Letícia 24/04/2022Premissa interessante, mas...O livro tem uma ÓTIMA premissa: como a esquerda passou de materialista, revolucionária e em defesa da classe trabalhadora, para uma esquerda pós-moderna, que fragmenta grupos em "identitários", rivalizando entre si, e se preocupa mais com pronome neutro do que com fome e desemprego...? Como foi esse processo de uma esquerda radical para uma esquerda rasa, politicamente correta e mais preocupada em lacrar do que em qualquer outra coisa?
Porém, me incomodou o autor ter sido tão maniqueísta e tendencioso, apontando o capitalismo como maravilhoso e o comunismo malvadão. Já que ele está criticando essa nova esquerda que preza mais por "subjetividades" do que pela realidade material, o mesmo acaba apresentando argumentos sofistas que ele tanto critica.
Ninguém ignora o fato de ter havido uma verdadeira revolução industrial, das tecnologias terem beneficiado a vida de muitas pessoas, de termos muito mais recursos que antes etc... Mas o autor ignora completamente a brutalidade do capitalismo, afirmando que o mesmo "promove oportunidades para todos" graças ao "livre mercado". Aham, senta lá Cláudia. Ou é muita ingenuidade ou muita desonestidade.
Entendo que a premissa do livro seja questionar e criticar essa esquerda contemporânea (e existem muitos motivos para tal!), porém colocando o lado dele como perfeito e o outro como malvadão só transparece o sofismo que ele tanto critica.
Poderia ter sido mais honesto e menos tendencioso nos argumentos, visto que a premissa é muito boa.
Muitos centristas e/ou direitistas vivem achando que são imparciais e que não possuem ideologias, quando na realidade seus argumentos são movidos mais por emoção do que por racionalidade. É fato que neutralidade não existe e que o autor tem o ponto dele e ok, mas não precisa distorcer argumentos propositalmente, ignorando toda a brutalidade, pobreza e desemprego que fazem parte da lógica de acumulação capitalista. Ele deve viver numa bolha, só pode... O livro tinha tudo pra ser bom, mas o viés apaixonado e apelativo do autor cagou tudo... Típica Tabata Amaral da vida que estudou em Harvard e acha que a democracia liberal e o capitalismo são sinônimos de liberdade e meritocracia. Liberdade e democracia pra quem? É fácil falar de dentro da bolha!
E não que eu defenda essa esquerda pós-moderna, muito pelo contrário. É realmente interessante tentarmos entender por que ela tomou esse caminho. Só vale a leitura se a pessoa ignorar o sensacionalismo do autor. Certamente procurarei outros textos ou livros que discorram sobre o assunto sem todo esse sofismo.