Bruna Moraes 02/06/2024
Em sua primeira obra autobiográfica em formato de poesia, Elayne Baeta se expõe para os leitores de coração aberto, conta sobre sua infância, suas decepções, suas inseguranças, suas perdas e seus romances, através de suas próprias fotografias e desenhos ilustrativos, além de permitir que o leitor interaja com o livro em algumas páginas.
Ela, uma mulher lésbica, que desde muito cedo já sabia que gostava de outras mulheres e por isso teve que lidar com os olhares desconfortáveis, os estereótipos e o preconceito, mas conseguiu transformar tudo isso em versos de erotismo, romance e críticas para mostrar que “ser uma menina que gosta de meninas é sim algo bonito”.
A autora traz em seus versos a sua essência baiana, através de suas gírias e expressões, mas também seu conteúdo sáfico, descrevendo de forma intensa o prazer feminino, que ainda é visto como algo repulsivo e vergonhoso, e ela fala com tanta naturalidade, sobre sexo, desejo e prazer por outras mulheres, que faz o leitor se identificar com os poemas, quem não teve a sua “fase” heterossexual, até se identificar com outras orientações sexuais? Mas o rótulo é tão necessário em nossa sociedade que nos impõe a pertencer a determinados grupos, mas “há dezenas de coisas que sou além de ser lésbica, há dezenas de coisas que não sou por ser lésbica”, e isso importa.
Também traz o questionamento do estereótipo, a mulher de cabelo curto, que veste roupas menos “feminina”, a ativa da relação, de quem esperam um comportamento mais masculino possível, mas esquecem que estamos falando de outra mulher, que também quer sentir prazer, receber flores, usar o que quiser e não precisar agir como um homem para ser entendida como um casal. Outro ponto que merece destaque é no poema “Exílio”, onde ela pede para não ser como é, mas Deus só diz que a ama, por que a nossa necessidade de aceitação é tão grande? Família, Deus, a sociedade e amigos, todos precisam mesmo nos validar? Com certeza o homem hétero não passa por esse controle de validação.
O livro é envolvente, do início ao fim, com relatos tão pessoais que te permitem identificar com a autora, ainda mais sendo lésbica também, te desperta questionamentos e intensas reflexões. Confesso que a mistura do inglês com o português não me agradou e por vezes pulava os poemas, mas no geral é um excelente livro, impossível trazer críticas de narrativa para um livro tão pessoal, Elay mais uma vez faz suas leitora morrerem de amor por suas palavras.
“segurar publicamente
a mão de outra menina
e sentir qualquer outra coisa
que não seja orgulho? ”.
“Ontem mesmo eu perguntei a Deus o que eu poderia fazer
para deixar de ser assim como eu sou
Deus me disse
“Te amo”.