Jeff_Rodrigo 19/09/2023
Mário Picucha, um velho mendigo que perambula pelas ruas de Porto Alegre, narra as suas aventuras e desventuras, contando detalhes de sua infância, de sua família, de seus amores, de sua vivência no curso de direito, de sua estadia na cidade grande, e de como tudo isso convergiu para o conturbado mês de agosto de 1961 – mês em que, após a renúncia de Jânio Quadros, setores da sociedade civil se mobilizaram em uma campanha para impedir um golpe de estado contra o seu vice, João Goulart.
A história em si não conta detalhes do processo de mobilização da Campanha da Legalidade. O foco é a história do narrador, que conversa com alguém misterioso, ocupado e interessado em ouvir apenas. Contando detalhes de seu passado, e das ideias que tem do mundo presente, Picucha aparenta ter um ar de doido, carregando uma profunda tristeza e decepção com o seu passado, marcado por lembranças de uma família oligarca e disfuncional. Apresenta também uma tristeza com o legado que carrega no presente, caracterizado pelo vazio de sentimentos e de sentidos.
Seria Mário Picucha a figura gaúcho arcaico dos pampas do sul do Brasil, pronto a se mostrar para o quê veio no mundo, mesmo que isso seja feito na base da bala ou da faca? Ou uma alegoria do caudilho rústico e conservador das oligarquias gaúchas, que finge estar alheia e indiferente aos acontecimentos políticos do país?