Tuca 15/03/2023Sensacional de fato! Passar por uma decepção com Mrs. Henry Wood em “O pecado de Lady Isabel” me faz adentrar em “Anne Hereford” sem nenhuma expectativa, e assim, concluir o livro com a melhor das experiências. Comumente comparado à “Jane Eyre” eu só enxergo três pontos em que esses romances coincidem: na orfandade das mocinhas, no período escolar, e na existência de um mistério na casa dos Chandos, onde Anne à princípio vai trabalhar. Fora isso, a estrutura do romance lembra mais a fórmula do outro livro da autora “O pecado de Lady Isabel”, o que me leva a expor que esse não foi meu problema com a obra anterior, mas sim a ideia de que o pecado feminino não pode ser redimido, além de o mocinho ser um banana e a mocinha uma sonsa. Dito isso, em “Anne Hereford” apesar de Anne e Harry terem seus momentos de abestalhamento e falta de comunicação, eles me tocaram e me fizerem torcer por eles. E o mistério da trama é realmente um quebra-cabeça gostoso de desvendar.
Com elementos que trazem características de um romance de formação, do gótico e do sensacionalista, “Anne Hereford” tem nessa personagem seu centro e sua narração. Após perder a mãe aos onze anos, a pequena Anne muda-se da índia, onde antes morava com os pais, para a Inglaterra, local de residência de sua tia Selina, casada com Mr. Edwin Barley. A casa dos Barley por si só já era assustadora, mas Anne também não estava preparada para todas as intrigas humanas que ali se enroscavam. E devido a infortúnios decorrentes das tramas que ocorrem na residência, Anne é mandada para um internato. Anos depois ela torna-se dama de companhia de uma das colegas, Emily Chandos, e é levada à casa da família da jovem, onde vivem seu irmão Harry, a misteriosa Mrs. Chandos, Lady Chandos e alguns empregados. A cada dia que passava, Anne ficava mais envolvida com o mistério que rondava a família e com sua amizade com o igualmente charmoso e intrigante Harry.
O enredo é feito para criamos teorias, então é uma ótima opção de leitura para se fazer em conjunto. E apesar do suspense ser a principal força motriz da narrativa, eu gostei muito também da construção lenta e sutil do romance e de como naturalmente é inserida a discussão da importância da mulher escolher bem o marido, de não fazer casamentos apressados ou sem conhecer bem o noivo, tema bastante comum nos romances ingleses do século XIX. Como é um livro de Mrs. Henry Wood há religiosidade na história, porém diferentemente de em “O pecado de Lady Isabel” em que a questão religiosa para mim é colocada de uma maneira machista e sem as partes mais bonitas da fé, em “Anne Hereford” a fé não é algo que perpassa a trama inteira, mas apenas no seu final e é inserida de uma maneira muito agradável e natural.
“Anne Hereford” foi uma leitura maravilhosa e que também me serviu para tirar a má impressão que eu tive com a obra da autora em “O pecado de Lady Isabel”. Ele tem todos os elementos ideais de um best-seller do século XIX: romance difícil, assassinato, suspense e principalmente drama e intrigas familiares.
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