de carinho. Fernanda se apegou àquelas atitudes. Quando ambos foram para a mesma faculdade, o que criou certa insegurança em Benjamin, pois ele odiava mudanças e estava a pelo menos quase dois anos vivendo com Samuel ao seu lado, os dois se aproximaram muito. Fernanda não conseguiu permissão para ir ao dormitório feminino, então teve que dividir o quarto com o Samuel. Eles se conhecem desde sempre, então as coisas foram tranquilas por um tempo.
Eu entendo a Fernanda. Ela estava confusa com os próprios sentimentos, estava bêbada e carente, pela falta de apoio e atenção dos pais e das duas pessoas por quem era apaixonada. As atitudes de Samuel bagunçaram suas emoções, além do álcool em seu corpo, e isso foi o gatilho para que ela o beijasse. Foi uma cena que me deixou decepcionada e irritada, mas não surpresa, pois já dava a entender que isso aconteceria. O bom, é que tudo acaba bem no final. Não tenho ódio pela personagem, mas também acabou não sendo a minha favorita, no fim, mesmo eu gostando dela no início. As coisas, as vezes, realmente não são pra ser.
De forma geral, o livro é incrível, os detalhes são impecáveis, o spin-off dos personagens são maravilhosos, e a evolução deles nem se fala, perfeita.
Única coisa que me matou de curiosidade, foi a parte em que, mesmo com o Samuel sem falar com ela por conta do beijo, por estar se sentindo traído e magoado, ela o arrasta para voltarem à antiga cidade, visitar os amigos, mas antes de ir, ela mesma conta à Benjamin (por mensagem) que tentou beijar o Samuel. Durante a discussão do casal (Samu e Benjie), ele se mostra irritado e magoado com os dois, apesar de perdoa-los. Mas mesmo assim, eu queria ter visto essa conversa, para saber como Samuel reagiu e se sentiu.
De qualquer forma, o livro está no me top 1 de favoritos, e tem um cantinho especial no meu coração para todo o sempre.
"O amor cura. O amor acolhe. O amor é azul. E azul é a mais bela cor de todas." ?