Roberta 08/10/2022
Aquela mudança brusca de roteiro... e de expectativa
Sem palavras para este livro!
Depois de um caminho tortuoso e repleto de frustrações e desgostos, Julia Quinn finalmente, FINALMENTE, decide mostrar a que veio e me presenteia com uma história para lá de emocionante.
Confesso que, no início, eu não estava esperando nada disso, bem pelo contrário. Tinha passado os sete volumes anteriores me perguntando quando a tortura iria terminar, e achei que o último livro não seria muito diferente. Até meio conformada, resignada, com o fato de que seria mais um desgosto. Mas então, me surpreendi. E acabei pensando: ah, então, essa autora sabe mesmo escrever uma história decente? Ela sabe criar personagens que não sejam os mais execráveis possíveis? Ela sabe criar um romance realmente mágico e apaixonante?
Então, por que diabos ela não fez isso nos sete volumes anteriores???
Só mesmo um ser divino para entender o que se passou na cabeça dessa escritora para deixar o melhor para o final. E o pior é que eu nem sei se ela realmente se deu conta disso, considerando todo o histórico... mas cara! Foi TÃO BOM ler uma história dela que comprovasse exatamente aquilo que eu vinha dizendo! Como o cuidado com os seus personagens, o aprofundamento, a criação de uma contradição etc. faz com que o autor seja recebido de uma forma muito mais positiva. Não tenho palavras para descrever quão aliviada me senti lendo esse livro, quase, QUASE, como se tivesse valido a pena. Apesar de eu saber que não valeu. Infelizmente, um histórico de sete livros fracassados não supera um único romance bom, não mesmo. Por isso, inclusive, da nota ainda não ser mais do que 4.
Mas, hei, vamos ao que interessa, não? Aqui vão os pontos que eu mais gostei:
Primeiro (e mais importante): Kate. Foi uma alegria imensurável vê-la ter uma participação tão presente na história do Gregory, ainda mais quando, no livro dela, ela era uma moça bastante insegura e com problemas de autoaceitação. Ela estava tão desenvolta, segura, provocante (da maneira como a série a representou, queiram-me perdoar), que tudo em que conseguia pensar era imaginar Simone Ashley interpretando aquilo na TV. Sério, sublime!
Depois, teve o Gregory e a Lucinda. Os dois fofos demais, vivendo um romance muito lindo e EXTREMAMENTE SAUDÁVEL. Gregory comprovou aquilo que eu vinha acusando, que um homem não precisa ser tóxico e abusivo para ter defeitos, fazer maluquices e errar. Ele foi simplesmente ele mesmo, e a Lucy também, é claro, e isso foi maravilhoso de ler. Ambos são, atrevo-me a dizer, o melhor casal de Bridgerton. O mais unido, o que mais se ama, os mais dedicados um ao outro. Não é à toa que terminam com tantos filhos... hehe.
Também não posso deixar de mencionar a narrativa viciante e muito agitada, que me pegou de surpresa em diversos momentos, algo que me surpreendeu duplamente (primeiro pela surpresa do plot twist; depois, pela surpresa de ser a Julia Quinn, JULIA QUINN, quem havia feito isso). O que quero dizer é que os livros dela vinham sendo tão mornos e sem emoção que foi um deleite ser surpreendida ao menos uma vez, para variar. Gostei do rumo dos acontecimentos e do quanto os personagens foram levados ao limite do drama. Foi muito legal mesmo.
Por fim, acho que um ponto importante a se frisar é que a série finalmente chegou ao fim. Sim, ainda há um livro extra, mas a história dos irmãos terminou, e com isso se encerrou um ciclo que prefiro não reviver. Confesso que, muito embora tenha gostado genuinamente da leitura deste livro, não indico a série a ninguém. Ela no geral é tóxica demais, tem muitos problemas e uma tendência à misoginia difícil de engolir. É mais do que reprisar um comportamento da época (caso alguns queiram argumentar nesse sentido). É uma autora contemporânea optar conscientemente por reprisar o comportamento daquela época, e pior: romantizando-o, para assim diminuir o papel da mulher e reafirmar que as mulheres não passam daquilo que todos pensam delas. Como falei em oportunidades passadas, eu já li inúmeras obras de escritoras da própria época retratada em Bridgerton (algumas delas de ainda mais tempo atrás) e nunca vi algo tão repulsivo, tão abusivo e reprovável. Quem dirá uma autora contemporânea! E me ponho a pensar: o que seremos de nós se continuarmos dando chancela para esse tipo de coisa? Se continuarmos consumindo esse tipo de literatura, sem se preocupar com o fato de que a normalização de situações de abuso pode, muitas vezes, fazer com que meninas e mulheres continuem não percebendo que estão passando pelo mesmo em suas vidas reais? Porque uma coisa é ficção. Tudo fica bem no final, não é? Mas na vida real, não é assim. Na vida real, se homens se comportam da maneira como os personagens dessa série se comportam, é um sinal sério de um relacionamento tóxico.
Bom, enfim, chego ao final de mais uma resenha com um gosto agridoce. Não pensem que estou gostando de admitir que gostei desse livro, mas não sou hipócrita, e sei reconhecer quando algo foi bom. Mesmo assim, não valeu o desespero e o desgosto, nem os momentos de embrulho no estômago e indignação (que foram MUITOS). Como referi antes, valeu a pena porque eu gosto da série da Netflix e queria me aprofundar mais no universo, como uma forma de, primeiro, superar o arroubo que foi o casal Kanthony e, segundo, me preparar para o que vai ser a terceira temporada. Fora isso, não imagino que outra serventia esses livros poderiam ter. Eles não são bem escritos (pelo contrário), seus personagens são rasos e os romances deixam bastante a desejar. Em resumo, posso indicar livros muito melhores se alguém estiver interessado em uma leitura boa de verdade.