Lali Jean 17/05/2022
Beleza e experimentos de liberdade nos limites do arquivo
A autora dá uma volta radical à interpelações violentas do encontro do poder com as vidas das pessoas negras.
Saidiya segue, portanto, algo que havia delineado em ?Vênus em Dois atos? : ouvir quais gemidos de liberdade e beleza escapam dos documentos de estado, dos jornais, da fotografia artístico-colonial. Ouvimos cantos de revolta, gestos revolucionários de desejo; as vidas negras dessarrumando a continuidade dos projetos de cidade e de nação. Encontramos personagens adoradas, outras esquecidas, e a potência da má fama. Saidiya buscou nos arquivos beleza e experimentos de liberdade, algo que a história e o enquadramento sociológico não fizeram e não são capazes de realizar sequer no presente em relação à abundância, complexidade e sofisticação das vidas negras. É um texto que concretiza a aposta em andamento da autora; uma proposta que pensa racismo e escravidão na urgência do tempo presente e através de uma justiça estética e epistêmica. Afinal, recontar essas histórias se aproxima mais da justiça, quando se entrelaça com a fábula, o romance e o inevitável de que todas as histórias anteriores sobre estas personagens também são ficção.