Paulo 02/12/2023
Não faça nada, inclusive não leia este livro
Embora raramente leia livros de auto-ajuda, eu embarquei na leitura desta obra esperando o de sempre neste tipo de livro escrito por americanos: a narrativa de casos reais, o contraste desses casos com a experiência do autor e, por fim, a elaboração de algumas dicas gerais para o leitor aplicar em sua vida.
A autora, porém, não seguiu essa consagrada fórmula. Ela procura apresentar alguns casos reais, algumas experiências que aconteceram com ela, mas sem concatenar essas ideias de uma forma mais costurada.
Logo na introdução, ela deixa claro que não se trata de mais um livro de autoajuda, mas de um ativismo disfarçado de autoajuda. E aí usa alguns clichês contra os quais se volta - Donald Trump, neoliberalismo, capitalismo - em favor de uma perspectiva social e ecológica…
Veja a concepção de “eu” da autora: “defendo uma visão do self e da identidade que é o oposto da marca pessoal: uma coisa instável e mutante determinada pelas interações com outros e com diferentes tipos de lugares”. Ao invés da construção sólida de uma personalidade, penso que a autora defende que devemos ser “marias vai com as outras”.
Mas a obra tem alguns pontos de destaque, como o conceito de biorregionalismo: devemos prestar mais atenção no meio ambiente e nos vizinhos do local em que vivemos.
A autora ensina que a luta contra a indústria da atenção - em especial as redes sociais - não consiste simplesmente em se desconectar, mas em mudar a atenção para o meio ambiente ao nosso redor, nossos antepassados e nossa cultura.
No final, ela propõe uma solução chamada “correção manifesta”, que eu não entendi muito bem. Dentre os exemplos citados por ela, está a retirada do nome de um padre católico de um prédio universitário, devido a seu envolvimento com a escravidão e o genocídio indígena na Califôrnia no século 19. Ora, isso para mim é simples revisionismo histórico.
Para não dizer que não aproveitei absolutamente nada, gostei da narrativa da autora sobre suas atividades de birdwatching.
Mas não se iluda. Melhor seguir o conselho do título e não ler este livro.