ANDER CELES 28/08/2022
Plot interessante, mas cada a pegada pesada do primeiro?
Quando terminei de ler o primeiro livro, fiquei com aquele gosto de uma história com muito potencial, mas ainda sem ele ter sido completamente explorado. E claro, com uma continuação, precisava contar que parte dessa potência seria explorada no segundo livro. O que não chegou nem perto de acontecer.
Alguns méritos devem ser conferidos ao segundo livro. O começo dele, por exemplo. O tipo de narrativa no início segue uma pegada mais crua, mais realista com o que se espera de uma prisão. Tem um pouco da veia escritora daquelas passagens mais pesadas do primeiro livro, que claro, foram brilhantes naquele momento. Mas essa narrativa logo é substituída por uma história tão, mais tão clichê, sobre romance. Uma grande pena, porque no primeiro livro vc sente a tensão do lugar, vc sente medo de acontecer alguma coisa. Nesse não, parece que estão no campo de recreação.
Dimitri volta muito rápido para a North Gate, poderiam ter explorado muito mais a passagem dele na South Gate. Aí quando ele volta, tem aquela pegada de que muita coisa mudou e blablabla. E isso é legal também, mas mais uma vez dura muito pouco. JunSook, que estava com uma personalidade bem diferente, volta a ser o mesmo de sempre. E o mesmo pode ser dito do Dimitri, que tinha ganhado uma personalidade até que simpática no começo do livro, mas volta a ser o personagem desagradável de sempre.
Muuuuita cena de sexo, meu Deus. Chega uma hora que vc precisa fazer leitura dinâmica, pq cansa. E nada contra livros hot, já li alguns que tem essa pegada. Mas o ponto pra chegar nelas precisa ser trabalhado de alguma forma, não só colocada deslocada de todo o resto. Uma pena...
Outra coisa que distancia muito esse livro do primeiro são os personagens coadjuvantes, que simplesmente são esquecidos nesse livro. E tinha tanta coisa pra desenvolver com eles, alguns deles são tão interessantes, mas nada. Somente, somente os protagonistas ganham espaço, e isso é cansativo em um livro de mais de 450 páginas. Você não tem nuances, é a mesma coisa sempre. Os problemas dos coadjuvantes são deixados de lado na narrativa, simplesmente é como se "sabe aqueles problemas da personagem x? Então, tá resolvido". Simples assim.
Agora o pior de tudo, sem sombra de dúvidas, é toda a questão do julgamento do JunSook. Eu fico pensando se a história se passa em uma distopia ou na nossa realidade, pq se for a segunda opção, não é possível. Um julgamento cheio de furos, que nem no Brasil seria possível, que dirá na Coréia do Sul. Nada no julgamento faz sentido, e quando vc pensa que algum erro muito grave aconteceu para manter um ser humano por anos numa cadeia do outro lado do planeta, nada. Foram erros absurdos, ridículos. Uma coisa legal dessa parte é a advogada, que é uma personagem interessante e que poderia ter sido tão mais explorada. Toda a parte da investigação dela e de Demian poderiam ter ganhado tanto destaque.
Outra coisa: livro poderia terminar tranquilamente depois do julgamento, mas não. Ele ainda encheu uma linguiça desnecessária. Até foi resolvida uma das questões ao que o livro, às vezes, te lembrava que tava acontecendo, no meio de todas as cenas soltas. E ainda ressuscitou o Robin pra ele ser um "vilão" sem o menor sentido, em mais uma cena aleatória e fora de construção.
Muita coisa poderia ser explorada melhor ao longo do livro, como o próprio diretor do instituto, Russell. Ele tem um background de vilão, mas que não aparece. Isso sim teria sido muito interessante.
Outra coisa: como é fácil pra autora matar os personagens que não têm mais utilidade (não que a utilidade fosse significativa). E pior, quando alguém morre, vc não sente nada. Zero. Nem pelos vilões, nem pelos mocinhos. É tipo: "morreu? tá". Porque, mais uma vez, não há profundidade nenhuma em nenhum deles.
Enfim, dá pra ler? Sim. Entretem. Mas percebe-se uma dificuldade grande de contar uma história aqui, e principalmente, não se compara ao primeiro livro, que é muito melhor. Infelizmente ler um livro não tão bom (inclusive com problemas de escrita) de uma editora pequena, faz a gente pensar que talvez esse livro não tenha sido publicado em uma editoria grande realmente por não atingir um padrão mínimo de qualidade na escrita e na narrativa.