Bruna 20/07/2021
BOA HISTÓRIA PÉSSIMO DESENVOLVIMENTO
Primeiramente, trata-se de uma crítica formal e fria sobre a edição e apresentação do livro, a forma de escrita da autora e o desenvolvimento da história e de seus personagens. Por isso, peço respeito àqueles que discordam, assim como respeito opiniões diversas.
EDIÇÃO/FORMATAÇÃO/CAPA:
A capa com tons de vermelho e preto contrastando com a pele nua da personagem já mostra que o livro terá bastante romance e "hot". Na minha opinião pessoal, gostaria de vê-la usando sua jaqueta do Selvagem Moto Clube em vez de sensualizar a personagem.
As páginas possuem algum espaçamento diferenciado, provavelmente entre os parágrafos, visto que parece existir muito texto em uma única página, ficando comprimido ao ponto de parecer que há poucas falas (o que não condiz com a realidade). É possível se acostumar facilmente, mas é sempre melhor não precisar.
O detalhe da numeração estar dentro de uma placa de trânsito é adorável, é um extra muito bem vindo para o leitor.
Como mostrado, a página já parece ter muito texto visualmente, ainda possui um detalhe escuro (a numeração da página), por fim, nos cantos superiores inserem o símbolo do Selvagem Moto Clube. Honestamente, ficou visualmente poluído e era desnecessário. Melhor seria se utilizado no início dos capítulos em vez do problemático desenho da moto.
A ilustração da moto em todo início de capítulo não foi bem colocada, parte da moto (o escapamento) fica fora da imagem, como consequência a lateral do livro demonstra ter diversos riscos pretos, devendo ser redirecionada para longe da borda na próxima vez.
A ESCRITA DA AUTORA:
A narração do livro ocorre em primeira pessoa (do ponto de vista da Valentine - personagem principal - na maioria das vezes).
A autora apresenta inicialmente a história do ponto de vista do Doc, uma escolha interessante e bem diferente do normal. É bem mais comum iniciar com a narração da personagem principal caso tenha a troca de pontos de vista. Existe a troca durante o decorrer do livro, contudo seria melhor que não houvesse, seria melhor se tivesse mantido apenas o primeiro. Todos os capítulos narrados pelo Doc. são pequenos (3 ou 2 páginas) e apenas descrevem o quanto ele ama sua parceira, algo que os leitores conseguem perceber por suas ações na história, sem a necessidade de literalmente ler que ele a ama.
A autora inúmeras vezes comete o erro de "falar em vez de mostrar". Incontáveis são as vezes em que informações são simplesmente jogadas ao ar para o leitor, fora da hora (poderia ser colocada no decorrer do livro) ou desnecessária (não sabendo quando inserir ou não algo que tornará o personagem ou fato interessantes). As ligações entre palavra-palavra, frase-frase e parágrafo-parágrafo são mal elaboradas e desconexas. Infelizmente a leitura não é fluída (até metade do livro).
Alguns bons mistérios apresentados no início do livro são "desvendados" no final do livro, contudo não são muito bem desenvolvidos, sendo simplesmente contados em falas de personagens bem curtas e sem emoção.
Existe uma recorrente repetição na escrita ao falar exatamente o mesmo fato ou sentimento mais de uma vez seguidas - as vezes mais de 3 - com as mesmas palavras.
Em alguns momentos a autora parece escrever um artigo científico em vez de um livro de ficção utilizando expressões como "isso queria dizer que..." para explicar alguma coisa, entretanto o leitor está dentro da cabeça da personagem e nenhum ser humano pensa assim.
Ocorre da autora introduzir o leitor a um novo acontecimento pouco a pouco, com a Val contando detalhadamente as coisas conforme acontecem. É como estar lá. Contudo, de repente, a personagem faz um resumo mental do resto dos acontecimentos rapidamente e não explica os poucos acontecimentos que ela mesma pensa. É como se o leitor fosse chutado para fora do local e estivesse vendo tudo de longe (mas trata-se de um livro em 1ª pessoa). Depois o detalhamento volta (trazendo o leitor para dentro do cenário de novo) no momento mais adequado para dar os fatos importantes. É honestamente uma bagunça.
Na maioria das vezes a descrição é minimalista (o que não tem problema) ou é posterior ao que deveria. Muitas vezes a autora introduz um personagem e conta várias histórias dele, apenas três páginas depois descreve fisicamente este. Nesse tempo, o leitor já imaginou o personagem e terá que desfazer essa imagem (seria melhor manter o minimalismo e deixar o leitor com a imaginação livre e personalíssima dos personagens).
Por fim, aparenta uma preguiça em melhorar o início da obra (a pior parte da escrita desorganizada e mal estruturada da obra).
ENREDO/PERSONAGENS/RELAÇÕES:
É uma ótima história! Uma mulher buscando a presidência do Moto Clube, algo que nunca aconteceu antes, cheio de desavenças corrupções e mistérios. Com o apoio de poucos, mas tão fortes que se tornam o número necessário para entrar na batalha. A trama política é excitante e surpreende inúmeras vezes. Contudo, todo seu desenvolvimento é mal aproveitado.
A personagem "girl power" - Val - só se torna uma personagem forte, confiante e cheia de si no final do livro. Antes disso existem várias tentativas de introduzir sua força e perseverança como mulher que são completamente apagados por inseguranças consigo mesma e suas relações com os outros - principalmente amorosa-. Claro que todo ser humano possui inseguranças, aflições e momentos escuros no decorrer de sua vida, mas não se pode fingir uma coisa que não é. Uma mulher verdadeiramente forte e decidida não pode ser assim só em um aspecto da vida, tem que ser em todos. Demora um pouco, mas a personagem vai sendo carismática, sua ironia e deboche tornam a leitura mais leve e divertida.
Algo importante que deve ser falado, se um(a) autor(a) resolve introduzir uma cena de abuso: primeiramente realmente fale sobre ela, descreva detalhadamente, deixe claro todos os sentimentos da personagem durante e depois (não apenas um resumo simples e sem emoção), além, e mais importante, não se deve apenas citar frases feitas como "não é culpa sua, nunca é culpa da vítima", deve-se tratar com seriedade e compaixão aprofundar os sentimentos de quem responde a esta história. Caso contrário, fica parecendo que simplesmente introduziu uma história de abuso como um "dever" para tornar a personagem mais forte e o assunto fica sem ser realmente tratado na dureza e profundidade que devem (mais do que apenas meia página).
O melhor amigo ... não deveria ser chamado de amigo em momento algum. Poucos são os momentos em que ele demonstra realmente pensar na Val em primeiro lugar.
A melhor amiga, essa sim, é girl power o tempo todo e com todos. Ela não possui medinhos, inseguranças, ela fala o que pensa, ameaça quem ameaça (cumpre as ameaças) e faz o que acha correto independente das consequências. A sua interação com a Val é incrível aparentando ser amigas de infância e o desenvolvimento dessa relação só melhora.
Por fim, Doc., o par romântico da Val é um dos personagens mais bem trabalhados antes e durante o decorrer da história. Logo no início e até o final existem mistérios ao seu redor. Sua intensidade e amor transbordam em suas ações. Ele tem as ações profissionais e de preocupação de um médico, as idiotas e preconceituosas de um membro do Moto Clube e ardentes e românticas de um amante e amor da protagonista.
A relação dos dois acontece do nada, como em um conto encantado da Disney, deveria existir mais aprofundamento antes de sucumbir aos desejos e depois criar uma relação. Ele até sabia de coisas sobre ela, porém Val, não sabia praticamente nada dele e já não possuía forças para lutar contra. basicamente um desejo surge ao se olharem (até ai tudo bem, é normal), mas é um desejo tão forte que é incontrolável a avassalador e derruba todas as barreiras e seguranças dela (o que não faz sentido).
Sobre as cenas íntimas, serei breve, são pouco detalhadas - mal se sabem o que está acontecendo e como ela se sente - são demasiadamente rápidas e surpreendentemente repetitivas que chega a ficar cansativo para o leitor que já leu aquilo várias vezes sem nenhuma mudança (apenas a última é melhor descrita).
Existem 3 vilões no livro, demais para uma obra de menos de 250 páginas, o final de cada história para cada vilão é sem emoção, do nada ou sem o devido fechamento.
Os homens do Clube em geral são muito carismáticos e engraçados, sua imagem bem desavergonhada e rude é engraçada de ler, assim como a reação de Val e Nina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Não seria um livro que eu recomendaria por todos os motivos expostos, existem muitos momentos divertidos e de emoção, mas simplesmente não valem a pena.
Enredo: 1,5/10,0
Desenvolvimento dos personagens: 5,0/10,0
Final: 4,0/10,0
Nota geral: 3,0/10,0