Bebida amarga

Bebida amarga José Almeida Júnior




Resenhas - Bebida amarga


6 encontrados | exibindo 1 a 6


Ivandro Menezes 03/06/2023

Em seu terceiro romance, Bebida Amarga, o potiguar José Almeida Júnior traz o conflito entre Marcos, jornalista comunista do a Última Hora, e seu filho, o também jornalista Fernando, quem faz oposição ao pai em praticamente tudo. O clima de tensão e polarização política dos anos que antecedem à Ditadura Militar constrói o ambiente e cenário em que a trama se desenvolve.

O romance consegue tratar dos aspectos históricos sem didatismo e de modo integrado aos dilemas e conflitos dos personagens. As relações familiares tensas, o amargor das divergências ideológicas, o moralismo e hipocrisia conservador e as contradições de um comunista numa sociedade capitalista, o descaso e a ausência de diagnóstico do autismo de uma criança vivendo no fogo-cruzado do relacionamento dos pais, a incompreensão da avó e o amor incondicional do avô, tudo mesclado às dispustas de narrativas na imprensa e aos bastidores da ascenção e queda da democracia brasileira.

A riqueza de detalhes, o modo natural e genuíno como suas personagens se deslocam e relacionam apontam para habilidade do autor. Além disso, o livro causa aquela sensação gostoso de curiosidade que te faz querer passar as páginas.

José Almeida Júnior prova-se como um escritor competente, habilidoso, atento as nuances de seu tempo e convicto de que o hoje realiza-se como uma repetição do ontem.

Um ótimo romance.

Tem resenha completa no site do LiteraturaBR.
comentários(0)comente



Paulo 12/03/2023

Nada como ler um bom romance histórico! Em seu terceiro livro, o escritor José Almeida Junior reafirma seu talento notável, que passou a ser conhecido do público com a obra Ultima Hora, ganhadora do Prêmio SESC 2017.

A ficção histórica é um gênero literário muito desafiador, pois, ao lado da criação artística, demanda do autor um compromisso com a verossimilhança em relação ao período retratado.

Mesmo que o conhecimento sobre a ditadura militar tenha avançado muito nos últimos anos, ainda há muito a se aprofundar com relação aos eventos que marcaram o Brasil nos primeiros anos da década de 1960, antes do golpe de 1964. É sobre esse período que o livro ?Bebida amarga? se debruça.

Marcos e Fernando, pai e filho, são personagens que já que apareceram no romance ?Ultima Hora?, mas o momento histórico era outro. Os dois, sem cair em maniqueísmos empobrecedores, sintetizam o clima político polarizado daqueles anos: a fundação de Brasília, a renúncia de Jânio Quadros, o impedimento por parte dos militares de que João Goulart assumisse o poder, são alguns dos acontecimentos que marcaram o período.

De todo modo, nunca é demais lembrar: se diversos trechos do livro nos fazem lembrar do momento atual, não significa de maneira alguma que a história se repete. O que acontece é a permanência de alguns aspectos que caracterizam a cultura política brasileira e, por esta razão, continuam se manifestando em nosso cotidiano.
comentários(0)comente



Talita.Chahine @cutucandoahistoria 22/11/2022

Uma familia dividida
O ano é 1960, Brasília está sendo inaugurada, a capital do País está mudando de lugar, e a ameaça do golpe militar nem existe.
Mas no meio disso tem uma família dividida, de um lado o Marcos um jornalista comunista, do outro o seu filho, um jornalista conservado, a única coisa que os une é uma criança, mas nem ela vai ser capaz de impedir a ruína dessa família.
Uma história que retrata a realidade de muitas famílias nos dias de hoje, e com o mesmo desfecho.
comentários(0)comente



Elane48 24/10/2022

CAMPARI
Que surpresa agradável reencontrar o povo de "Última Hora", do mesmo autor - livro que adorei!
José Almeida Júnior é sem dúvida meu escritor contemporâneo favorito! Ele escreve um gênero que eu curto muito (romance histórico) e com isso, além do aprazível entretenimento, tenho acesso a fatos que me remetem à formação do meu país. Eu gosto muito disso!
Em "Bebida Amarga" temos a continuação do antagonismo entre dois homens - pai e filho: um comunista, outro capitalista; um descolado, outro chato pacas.
Que ranço do Fernando! Ô cara enjoado, pegajoso, sem noção!
A grande surpresa, pra mim, foi a menina "Moniquinha". Gostei de ver uma criança autista no romance, sem que essa peculiaridade fosse mencionada.
Quer aprender sob ângulos diferentes como se deu o golpe militar de 64 no Brasil? Leia "Bebida Amarga" e veja também como a imprensa, como sempre, manipula a opinião pública.
Ler uma machete de O Globo saudando a democracia com a tomada de poder pelos militares é impagável!
comentários(0)comente



Helana O'hara 06/10/2022

A politíca em seu verdadeiro Caos
Que saudades que estava da narrativa desse autor. Quando li O Homem que Odiava Machado de Assis me apaixonei em como autor conduz suas obras e e seus personagens. Em Bebida Amarga vamos viajar no tempo lá para década de 60 a polinização política e o golpe militar que se instalou em 1964.
Marcos, pai de família, jornalista comunista que trabalha em um jornal de esquerda A última Hora e seu filho Fernando casado, cristão, também jornalista e trabalha do lado oposto do seu pai no jornal de direita Tribuna de Imprensa. Ambos vão para Brasília cobrir a inauguração de uma das obras mais importante para País e para Política. Lá no evento já tinha indícios que a próxima eleição seria caótica para ambos. Marcos acompanhando marechal Lott e Fernando Jânio Quadros a medida que o caos ia se instalando a vida deles iam se moldando a isso tudo e cada qual defendendo seu lado e tento uma visão completamente diferente dos fatos.
Temos ainda duas personagens importantes no contexto da vida deles, Anita esposa de Marcos que tem uma vida um tanto quando triste pelo marido dar mais atenção a política do que a ela e Rebecca mulher de Fernando, egoísta, rude e que não dá a mínima para a filha deles.
Essas famílias com uma estrutura delicada mostram como a política pode afetar a vida pessoal delas. Achei bem interessante o autor explorar muito durante a história.

A parte política de todo livro é um evento a parte. Autor soube colocar os personagens dentro do contexto histórico de uma forma tão natural que ao ler o livro você acredita de fato que esses dois jornalistas estão narrando para gente o caos lá de dentro mesmo! Abertura dos capítulos sempre traz um recorte de manchete importante da época mostrando o quão insano foi viver durante esses anos.

Um ponto mais que positivo foi a introdução das personalidades políticas reais na história. Autor menciona a dança de cadeiras presidenciais e como isso se instalou, políticos de destaque na época, tal como Brizola, Filinto Müller, Jânio Quadros. Outro ponto que gostei muito foi a colocação sútil de Nelson Rodrigues e a ciumeira de Marcos com ele.
Bebida Amarga trás uma história de ficção no olhar de dois personagens completamente diferentes embora sejam pai e filho, mas mostra como a Política se má administra pode virar uma verdadeira bagunça e uma guerra de egos.
Foi um dos livros políticos mais interessantes que já li, mostrando como é importante conhecermos nossa história para não errar no futuro.
comentários(0)comente



Leila de Carvalho e Gonçalves 08/09/2022

A Polarização E O Golpe
Acaba de ser publicado pela Faro Editorial, o terceiro romance histórico de José de Almeida Júnior. Em 250 páginas, Bebida Amarga cobre um dos períodos mais polarizados de nossa República, indo da inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960, até o golpe militar, 1 de abril de 1964, que redesenhou o panorama brasileiro pelas duas décadas seguintes.

A narrativa gira ao redor de um conflito geracional. Marcos, o pai, e Fernando, o filho, são jornalistas que estão politicamente em lados opostos. Enquanto o primeiro é um comunista convicto que trabalha num jornal mais à esquerda, Ultima Hora, de Samuel Wainer; o outro é um liberal-conservador que atua na Tribuna de Imprensa, de Carlos Lacerda.

Observadores privilegiados dos acontecimentos, eles terão suas vidas moldadas conforme seus princípios, permitindo diferentes perspectivas que se alternam ao longo dos 30 capítulos e esse resgate, isento de maniqueísmo, é um dos méritos do romance.

Um mérito que compreende um abrangente trabalho de pesquisa por parte do escritor que, minuciosamente exposto, pode tornar-se em alguns momentos exaustivo, mas faz do Brasil o protagonista de uma galeria de personagens convincentemente construída.

Uma delas é Mônica. Filha de Fernando, trata-se de uma menina autista, criada como problemática ou doente mental, já que esse transtorno era pouco conhecido há sessenta anos. Outra personagem interessante é Rebeca. Esposa de Fernando e mãe de Mônica, ela pode ser comparada a uma nova Capitu, pois sua honra é constantemente colocada em dúvida, mas jamais é comprovado qualquer indício ou boato. Aliás, é fácil cair na armadilha capciosamente armada por Almeida Júnior, que é um expertise do universo machadiano, inclusive, seu segundo livro, O Homem Que Odiava Machado Assis, versa sobre a vida e obra do escritor.

Finalmente, se você leu o romance de estreia de Almeida Júnior, o premiado Ultima Hora, Marcos e Fernando não lhe são estranhos, já que atuam respectivamente como protagonista e coadjuvante da história. Indo de 1950 a 1954, ela compreende o último governo Vargas e, a despeito de serem leituras independentes, formam uma duologia, porém, com um desfecho instigante, não me espantaria o futuro lançamento de mais um volume, originando uma trilogia.

Nota
- Um aspecto da edição não me agradou: as reproduções de páginas de jornais e revistas, que encerram cada capítulo, ficaram muito escuras. Inclusive, é uma pena que as fotos coloridas estejam em branco e preto. O resultado seria muito mais atraente, mas creio que a questão do custo tenha sido preponderante na decisão.
comentários(0)comente



6 encontrados | exibindo 1 a 6


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR