Alessandro232 13/11/2022
Uma grande viagem de Grant Morrison
"Os sete soldados da vitória" é uma hq que foge totalmente do convencional. Por isso, se você gosta de super-heróis do tipo Batman, Superman, acho que esta não é uma boa opção de leitura para você. Apesar de fazer parte do universo DC, nessa hq de Morrison, você não encontra heróis bonzinhos e 'quadradinhos" que lutam em favor dos mais fracos, embora todos os personagens principais no final da contas se tornem o que podemos definir como heróis. Morrison um dos mais criativos e ousados roteiristas da indústria dos quadrinhos em "Os sete..." brinca o conceito de heroísmo, às vezes propositalmente distorcendo-o. Nessa hq alguns personagens tornar-se heróis por acaso, sem saber o que isso significa na prática, e somente vão entender isso quando expostos em situações de perigo.
Morrison em "Os sete..." aparentemente segue a fórmula das hqs da DC, mas aos poucos vai subvertendo-a e acrescentando-a a ela novos e inusitados elementos. A trama de "O sete..." começa com grupo de "heróis" que tem que enfrentar um perigo desconhecido que ameaça o planeta Terra- quer algo mais clichê que isso?
Mas. sendo uma hq de Morrison essa tal ameaça é um grande piração de sua cabeça - no bom sentido e somente lendo com muita atenção, você vai saber o que é. O grande barato dos roteiros de Morrison - um aspecto que o diferencia dos demais roteiristas de hqs e o aproxima de Allan Moore e Neil Gaiman- é a enorme quantidade de referências que ele coloca em sua histórias que remetem à cultura pop em geral. Nada escapa para Morrisson, elas vão desde as lendas arthurianas, contos de fadas tradicionais, folclore inglês, literatura gótica, cinema e também as histórias em quadrinhos da década de quarenta, que vem a ser a principal fonte de origem de "Os sete...". As vezes, ele faz isso até de forma exagerada,- para alguns leitores isso pode ser um ponto negativo-, mas nada que uma pesquisa na internet não resolva para esclarecer determinadas situações.
Como se não bastasse isso, Morrison propositalmente bagunça a estrutura narrativa. A trama começa com uma espécie de prólogo que dá margem para outras narrativas cada uma focando em um herói ou heroína. Entre eles, destaque para Justin, um dos integrantes da távola partida e para o menino Bruxo Klarion, uma das melhores criações de Morrison.
Essas histórias formam uma espécie de enorme boneca russa que vão criando situações que se relacionam e convergem em um conflito de proporções épicas, mas dentro do estilo amalucado de Morrison, em que a jornada é bem mais interessante que o desfecho- que mesmo sendo um tanto convencional não prejudica à narrativa.
Também vale destacar a arte, cada qual em um estilo diferente, a ponto de ser espetacular, com grande impacto visual em muitas passagens, principalmente quando o arco do personagem é desenhado por John Willians III, o mesmo de "Prometeia", conhecido por suas experimentações, principalmente suas ilustrações com uma pegada psicodélica.
"Os sete soldados,," não é para todos os gostos. Recomendo a hq para leitores mais maduros, com mais bagagem cultural e não para quem está começando a ler quadrinhos.
Quem gosta de cultura pop em suas mais diversas manifestações tem aqui um "prato cheio" , cheio de easter eggs ao universo DC, a literatura e cinema fantástico, e com certeza vai se divertir muito com as maluquices de Morrison, - que faz uma inesperada participação na hq, preste atenção nisso, que dá um toque muito especial à história- que ao lado de Allan Moore e Neil Gaiman, reinventou o modo de se fazer quadrinhos nos anos noventa.
"Os sete soldados..." é uma demonstração disso.
Sobre a edição. A Panini caprichou neste que é um dos mais bonitos omnibus da editora. Começa já pela capa bem chamativa e colorida. Também tem alguns extras interessantes e alguns revelam um pouco o processo de criação da obra.