Peleteiro 01/06/2022Sensível e encantadorEmbora tenha adquirido, lido e apreciado todas as traduções que a LPM fez da obra de Bukowski ? ainda que apontando incômodos e descuidos eventuais ?, sempre critiquei a ordem de publicações escolhida e o direcionamento que pintou a figura do autor como um mero beberrão mulherengo, iconoclasta e sujo, ao contrário da 7Letras com as seleções de Fernando Koproski.
Tal desconforto ganhou força sobretudo após eu descobrir que, em boa parte da Europa, ele chegou como poeta e, por isso, se firmou como um dos poetas mais sensíveis de todos os tempos, tendo seus versos utilizados até mesmo em protestos feministas, vejam só. Parte desse público sequer conheceu sua prosa, que ele mesmo dizia muitas vezes ser descartável e criada para ser aclamado e amado ? algo que ele sempre sonhou ser, e só assim conseguiu.
Não é preciso muito esforço para notar que Bukowski era um cara super carente e desiludido. Está tudo em sua obra.
Entretanto, se, mesmo na poesia ? salvo exceções ?, a LPM aproveitou esse público que adquire as obras dele apenas para postar fotos ao lado de cervejas, taças de vinhos, gatos e mulheres nuas, penso que ela se redime agora, nessa cuidadosa seleção de Abel Debritto, que reuniu poemas de toda a carreira de Bukowski, incluindo inéditos publicados apenas em periódicos raros, fugindo dos temas usuais que atribuem a ele, e consagrando a edição junto à trilogia de Fernando Koproski, como parte do ouro da produção poética do autor, acessível ao mercado literário brasileiro.