Iluminações

Iluminações Alan Moore




Resenhas - Illuminations


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Dawison 09/05/2024

Uma jornada intrigante pelas profundezas da imaginação
"Iluminações", do aclamado autor Alan Moore, é uma obra que cativa e desafia os leitores com sua narrativa densa e imaginativa. Com uma habilidade magistral, Moore mergulha em temas profundos como loucura, violência e mistério, criando um ambiente que prende a atenção do leitor do início ao fim. Embora a complexidade da trama possa ser um desafio para alguns, a riqueza de detalhes e a profundidade dos personagens compensam amplamente, tornando esta uma leitura gratificante para aqueles que apreciam o gênero.

Com sua escrita habilidosa, Alan Moore oferece uma experiência literária única em "Iluminações". Cada conto é uma obra-prima por si só, mas juntos formam um quadro fascinante da mente criativa do autor. A nota de 4/5 reflete não apenas a qualidade do trabalho, mas também a capacidade de envolver e intrigar o leitor, tornando esta uma leitura recomendada para os amantes de histórias que desafiam as convenções e exploram os limites da imaginação.

"Iluminações" é uma obra que permanece com o leitor muito além da última página, provocando reflexões sobre a natureza da realidade e os mistérios da existência humana. Embora possa não ser para todos os gostos, aqueles que se entregam à visão única de Moore encontrarão uma experiência literária enriquecedora e memorável.
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Soares.Julio 16/03/2024

Iluminações de Alan Moore, o Coisas Frágeis de Neil Gaiman
Em 2006, Neil Gaiman publicou Coisas Frágeis, trazido posteriormente para o Brasil pela Conrad em duas partes. Resumidamente, dentro das notas do autor nos livros, há separação em parágrafos dos motivos que levaram Gaiman a escrever tais textos, e são muitos, como escrever um conto para dar de presente a alguém, pedido para coletâneas de contos, pedido para ilustrar capa de álbum, para sites oficiais de filmes, além de poemas e etc.. Dito isto, Iluminações me parece seguir o exemplo editorial.
Iluminações, publicado em 2022, é uma coletânea de contos do mago de Northampton, contendo 9 contos escritos por Moore ao longo de anos e compilado nesta publicação. Em comparação ao referido exemplo do primeiro parágrafo, Iluminações contém uma entrevista concedida por Moore ao fim da publicação, algo que não contem no livro do Gaiman, mas há a nota do autor sobre a origem dos textos, e é aqui que me cabe a comparação.
Ambos autores britânicos possuem uma imaginação invejável, e ver suas ideias brotando vida é algo que somos abençoados de presenciar. Mas há um ponto que me faz gostar mais de Coisas Frágeis e considerar Iluminações como a pior coisa que já li do Moore até hoje. E por mas que esse trecho forte seja descabido, já que mesmo sendo a obra que menos gostei do Moore, ainda é acima da média, Iluminações peca, ao meu ver, em algo que Gaiman soube dosar: no tamanho dos textos.
Em Coisas Frágeis, há textos em que fica perceptível que era Gaiman querendo dar vida a uma ideia boa que teve, mas nem sempre ideias resumem-se a condução boa. Ideias são fagulhas, aí cabe a você fazer crescer esse fogo ou não. O autor de Coraline trabalha em Coisas Frágeis com textos ágeis, curtos, que embora alguns possam não cair no gosto do leitor, eles são facilmente substituídos pelos outros. Aqui, vejo ideias brotando na grande cabeleira de Alan Moore, além de seu virtuosismo, mas o texto extenso vai diluindo o fogo, como é o caso de Lagarto Hipotético e O Estado Altamente Energético de uma Complexidade Improvável. Local, Local, Local parte de uma premissa que não tenho como não lembrar de Neil Gaiman e o modo como Moore mescla algo mítico/religioso com algo banal. Nem Mesmo Lenda e Iluminações possuem um ar weird bem gostoso e são uns dos mais curtos.
O Que se Pode Saber a Respeito do Homem Trovão é onde Moore mostra seu virtuosismo. Mas tenho minhas ressalvas quanto a isso. O conto mais famoso do livro fala sobre a indústria dos quadrinhos permeando décadas e personagens que aqui são substituídos por outros nomes, que cabe você a identificar. Homem Trovão e Rei Abelha são respectivamente Superman e Batman, mas há figuras que simulam Jack Kirby, Stan Lee, Siegel e Shuster (criadores do Superman) e mais. O conto é dividido em pequenas partes e alguns deles são escritos de formas menos ortodoxas digamos assim. Como em partes escritas em resenhas de filmes, outra em entrevista, outra totalmente em diálogos e até por meio de “tweets”. Há causos fortes que ligam ao surgimento da indústria de quadrinhos e momentos em que você consegue enxergar Alan Moore ali por meio de suas entrevistas e suas opiniões não só sobre a indústria, mas como também aos resultados que ela gera na sociedade. Embora seja interessante ver alguém nos dando algo novo ou apenas não habitual, sinto que em diversos momentos foram maçantes e que Moore prolongou algo que desde o início estava na nossa cara e também nos contou algo banal apenas com uma roupagem diferente.
Luz Americana: Uma Avaliação, também encontrasse do virtuosismo do Moore em criar um livro fictício dentro do livro de ficção e encher de referências beatnik e exibi-las, além de demonstrar seu apreço pela história das localidades, algo muito caro ao Moore. Enfim só para dar cabo do silencio é o conto que mais gostei e que me lembrei na hora da coletânea Voz do Fogo também do mago dos quadrinhos.
Por fim, gostaria de salientar que este texto foi escrito de uma forma bem mais rápida por mim, que gosto de maturar aquilo que li e encaixar mais próximo das regras de resenhas literárias, e por pressuposto, serei tendencioso no parágrafo final. Talvez tenha sentido falta de dois elementos que gosto bastante nas obras do Moore: sua devoção à Northampton e a magia. Aqui Moore usa de seu conhecimento dos EUA mesmo não sendo morador de tal país, algo que ele fez magistralmente em Monstro do Pântano e Providence, o que deveria me aquietar-me mais. Embora tenha a impressão que o ultimo conto se passa numa antiga Northampton da época de Ricardo Coração de Leão. A magia ainda existe, mas Moore consegue mesclar realidade e magia em suas obras de uma forma tão fantástica, que quando ele cria seu mundo mágico em Lagarto Hipotético, me lembra mais um Grant Morrison que abarca a magia de uma forma mais rock ‘n roll do que o Moore, que vai trazendo de uma forma mais sinfônica. Gostei do livro, demorei bastante para termina-lo, já que intercalei com outras leituras, algo que geralmente não faço, mas quando terminei informo que me senti aliviado de ter finalmente terminado. Ufa. Que venha mais Alan Moore, e que meu livro perdure por anos na minha coleção para que quando for mais velho possa sentir, se o mago de Northampton quiser, que amadureci e que o livro ficou melhor com o tempo.
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Snowxmann 09/02/2024

Que viagem...
Demorei um tanto para terminar esse livro porque sou bastante travada com contos. Especialmente aqui que cada conto me oferecia horas de confusão mental, reflexão e buscas no reddit para saber se eu estava louca.
Gostei mais de alguns contos do que de outros, mas acho que no geral, incluindo a entrevista e os agradecimentos, é uma obra rica, divertida, diferente e que explora a fantasia e a linguagem, só pela sua coragem já me ganha.
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LucksStardust 03/12/2023

LIVRO DO ANO
Depois de 11 meses terminei essa coletânea maravilhosa do Alan Moore, disparado o autor que mais me desafia em cada obra dele, seja em qualquer mídia que ele se propõe a contar uma história e só tenho elogios a rasgar aqui como meu primeiro livro do Moore que tenho contos que mudaram minha vida, destaque para o que se pode saber a respeito do Homem Trovão que pra mim tá no mesmo patamar que o top 3 de muita gente por aí das obras dele e foi esse livro que me inspirou a lançar meu primeiro conto "Tártaro Ardil". Ao Alan Moore que nunca vai ler isso só tenho a agradecer pela leitura e pelo incentivo indireto.
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ED73LH 25/10/2023

Contos e mais contos?
Esse livro é p gente assim como eu que gosta de viajar? são contos nunca antes publicados, e mesmo não gostando de contos por eles não detalhar muito uma história, aqui isso não acontece. São histórias com muita relevância, questões filosóficas profundas com um toque de mágica que o Alan Moore adiciona de forma magnífica.
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Allison 08/09/2023

Uma pena que uma verdadeira JOIA esteja presa neste emaranhado de historias chatíssimas
"Lagarto hipotético: Primeiro conto do livro já nos traz o que há de pior em Alan Moore em toda a sua bibliografia, para quem já leu qualquer coisa do autor já entenderia onde chegaria a relação de abusos que o conto nos apresenta, o problema é que aqui, o autor, apesar de não descreve-la, graças a deus, acaba tratando essa situação, mais uma vez como um recurso narrativo sem peso moral, parece um fascínio perverso do autor ter em suas obras, ao menos, um momento onde uma personagem feminina sofre dessa forma."
"Nem mesmo lenda: Após o absurdo do primeiro texto, o segundo conto nos traz algo do melhor do Moore, a sua inventividade, é impossível não ler a ultima estrofe desse e não querer voltar para pescar os acontecimento sabendo do que é revelado."
"Local, local, local: Até o momento, o mais interessante titulo, apesar de seu morno começo o final é arrebatador (vai fazer mais sentido para quem leu), Moore vai começando a tomar forma por aqui."
"Leitura a frio: historinha pequena de terror que traz um pouco do clássico a volta do parafuso com um "quêzinho" de humor."
"O estado altamente energético de uma complexidade improvável: Aqui Moore usa e abusa de sua criatividade, o mais divertido e interessante conto até o momento, usando cérebros como protagonistas, Moore explora a evolução humana e suas mais intricadas relações sociais e politicas em menos de 30 páginas, fluida e brilhante leitura."
"Iluminações: Conto que dá nome a edição, mas não faz jus a qualidade dos outros, não que seja mal escrito, longe disso, o texto é muito fluido, porém o que parece é que este conto fora escrito num fluxo de consciência ininterrupto, fazendo com que a historia aqui contada além de não fazer quase sentido algum, seja bem medíocre (no sentido literal da palavra)"
"O que se pode saber a respeito do homem trovão: Simplesmente o motivo desta edição existir, com suas mais de 200 páginas, este conto é um verdadeiro livro a parte, e que LIVRAÇO. Contando um pouco dos anos primordiais da indústria de quadrinhos nos eua, Moore transcreve muito de suas ideias e ideais pelos personagens ali apresentados, um verdadeira aula de condução narrativa, o livro, digo, conto, transita entre passado e futuro, mudando diversas vezes a forma de narração e de protagonista, sem deixar em nenhum momento a peteca cair, ficando ainda melhor e mais completo se você tiver um conhecimento prévio de algumas historias de bastidores das duas gigantes desse mercado lá. uma verdadeira explosão de diversão, uma mistura de historia real, comédia e muita fofoca, incrível. Interessante que justamente o tema ao qual o autor costuma descer a lenha, venha a ser o seu trabalho mais interessante aqui."
"Luz americana: uma avaliação: No começo, quando imaginei que o texto seria uma zoação sobre estes poemas cheios de metáforas e historias pessoais, que só poderiam ser compreendidas por quem escreveu, aqui o Moore usa e abusa de notas de rodapé, porém, o lance é que a historia esta presente justamente nas tais notas de rodapé, o que poderia ser interessante, se no caminho dessa historia sobre o universo da geração beat não houvesse esse poema esquisitíssimo e arrastado no caminho."
"E, enfim, só para dar cabo do silêncio: Honesto, esse é o termo que me veio a cabeça ao final deste conto, que por um acaso é o último da edição."
O livro ainda conta com uma excelente entrevista com o Moore, onde ele comenta um pouco mais sobre a sociedade moderna, magia, arte e outros tantos mais. Caso este livro só contasse com o conto do homem trovão e esta entrevista, seria um 10/10, como não...
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BJekyll0 26/08/2023

Iluminações
Talvez esse não tenha sido o melhor momento para ler esta obra.
Uma coletânea de contos bem diferente do que esperava.
É possível ver o Alan Moore em cada conto, e sua entrevista traz uma perspectiva diferente da sua escrita.
Os contos não se complementam, são aleatórios, inclusive, dentro de si.
Alguns contos são muito bons, outros (talvez tenham sido agravados pela situação atenuante) não direi que são ruins, apenas "não necessários", ou talvez - desnecessariamente longos.
Inclusive, acho que meu preferido é justamente o primeiro - Lagarto hipotético.
Possivelmente é um livro que pegarei para ler novamente daqui alguns anos.
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Ricardo.Borges 20/06/2023

Desconfortável e provocativo
Uma belíssima edição com 9 contos subversivos radicalmente diferentes uns dos outros (no tamanho, na narrativa, no cenário, nos personagens? em tudo!). Por isso não é uma leitura fácil mas, ao mesmo tempo, são histórias surreais, bizarras, inteligentes, com um senso de humor ácido e com uma alta dose de criatividade e imaginação.
A entrevista, no final do livro, é sensacional e fecha a obra com chave de ouro, mostrando a genialidade ranzinza, coerente e esquisita do autor.
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luke - among the living. 29/05/2023

Alan Moore não precisa provar que é uma das maiores mentes criativas em atividade do mundo.

Mas aqui ele faz isso. Nenhum dos contos existentes aqui seguirá o mesmo tema, e nenhum desses contos cai na obviedade. (Eu só queria que Homem-Trovão fosse um pouco mais curto.)

Um livro sensacional, do tipo que você vai acabar se lembrando de trechos muito tempo depois de ter lido. E no final a entrevista com o próprio AM é um bônus de excelentíssima qualidade.
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Ronaldo.Ruiz 11/03/2023

Um mestre também nos contos
Sou suspeito para falar sobre Alan Moore, pois eu o considero o maior roteirista de histórias em quadrinhos de todos os tempos. Leio tudo o que encontro dele desde a primeira vez que li Watchmen, após muito tempo tentando evitá-lo por preconceitos religiosos, pelo fato de ele se autoproclamar mago.

Se arrependimento matasse… Enfim.

Porém, a antologia de contos “Iluminações”, publicada pela editora Aleph, é o meu primeiro contato com sua ficção em prosa. E o homem não me decepcionou. Sei que ele ainda tem outras duas obras nesse gênero “A Voz do Fogo” e “Jerusalém”, que desejo muito ler no futuro.

Nesta coletânea, o autor experimenta diversas formas de narrar, buscando todas as possibilidades que a ficção em prosa e o formato do conto podem oferecer, da mesma forma que ele já havia explorado as potencialidades que a linguagem das HQs possui. Por isso, cada conto é extremamente original.

As histórias abordam temas muito caros a Moore, como a questão do tempo e espaço, o sobrenatural, a literatura beat, histórias em quadrinhos, nostalgia e críticas sociais. Fiquei me perguntando como alguém tão recluso como ele, que nem mesmo assiste TV, pode saber tanto sobre a nossa sociedade contemporânea.

Os gêneros dos contos também são diversos. Temos horror cósmico, fantasia e bastante humor em suas páginas. Moore usa estilos de escrita diferentes. Ele vai de um texto mais complexo, cujo significado é mais difícil de penetrar, até uma escrita mais leve e informal.

Até mesmo nos agradecimentos, que tenho certeza que muita gente não lê, Moore consegue prender nossa atenção. Por meio deles, ele nos conta um pouco como surgiram os contos do livro. No final, ainda há uma entrevista muito boa que o escritor concedeu ao jornalista Ramon Vitral, em que ele fala sobre assuntos pertinentes aos tempos que vivemos.

A seguir, analiso um por um os contos de “Iluminações”:

Lagarto Hipotético
Som-Som é uma meretriz em um prostíbulo chamado Casa Sem Relógios. Ela foi deixada lá pela mãe quando ainda era criança. Seus clientes são feiticeiros e, para não contar seus segredos, Som-Som passou por um procedimento em que a liga que une os lados direito e esquerdo do cérebro foi cortada. Além disso, ela recebeu uma máscara de porcelana que deixou apenas a parte esquerda do seu rosto à mostra – uma imagem que me causou bastante estranheza a princípio. Dessa forma, as únicas coisas que Som-Som consegue expressar em palavras são memórias de antes do procedimento, por mais que tente falar outra coisa.

Ela é testemunha de um romance trágico entre dois moradores da Casa Sem Relógios: um ator muito talentoso chamado Foral Yatt e uma mulher trans, Rawara Chan, que deixa o lugar para seguir uma carreira bem-sucedida de atriz. Quando Rawara aparece novamente na Casa Sem Relógios para uma visita, Foral, que ficou muito magoado com sua partida, vai aos poucos roubando a identidade dela, de forma bastante abusiva.

Em seu retorno à Casa Sem Relógios, Rawara dá a Foral um presente que, para mim, é uma das melhores imagens do conto: o lagarto hipotético. Como ela explica, se trata de um brinquedo para o intelecto, que consiste em uma esfera que pode ter ou não um lagarto hibernando eternamente dentro dela. Pareceu-me ser uma metáfora para a condição de Som-Som, uma vez que, por ela não conseguir usar a linguagem, é impossível saber o que se passa em seu íntimo. Ou ainda uma metáfora para as intenções de Foral.

Neste conto, Alan Moore usa um estilo um pouco mais rebuscado do que os demais, mas nada que atrapalhe o entendimento da história. Há uma reviravolta no final, mas que, pelo menos para mim, já era previsível.

Nem Mesmo Lenda
Sem dúvida, o melhor conto da coletânea. O enredo é bem simples. O Cisan (Comitê para a Investigação Surrealista das Alegações dos Normais) está reunido para discutir os novos rumos da organização. Em vez de procurar vampiros e fantasmas, seu líder sugere buscar criaturas que nunca foram vistas, as quais ninguém sabe como são. Isso acaba chamando a atenção de uma comunidade de entidades invisíveis que decide intervir.

Porém, a estrutura que o autor usa para narrar a história a torna um grande exemplo de originalidade. O conto se desenrola em dois tempos intercalados, sendo um deles destacado em itálico, técnica muito semelhante a que Ernest Hemingway utiliza no conto “As Neves do Kilimanjaro”. Dessa forma, Alan Moore prepara o terreno para um plot twist de explodir a cabeça.

Local, Local, Local
Uma advogada chamada Angie é a última pessoa na Terra. Enquanto as previsões do Apocalipse se confirmam surrealmente acima de sua cabeça, ela está indo entregar uma propriedade – nada mais, nada menos do que o nosso mundo – ao seu novo dono, um sujeito muito gente boa chamado Jê (sim, é ele mesmo).

Jê é um cara descolado. Veste uma camiseta onde está escrito “Posso estar velho, mas pelo menos vi todas as bandas que prestam…” (quero uma dessas!), usa mullets, gosta de séries e fuma cigarro eletrônico. De vez em quando fala uns palavrões também.

Os dois passeiam por onde um dia já foi o Jardim do Éden (que curiosamente fica na cidade inglesa de Bedford) no momento em que os anjos do Céu e as hordas de Lucífer se enfrentam. Mas, como Jê comenta, tudo é muito burocrático, apenas para cumprir um contrato. Como se fosse uma luta livre da WWE, sabemos quem é do bem e quem é do mal, e como a batalha vai terminar. Por isso, Jê não está nem aí para o que está acontecendo.

Durante a conversa, ele faz uma proposta para Angie que, talvez, possa chocar alguns leitores mais puritanos.

Narrada de uma forma leve e despojada, esta história me fez rir muito.

Leitura a Frio
Esta é uma história de terror e suspense, mas que também tem algumas pitadas de humor.

Rick Sullivan é um médium charlatão. No entanto, ele não se vê assim. Para Rick, seu trabalho é justificado pelo conforto que ele proporciona às pessoas que perderam seus entes queridos. Ele acredita que essa é a sua missão divina na Terra.

Tudo vai mudar quando um homem chamado David, cujo irmão gêmeo morreu, entra em contato com Rick. Apesar de não ter muita certeza de que seu irmão Dennis aprovaria o que estava fazendo, David marca um primeiro encontro com Rick.

Antes de conversar com o cliente em potencial, Rick vasculha as redes sociais de Dennis, a fim de conseguir material sobre como era a vida pessoal dele, para fingir que está recebendo mensagens do além.

Rick descobre que Dennis era uma pessoa extremamente cética. E, apesar de ter consciência de que nunca recebeu uma única mensagem do mundo espiritual, essa falta de fé o deixa bastante irritado.

Em um estilo de relato bem lovecraftiano, o conto é narrado em primeira pessoa, como se o protagonista estivesse conversando com o leitor informalmente. Há uma reviravolta surpreendente no final. Preste atenção nos detalhes!

O Estado Altamente Energético de Uma Complexidade Improvável
Durante um femtossegundo antes do Big Bang (que pode ter durado milhões de anos), surge uma espécie de cérebro consciente de sua existência. Com o tempo, ele foi criando extensões que lhe permitiram ter sensações e sentimentos, os quais foi catalogando como uma tabela periódica. Essa consciência se autonomeou Pamperrégio.

Em sua jornada de descobertas, Pamperrégio encontra outro cérebro. Ele desenvolve extensões nele e se apresenta como o criador do universo, onisciente e onipotente. Esse outro cérebro também tem consciência e Pamperrégio o chama de Glynne.

Glynne acredita em tudo o que Pamperrégio diz, inclusive na sua teoria “Ter-mais-dinâmica”, a qual consiste na crença de que o universo está sempre progredindo para o melhor.

Pamperrégio começa a desenvolver desejo por Glynne e os dois passam a ter um relacionamento amoroso. Mais para frente, eles encontram outros cérebros conscientes. Surgem os primeiros casos de preconceito e até mesmo uma universidade, onde Glynne vai ensinar a essas outras consciências as crenças de Pamperrégio.

Mas, vai chegar um momento em que Glynne não vai mais suportar o autoritarismo de Pamperrégio.

Esse foi o conto mais desafiador para mim. Não que eu não tenha gostado. Achei-o bom. Mas tive muita dificuldade na leitura por causa das abstrações e imagens surreais da origem do universo. Alan Moore também usa bastante adjetivos pomposos e advérbios, que deixaram a história mais complicada de imaginar.

Iluminações
Neste ótimo conto, Alan Moore critica a mania cada vez maior da nostalgia. De acordo com esta história, ao contrário do que ficamos devaneando, se o passado fosse revivido, as coisas não seriam melhores. Na verdade, o mundo se tornaria um pesadelo.

O protagonista é um homem de meia-idade que acabou de se separar da mulher. Seus filhos já são crescidos e seus pais estão mortos.

Após encontrar um velho álbum de família, ele decide ir até um lugar turístico onde se recorda ter passado momentos muito bons com seus pais na infância.

Porém, ao chegar lá, ele percebe que tudo está mudado. Até mesmo as coisas que se tornaram melhores o incomodam. Ainda assim, o personagem insiste em seu passeio, pois há resquícios do local da sua infância em meio a nova paisagem, que fazem parecer que ele ainda existe em algum lugar.

A princípio, pensei que este conto fosse o primeiro “realista” da coletânea. No entanto, conforme acompanhamos as andanças do protagonista, vamos sentindo um clima estranho, semelhante ao das ruínas da cidade do conto “A sombra de Innsmouth”, de H.P. Lovecraft. Aliás, a cidade onde se passa esta história tem o sugestivo nome de Welmouth.

Os parágrafos com lembranças do protagonista são intercalados pelas ações do presente. As duas linhas do tempo vão ficando cada vez mais confusas e a coisa só piora quando o personagem vai ao parque de diversões Pleasureland.

O que se pode saber a respeito do Homem-Trovão
Com quase 300 páginas, este conto está mais para uma novela. Nele encontramos outro alvo das críticas recorrentes de Alan Moore: a indústria de histórias em quadrinhos de super-heróis dos Estados Unidos.

Enquanto em Watchmen os super-heróis são usados pelo autor para construir uma sátira ao gênero, aqui Moore faz críticas violentas às pessoas que produzem as revistas.

Quem conhece pelo menos um pouco da história dos comics vai encontrar diversos paralelos com a realidade. De uma forma não linear, o conto cobre desde o surgimento dos super-heróis, com contrabandistas de bebidas durante a Lei Seca se tornando os grandes donos das editoras, até a febre dos filmes e séries dos dias atuais, passando por fatos históricos como a caça às bruxas do Macarthismo e a invasão do Capitólio.

Existem algumas referências a pessoas, editoras e personagens reais: Sam Blatz é o Stan Lee, Joe Gold é Jack Kirby, a American é a DC, a Massive é a Marvel, o Homem-Trovão é o Superman e o Rei Abelha é o Batman. É impossível não ficar tentando adivinhar quem é quem enquanto vamos lendo. Fiz até algumas pesquisas na internet para descobrir as referências.

Existem dois personagens que meio que protagonizam o conto. Worsley Porlock é o editor-chefe da American e Dan Wheems é um dos roteiristas da editora.

Porlock assume o cargo após a estranha morte de Brandon Chuff durante um jantar em um restaurante. Embora esteja chocado com a passagem do colega, ele não consegue esconder a empolgação de se tornar editor-chefe.

Enquanto Porlock cada vez mais se afunda nos vícios da indústria dos quadrinhos, Dan Wheems procura seguir um caminho diferente depois da morte de Chuff. Ele percebe que as HQs de supers não o prepararam para a perda de alguém, bem como para outras coisas da vida real. Então, assim como Alan Moore, Wheems decide tentar se esquecer dos comics e se aproximar da literatura.

Moore usa bastante experimentalismo neste conto. Algumas passagens são narradas em diferentes formatos, como roteiro de HQ, interrogatório, fórum de internet, sessão de psicanálise, crítica de cinema e entrevista “pingue-pongue”.

As críticas à indústria norte-americana de quadrinhos de super-heróis são inúmeras: exploração de artistas e roteiristas; roubo de propriedade intelectual; falta de criatividade; fãs sem talento transformados em profissionais do mercado; leitores mais preocupados com os personagens do que com a estrutura narrativa das histórias; infantilização de adultos; colecionismo; contribuição na ascensão de líderes políticos autoritários; e por aí vai.

Em alguns momentos, acho que Moore exagera, especialmente ao mostrar os fãs e profissionais como pessoas extremamente decadentes. Mas entendo que essa é a forma que ele encontrou para deixar suas críticas mais ácidas. Esse exagero torna alguns trechos estranhamente engraçados. A gente acaba rindo de situações que, se pararmos para pensar, não deveríamos achar graça nenhuma. Ainda mais que uma ou duas delas aconteceram mais ou menos daquela forma na vida real.

Por outro lado, acho que o autor também mostra algumas coisas boas que os quadrinhos podem proporcionar, como grandes amigos que podemos fazer por causa dos gibis, sejam à distância ou pessoalmente em uma convenção.

Foi impossível não me emocionar ao ver a forma como Porlock, em sua infância, lia os quadrinhos para se esquecer por um momento a separação de seus pais. Ou como sua primeira convenção o tirou da solidão, ao encontrar outros garotos desajustados socialmente, que compartilhavam da mesma paixão. E esse evento ainda lhe deu o sonho de trabalhar com algo que ele realmente amava.

Luz Americana: Uma avaliação
Por meio de um texto acadêmico, principalmente através de notas de rodapé, conhecemos a história de um escritor beat fictício chamado Harmon Belner. O estudo também é, obviamente, de uma autora inventada: C. F. Bird.

O texto de Belner analisado é sua obra-prima, o poema Luz Americana. Conforme vamos lendo seus versos, após uma introdução explicativa, sabemos das influências do autor, seu comportamento e relacionamentos conturbados. O principal deles é com outro escritor, Connor Davey, um grande admirador de seu trabalho.

Temos ainda um vislumbre da cena beat, principalmente, na cidade de San Francisco. Moore usa referências a autores clássicos do gênero, como Jack Kerouac e Allen Ginsberg, bem como as pessoas que os rodeavam – uns “santos marginais” – e acabavam virando inspirações para seus textos. E ainda os locais frequentados pelos beatniks na cidade.

Moore utilizou uma forma bastante diferente para escrever esse conto. Assim como a maioria das histórias do livro, há um plot twist no fim, e o escritor se vale da estrutura narrativa que está usando para armá-lo.

E, Enfim, Só Para Dar Cabo do Silêncio
Dois condenados estão caminhando lado a lado. Um deles vai tagarelando sozinho até que o outro, chamado John Halper, acaba desistindo de ficar calado e começa a falar também. O principal assunto é descobrir quem o primeiro personagem é.

Este conto é totalmente narrado por meio de diálogos. Através deles, o leitor vai recebendo aos poucos as informações da história, como detalhes a respeito do caminho que os dois estão percorrendo (que, aliás, é bastante bizarro); o motivo pelo qual eles foram condenados; e a época em que se passa o conto (durante o reinado de Ricardo Coração de Leão, na Inglaterra).

Pode ter sido tudo culpa minha, mas demorei para entender a revelação deste conto. Precisei ler mais de uma vez.

site: https://marcenarialiteraria.art.blog/2023/03/11/resenha-14-iluminacoes-de-alan-moore/
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Arlindo.Ramos 18/02/2023

Iluminações
Que livro difícil de ler. Só conhecia o Alan Moore quuadrinhista. Gostei de uns três contos só. Alguns não entendi nada, rsrsrs. Um livro bem louco.
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Qnat 31/01/2023

Finalmente algo de novo no front
Quando eu vi que Alan Moore havia sido traduzido em mais uma coletânea, comprei o livro.
Nem me importei com o risco de ser outro Alan Moore.

Não o conheço nos HQ, mas tive a oportunidade de ler, por pura sorte do destino, Vozes do Fogo, um dos melhores livros que já li. Esse livro não é tão bom quanto Vozes do Fogo, até por ser mais experimental. O bruto do conto será sempre a história, e às vezes parece que Alan Moore se perde um pouco na forma.


Iluminações não é uma coletânea fácil - como nada que Alan Moore escreve. É necessária muita atenção ao texto. A recompensa é avassaladora. Ironicamente o primeiro conto é o que menos gostei, mas entendi porque o colocaram em abertura. Porém tive a impressão que ele começou de forma genial, e no meio, ficou meio perdido e foi para outro rumo. Há um conto sobre o mundo do HQ, que também é um pouco tedioso, mas talvez agrade os leitores do gênero.

Tirando esses dois contos, a coletânea me agradou muito.

Esse é o primeiro livro que eu li em 2023 e acho que abri bem o ano.
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André 27/01/2023

Nostalgia, Política e o Tempo de Einstein
Em sua primeira coletânea de contos, Alan Moore nos brinda com histórias que cobrem desde "fábulas de terror" a la 2000 AD e Contos da Cripta, - revisitando assim o início de sua carreira (literalmente no caso de "Lagarto Hipotético", publicado originalmente em '87) - como "Leitura a frio", "Iluminações", e "Enfim, para dar cabo do silêncio", passando pelo horror/humor cósmico de "Local Local Local" e "Nem mesmo lenda", o puro exercício criativo e linguístico - ainda que crítico - de "O Estado Altamente Energético de uma Complexidade Improvável" e chegando ao Comentário com "Luz Americana - Uma avaliação" - um trabalho ficcional de crítica literária de um inexistente celebrado poema beat - e o polêmico e eclipsante (infelizmente, para os outros contos do livro) "O que se pode saber a respeito do Homem Trovão" - a crítica definitiva de Moore à indústria americana de quadrinhos.
O núcleo de histórias que parecem conferir uma temática ao livro é formado pelo "Homem Trovão", "Luz Americana", e "Iluminações": essa temática reflete o grosso das manifestações midiáticas de Moore nos últimos 6 ou 7 anos - os perigos da nostalgia e sua relação com a convulsão política de nossos tempos.
Relacionado a essa temática, Moore deixa um tanto de lado nessa obra seu lado "místico" (de "Promethea") e abraça seu lado "científico", ou ao menos "sci fi", - o que é consistente com esse certo retorno à sua fase 2000 AD (e também às suas histórias de Vega e da Tropa dos Lanternas Verdes) - no uso da teoria metafísica do tempo do Eternismo, informada por certa interpretação da Teoria da Relatividade Especial de Einstein, e que é presente em obras como "Watchmen" e "Do Inferno" do autor , e aqui nas histórias "Iluminações" (na qual existe uma bela metáfora para ela) e "Nem mesmo lenda"
Segundo ela, nossa existência é uma linha geométrica na quadri-dimensionalidade do Universo - seríamos minhocas 4D. Tudo que acontece já foi pré-determinado e nossa ilusão de livre arbítrio decorre que de nossa perspectiva percorremos essa linha um evento de cada vez, e nunca vemos o padrão completo. Tétrica para tantos, talvez para Moore essa visão de mundo implique nossa verdadeira salvação se a nostalgia e a idealização do passado - que nessa perspectiva perdem completamente o sentido - são realmente nossa ruína.
Apesar de o ter devorado, o quase romance "Homem Trovão" será provavelmente a narrativa mais difícil para os leitores que não são da "panelinha" dos quadrinhos e não conhecem todas as fofocas. Pela extensão do livro que ela ocupa, vale pesquisar por fora os eventos que a obra referencia. Algumas coisas são cobertas em "Marvel Comics: A História Secreta", outras em documentários como "In Search of Steve Ditko" e "Batman and Bill", mas outras menos celebradas precisam ser mais ativamente buscadas em blogs ou vídeos da internet.
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Fernanda 19/01/2023

Iluminações - Alan Moore, Editora Aleph
Resenha disponível no blog:

https://modoliterario.blogspot.com/2023/01/resenha-iluminacoes-alan-moore-editora.html

site: https://modoliterario.blogspot.com/2023/01/resenha-iluminacoes-alan-moore-editora.html
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leonel 08/11/2022

DCpção. Moore diz que não quer mais saber e não aguenta mais quadrinho de super-heroi mas não consegue largar o assunto nunca e gasta mais da metade do livro em uma história gigante sobre quadrinho de super-heroi cheia de rancor contra as editoras e fãs. Ta pra abandonar os quadrinhos nos ultimos 30 anos já e nunca larga. Tem momentos divertidos e é bem escrita, mas é o mesmo Moore burocratico de Providence e Promethea e é um saco ter que ficar lembrando toda hora a quem ele tá se referindo mesmo com os milhoes de pseudonimos que inventou pra esconder os artistas e editores. O resto do livro são historias curtas bem feitinhas, mas também burocraticas e feitas só pra mostrar o Moore dominando truques de escrita, não tem nada fora os truques tipo "essa historia é um paragrafo no passado e um no futuro" ou "essa historia é contada nas notas de rodapé de uma poesia". Depois de passar pela fase ABC parece que ele perdeu a criatividade e ficou chato e repetitivo e só quer passar mensagenzinha e se vingar da industria dos quadrinhos. voz do fogo é muito melhor. volta moore.
Rodrigo 27/12/2022minha estante
Cara, to louco ou a foto do seu perfil é de Miracle Mile? Um dos meus filmes favoritos da vida


leonel 12/05/2023minha estante
e é mesmo




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