Resenhas - Os Funcionários

Rodrigo1001 01/04/2024

Futurístico (Sem Spoilers)
Título: Os Funcionários
Título original: De Ansatte
Autora: Olga Ravn
Editora: Todavia
Número de páginas: 136

Com uma capa simples e elegante e um enredo original e curioso, "Os Funcionários" é o primeiro livro da escritora dinamarquesa Olga Ravn.

Finalista do International Booker Prize de 2021 e indicado para o Nordic Council Literature e Romanprisen na Dinamarca, a obra é um romance de ficção científica ambientado em um futuro distante, onde seres humanos convivem com androides e seres geneticamente modificados.

A autora explora temas como identidade, solidão e a natureza da humanidade através das interações entre humanos e essas formas de vida artificiais. A narrativa é habilmente construída, alternando entre diferentes pontos de vista e utilizando um estilo de escrita que mescla elementos literários e científicos.

Estruturado em uma série de entrevistas conduzidas por uma narradora - que me pareceu uma espécie de antropóloga - as entrevistas revelam não apenas as características dos funcionários, mas também exploram questões profundas sobre a vida, margeando a filosofia, sem, no entanto, tocá-la.

Inventivo, quase nada se ajusta ao que vemos por aí: o livro rejeita a narração linear, o tempo é indefinido, a caracterização psicológica dos personagens é quase ausente, não há um protagonista (ou tendo, é um lugar) e a trama não corresponde ao modelo protocolar da ficção científica. Tudo é esquisito, mas, surpreendentemente, funciona.

Ou melhor, quase funciona...

Sendo uma sátira à lógica da produtividade ao mesmo tempo que indaga sobre os limites do que é ser humano, Ravn critica o sistema em que vivemos e traz para o debate as intempéries das relações de trabalho em tempos de inteligência artificial. O mosaico narrativo composto pelas entrevistas dá uma visão poliédrica das relações homem-máquina e conta com a parceria entre texto e leitor para complementar o seu sentido.

Em resumo, me pareceu um exercício intelectual bem esquematizado, mas a empatia com os personagens é gelada como um iceberg. E é essa lacuna que impede o livro de ser memorável. A frieza da literatura nórdica, nesse caso específico, arrefeceu a leitura, tornando-a insensível demais aos meus olhos e ao meu coração quente(e calejado!).

A sentença final? Valeu muita a experiência, mas ficou um gostinho de quero mais.

Leva 3 de 5 estrelas.

Nubia.Daumas 21/04/2024

Muito original
Através de depoimentos de funcionários em contato com um objeto misterioso a bordo de uma nave especial, podemos perceber como este contato é visto sob diferentes perspectivas e acompanhar as mudanças operadas nos humanos e humanoides. Os questionamentos sobre trabalho e limites do q é ser humano são incríveis e é difícil largar o livro até o final, mas a ausência de algumas explicações é o tipo de coisa q sempre me incomoda.

Roberto 19/09/2023

A perda da humanidade
Incrível obra sobre a procura da humanidade depois dos séries humanos. O formato do livro é uma experiência única que faz com que o seu universo respire para além das páginas.

Perigor 09/09/2023

O que significa estar vivo num mundo em que fomos feitos para o trabalho?
Um scifi de leitura rápida, dado o formato de depoimentos. Durante a leitura, acompanhamos a tripulação de uma nave em missão destacada para o reconhecimento de um planeta longínquo. Ao longo dos depoimentos, somos apresentados a diversos membros da tripulação, tanto humanos como humanoides. A partir do contato com objetos coletados no planeta em questão, a tripulação passa a demonstrar mudanças de comportamento que espiralam fora de controle.

Minha experiência de leitura me levou a considerar algumas camadas de sentido no texto. Existem lampejos do conflito dialético da criatura com seu criador, que me fez rememorar de Mary Shelley à Isaac Asimov e Philip K. Dick. Além disso, existe a crítica ao sistema de trabalho produtivista - é particularmente interessante a reflexão à respeito dos efeitos da obsessão com a produtividade, e acompanhar a tripulação compartilhando suas experiências enquanto lidam com rotina de trabalho, relações interpessoais e os misteriosos objetos alienígenas.

Ederson 20/08/2023

Boa ficção!
Ficção científica de qualidade, daquelas que se passa em um ano longínquo, em um ambiente futurista, mas que diz muito sobre a atualidade.
A forma é um convite à reflexão por longos períodos, tanto que demorei um pouco para ler um livro de poucas páginas e poucas palavras por página. É uma sequência de depoimentos e os lendo é que vamos juntando a história do que se passou dentro de uma nave espacial, onde humanos e humanoides começam a mudar de comportamento após o recolhimento de objetos de um planeta.

Flavio.Vinicius 06/08/2023

Os funcionários
Um dos livros mais perturbadores que eu já li. É uma ficção científica e um suspense. Os vários depoimentos dos integrantes da Nave Seis Mil, robôs e humanos, vão sendo apresentados de maneira que ficamos sabendo, pela palavra deles, o que ocorreu dentro daquela nave.

O perturbador é ir percebendo a ética do trabalho imposta àqueles funcionários, os quais parecem ter sido alienados a ponto de imaginarem que devem apenas servir, como se não houvesse mais vida própria, apenas o propósito de servir aos objetivos da nave. Percebi esse livro como uma crítica ao capitalismo e a nossa alienação, que nos retira da vida verdadeira e nos impõe uma vida como ferramentas do capital.

Fiquei imaginando que um dia se a humanidade inteira morrer, ainda assim o capitalismo conseguiria continuar prosperando, sem humanos, apenas com robôs e inteligência artificial.

A nossa humanidade é, portanto, muito valiosa. Não quero abrir mão da minha humanidade para me tornar um ser humano maquinizado, um humanoide do livro; quero ser cada vez mais um humano, limitado, e que almeja viver e não apenas produzir, desenvolver, progredir.

Excelente leitura, embora perturbadora.

Lucas 25/07/2023

ESTE LIVRO ALUGOU UM TRIPLEX NA MINHA CABEÇA
Gente do céu, que viagem! Amei!!! Muito único, com uma proposta muito diferente: um cenário improvável, personagens complexos em poucas linhas, uma premissa diferenciada, consequências inesperadas e um final de deixar você olhando pro vazio. Um verdadeiro exercício sobre o o que significa ser humano e ter sentimentos!

AntonioHOC 20/04/2024

Bom livro
Para além das questões do que é ser humano e a relação entre homens e máquina, que remete muito aos temas do Blade Runner, o livro traz boas reflexões sobre a relação do homem com o trabalho e a fetichização do produto.

Apesar da produção ser bem bonita e a edição ser nota 10, achei o livro bem caro se for levada em conta sua extensão, tipo é um livro que dá para terminar em 1 hora.

Iparisclarke 06/08/2023

Um livro bem ablubleble
O livro é curto então pensei que ia terminar em 2hrs no mínimo, porém acabei levando quase um dia pra ler, mas porque??? Simples, você não sabe quem está narrando e olha que são muitos personagens, não sabe a situação que tudo se encontra, nada é realmente explicado, mas está ali.

Não li a sinopse então achei o começo confuso, então fui ler e assim comecei a entender um pouco o que se passava, porém no final é tudo nada com nada e você termina com o sentimento de: Eu li certo?? Deixei algo passar?? Os capítulos são curtos, mas é tudo extremamente maçante e estranho.

Yasmin O. 12/08/2023

Literatura dinamarquesa. Ficção científica melancólica e reflexiva, quase um conto de horror existencialista no local de trabalho, que, no caso, é uma nave orbitando um planeta distante da Terra em algum lugar do futuro, contando com humanos e humanóides em sua tripulação.

O livro é narrado por meio de depoimentos prestados pelos funcionários para um comitê do empregador, após comportamentos insólitos começarem a ocorrer na nave, o que pode ou não ter relação com estranhos objetos recolhidos do planeta Nova Descoberta.

É um livro curtinho, algumas páginas só têm um parágrafo, mas com reflexões potentes e dolorosas sobre as relações de trabalho, alienação, desconexão, sanidade, tecnologia, sobre o que é ser uma pessoa e que p* estamos fazendo da nossa vida. Sim, só isso rs.

"Depoimento 35

Desde que me trouxeram pra cá, me convenci de que estou morto, mas, no meu caso particular, me deram permissão para continuar na simulação. Sou como uma planta totalmente murcha, exceto por um único ramo verde que ainda está vivo, e esse ramo é meu corpo e minha consciência, e minha consciência é como uma mão que toca em vez de pensar". Os funcionários - Olga Ravn

bardo 14/09/2023

É sempre uma grata surpresa se deparar com uma obra relativamente original que consegue dizer muito utilizando poucos elementos. Essa pequena novela de Olga Sofia Ravn cumpre esses requisitos com louvor.
Não se pode ignorar, entretanto, que algumas escolhas da autora, escolhas coerentes com o que é proposto, desagradarão alguns leitores. Por mais que tenhamos uma história fechada, nem tudo é esclarecido, não temos nem mesmo uma sequência exatamente precisa de acontecimentos ou personagens. O que temos são vários depoimentos colhidos entre a tripulação de uma nave em lugar e objetivos ignorados, tripulação essa formada por humanos e humanoides biosintéticos. Permeiam os depoimentos a presença dos “objetos” e seus efeitos nos eventos descritos.
Com elementos que lembram Stalker e Solaris a autora vai nos conduzindo numa incômoda narrativa onde a crescente desumanização de humanos e humanoides torna-se opressiva, em mais de um relato a ambiguidade não nos deixa saber se quem relata é humano ou não. Os paralelos mais óbvios: nossa relação com as IAs e tecnologia são os menos incômodos, aos poucos, porém o leitor reconhecerá certas relações, certas dinâmicas que tornarão a leitura que já era claustrofóbica, quase asfixiante.
O desfecho é perfeitamente coerente com o que foi construído e não deixa de encerrar uma certa beleza poética e brutal. Apesar do texto relativamente leve, não é uma leitura fácil, a depender do envolvimento do leitor com certas dinâmicas, alguns trechos serão verdadeiros tapas na cara. Eis um livrinho incomum e certamente uma autora para se ficar de olho.

Paulo.Vitor 28/09/2023


Como já diria Tyler Durden no Clube da Luta:
"As coisas que você possui acabam possuindo você."

O relato que mais gostei de longe é o 097, presente na página 81:
"Acho que vocês me desprezam. A meu ver, vocês são uma família que construiu uma casa. E das salas aconchegantes da casa estão admirando uma chuva torrencial . São e salvos ali dentro. A chuva não afeta seu conforto. Vocês estão secos e aquecidos. Desfrutando o que a vida tem de melhor. Chova o quanto chover, seu BEM ESTAR não será afetado. Já eu estou debaixo dessa tempestade que vocês acham que nunca os atingirá. Me transformei nela, eu sou essa tormenta da qual vocês procuram abrigo. Vocês construíram essa casa justamente para me evitar"


Gostei do livro e da forma como as críticas foram apresentadas. São colocadas de maneira natural, não ficando tão forçado ou exagerado.
O preço do livro está meio alto devido ser um lançamento recente, mas pra quem gosta da temática, creio que seja válido o preço.

Fernando.Dias 17/11/2023

Diferente
Não é alta literatura, mas funciona bem como um conto estendido. O destaque é a narrativa. Toda a estória é contatada por meio de depoimentos. No início parecem meio confusos e desconexos, mas o enredo vai ganhando ritmo e dramaticidade ao longo das páginas. A narrativa e o uso da ficção científica para tratar de temas como relações de trabalho, rotina, sonhos, frustrações, medos, diferenças, entre outros, tornam esse livro dinamarquês um entretenimento agradável e no mínimo diferente. Destaque também para a boa tradução, diretamente do idioma original.

romulorocha 12/11/2023

Funcionários, de Olga Ravn
Gênero: Ficção
País: Dinamarca
Ano: 2023 / 123 páginas
Editora: Todavia

Em funcionários, humanos e humanóides embarcam juntos em uma nave com o propósito de realizar pesquisas que viabilizem a colonização de um novo planeta. Os contrastes entre estes tripulantes levará a resultados nada surpreendentes, porém os registros diários através dos depoimentos deles trará novas descobertas.

Para os fãs da série de TV, Westworld, Funcionários traz uma proposta semelhante, mas com algumas características peculiares. Escrito através de depoimentos dos tripulantes, a trama oferece um olhar mais profundo para os personagens.

Para Funcionários, 8/10.

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BJekyll0 25/01/2024

Cada ação encerra em si um elemento de caos
Os funcionários, tá aí um livro extremamente curioso.
Humanos e humanoides estão em uma nave cuja tarefa é explorar um novo planeta. Mas não é simples assim. Cada página do livro é um depoimento, às vezes fica claro que é de um humano outras de humanoides e outras você não consegue discernir.
Os humanoides sofreram uma "evolução desagradável" que comprometeu todo o programa.
O interessante da obra é justamente isso, quanto mais eles evoluem, mais se tornam humanos e mais falha é a missão.
É um livro bem sinestésico, os sentidos são abordados de todas as formas possíveis, inclusive de forma poética ou desagradável.