isa! 26/08/2023
Eu Nunca (Rowan’s version)
Se você, assim como eu, é viciado em validação acadêmica e, por essa razão, se sente - ou, já se sentiu - muito pressionado por conta da escola, principalmente pelos vestibulares, e, às vezes, pensa que não vivenciou certos momentos importantes do ensino médio por se preocupar demais com suas notas e com o seu currículo, esse livro certamente é para você. Assim como nós, os personagens são viciados em conquistar uma certificação acadêmica perfeita, competindo entre si para validar seu mérito, apesar de perceber, ao longo do tempo, que deixaram muitas metas incompletas para trás. Portanto, esse livro é uma passagem direta aos anos finais do ensino médio, com aquela pressão cruel acerca do esperado futuro - que não é mais futuro, mas presente -, e as sensações de não ter sido a pessoa que sempre sonhou que seria, de não ser aquela garota que sua eu de 14 anos gostaria que fosse. Além disso, a história é sobre dois jovens, rivais acadêmicos, que protagonizam um dia conturbado, cheio de revelações e aventuras que mudam seu rumo para sempre, transformando-se num lindo romance.
Rowan Roth, no primeiro ano do ensino médio, escreveu uma lista das coisas que gostaria de ser ou de realizar durante o ensino médio. Para mim, isso é totalmente normal, porque, desde pequena, assisto filmes ou séries que abordam o período do ensino médio e confesso que muitas vezes me iludi com o ensino médio americano ideal - High School Musical, isso é culpa sua! No meu primeiro ano do ensino médio, também fiz muitas metas do que gostaria de ser, tanto que planejava cronogramas de estudo de muitas horas - mesmo sabendo que não iria cumpri-lo -, e, por essa razão, quando não seguia o mínimo desse planejamento, costumava me sentir inútil o dia inteiro, ou seja, minhas próprias metas são capazes de me machucar. Quando Rowan lê sua carta de desejos de quando tinha 14 anos, sente-se deprimida, como se tivesse falhado com sua criança interna. Pois, de fato, não aceitamos nossas mudanças tão bem quanto achamos que aceitamos e, assim como eu, Rowan, durante o livro, não consegue lidar com o fato de que, enquanto crescemos, nossas vontades e desejos mudam, e, só porque não se parecem com as nossas aspirações passadas, não significa que falhamos ou que ficamos para trás. Além disso, a narrativa aborda a difícil passagem da vida escolar para a vida adulta, porque, pouco se fala, em como é complicado desapegar da mesma realidade de anos e em como a despedida do ensino médio pode ser sensível para muitas pessoas - inclusive para mim! Já dizia Taylor Swift: “A notícia assustadora é que você está por conta própria agora, mas a notícia legal é que você está por conta própria agora.” Tayloooor, não sei se quero estar por conta própria!
Neil, o outro lado do romance, é um nerd completo, com seus óculos e suas chantagens de rival acadêmico, mas, ainda sim, é um par romântico perfeito. Ele tem um desenvolvimento incrível na história, apesar de ainda precisar urgentemente de um capítulo no seu ponto de vista - faria qualquer coisa por isso! Na verdade, gostaria que a questão do seu pai fosse um pouco melhor desenvolvida, mesmo que tenha sido bem abordada, gostaria de saber um pouco mais sobre sua família, porém, tenho que lembrar que esse livro se passa em 24 horas - a aventura do livro apenas, porque Neil e Rowan se conhecem desde o começo do ensino médio. Neil, assim como Rowan, também é judeu e gostei muito da forma como eles foram se conhecendo aos poucos, se descobrindo e quebrando os parâmetros que um colocou sobre o outro. Na minha opinião, a aproximação deles é a coisa mais fofa dos últimos tempos, eles conversando coisas que não contam para ninguém é muito lindo. Apesar do livro se passar em 24 horas, a história não é corrida, tem seus momentos fofos e necessários para o enredo da mesma maneira - e até melhor - do que outros livros. Neil também tem medo de deixar o ensino médio como todos nós e tenta agarrar-se aos momentos que competia com Rowan, porque foi algo que o manteve focado por esses anos. É uma coisa muito bonita. Neil é um personagem muito sensível e adorei como não tem medo de demonstrar seus sentimentos - sejam eles tristes ou felizes - com Rowan, não temendo nem por um segundo parecer frágil. É muito difícil encontrarmos personagens masculinos que, verdadeiramente, expõem seus sentimentos para a trama, mas Neil não teve essa dificuldade. Ele nos mostrou que os bonitões também têm medo de deixar a família para se mudar para faculdade e também ficam preocupados em estarem incomodando seus amigos por conta de seus problemas pessoais. Por mais que não pareça, esses personagens são muito importantes para quem é jovem atualmente, já que vivemos em um mundo que acredita que pessoas que expressam a vulnerabilidade são apenas dramáticos sem causa. Na verdade, quando mostramos que também somos vulneráveis, nos tornamos pessoas muito corajosas. E Neil é um menino muito corajoso e, principalmente, apaixonante.
O romance do livro foi estruturado de uma maneira muito interessante. No enredo da história, os personagens estão em busca de uma caça ao tesouro, tradição do último ano da escola. Essas cenas são muito divertidas, especialmente, porque os outros personagens competem com as garras, não apenas pelo tesouro, mas para conseguirem ganhar de Rowan e Neil. Aliás, essa história me lembra a série “Eu Nunca”, em que, assim como Rowan e Neil, os personagens competem entre si desesperadamente, deixando toda a turma com um certo incômodo de serem eles os alvos da excelência da classe. Confesso que, desde pequena, sou como Rowan em uma sala de aula e continuo lutando por esse papel, mas, ainda sim, me sinto um pouco egoísta por ser o ideal de comparação para diversas pessoas que têm o mesmo potencial do que eu. Durante a caça aos tesouros, Rowan briga com suas amigas por conta de seus desejos diferentes e rumos que tomarão após a escola. Essa parte me quebrou ao meio, porque, durante o ensino médio, desejamos que nossas amizades sejam para sempre - apesar de sabermos que muitas delas não serão -, e nos obrigamos a continuar gostando das mesmas coisas e ansiando por desejos antigos para que possamos manter esse ciclo eternamente, porque uma vez perdido é o suficiente para acharmos que nunca evoluiremos. Mas, o que não sabemos é que, assim como nós, os ciclos mudam conforme crescemos e eles estarão sempre lá, nunca destruídos por completo. Em algum momento, Rowan e suas amigas vão se lembrar de que a amizade que possuem ainda está lá, e - não querendo parecer nerd - seu funcionamento é como uma substância radioativa, porque nunca se desintegrará por completo. Ao longo do livro, Rowan e Neil se unem para conseguir o prêmio juntos, com todas as suas implicâncias, tornando a história muito divertida e sincera, já que passam muito tempo juntos. Na minha opinião, a melhor cena é quando eles estão na biblioteca escura da escola. Eles são fofos de morrer!
Por fim, esse livro é muito fofo, os personagens são uns amores e o enredo é muito interessante, nos levando para as dificuldades do ensino médio e a quebra da rotina. Indico para todo mundo, especialmente para aqueles que querem um romance de rivais acadêmicos divertido, com muito desenvolvimento e bastante referências a músicas antigas.