AleixoItalo 27/06/2022A loucura é o grande foco narrativo de Benjamin Labatut. Para quem teve a oportunidade de ler o excelente ‘Un verdor Terrible’, viu como a loucura paira sobre aqueles que encaram as fissuras do tecido da realidade, rasgado pelas suas próprias descobertas.
No moldes de uma postagem de Blog, seu novo livro é menos ganancioso, porém não menos interessante.
‘La Piedra de la Locura’ é um ensaio curtinho de duas partes: Na primeira, vemos um rápido panorama de como os escritores H. P. Lovecraft e Philip K. Dick flertavam com a loucura e como matemáticos como Cantor, Hilbert e Gödel, quebravam a cabeça para descobrir uma lógica definitiva subjacente na matemática, que aparentemente não existe! São com essas cartas em mãos, que Labatut fala sobre a crise das narrativas da nossa realidade, sobre ordem e caos e de como o mundo atual está casa vez mais louco, usando suas opiniões sobre as manifestações dos últimos anos do Chile, como fio para traçar suas ideias sobre a crise da atualidade.
A segunda parte do livro embora menos despretensiosa é a mais interessante: Labatut se defende de uma acusação de plágio (feita em um blog fácil de ser encontrado na net). A acusação em si é chata e fruto de uma argumentação bem rasa, mas é interessante a maneira que se desenvolve: a acusadora parte de uma suposta teoria, de que suas ideias estão sendo plagiadas por IA's e vendidas para falsos escritores. Apesar da paranóia e loucura infundadas, as ideias são sedutoras e o próprio Labatut discorre sobre como a percepção da realidade é tênue, e divaga sobre o quanto ela está correta e se não seria ele o louco da história. O resultado final é quase se como ambos fossem personagem fictícios de uma trama de Phillip K Dick, que perderam suas identidades e foram tragados para um mundo alternativo.
Arte, ciências e filosofia são onipresentes e tudo isso é argumentado sob a óptica do quadro ‘La Extracción de la pedra de la Locura' de Hyeronymus Bosch. Fica a questão: quão densa é a linha que separa a loucura da sanidade?