A ilha do Doutor Moreau

A ilha do Doutor Moreau H. G. Wells




Resenhas - A ilha do Doutor Moreau


5 encontrados | exibindo 1 a 5


Feh 20/02/2024

Final interessante.
O livro começa com um ar de suspense. Tudo muito estranho, muito suspeito. Mas que ao desenrolar da história, nos mostra algo diferente. Algo que jamais imaginaria em algum livro. Com um final muito interessante.
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Josi 02/11/2023

Quando a embarcação em que estava naufraga, Edward Prendick é salvo pelo excêntrico médico Dr. Montgomery e acaba em uma ilha misteriosa, governada por Dr. Moreau, um cientista exilado por seus pares devido a sua obsessão por experiências cruéis com animais.

Aos poucos Prendick percebe a estranheza do lugar e as criaturas assustadoras e grotescas que o habitam, e o alívio pela salvação se transforma em pesadelo.

Nessa ficção científica perturbadora, escrita em uma época de vastas descobertas da ciência, o autor questiona os limites da ética e os métodos utilizados nesses estudos. Mais que isso: por trás de um enredo que parece simples, cheio de aventuras e inventividade, podemos encontrar duras críticas ao colonialismo europeu, que utilizava ideias evolucionistas para dominação e aplicação de um suposto projeto civilizatório ao restante do mundo.

Os experimentos de Moreau consistiam na junção de duas ou mais espécies em um único corpo, completado com características humanas, como o andar bípede e a consciência, ainda que limitada. Além de dolorosas, essas intervenções se mostravam falhas, pois não conseguiam suprimir a verdadeira natureza desses animais, e sem finalidade, já que depois as criaturas eram devolvidas à natureza, onde deviam se readaptar por conta própria, sempre cultuando seu cruel criador como um Deus.

Em alguns momentos, essas experiências sádicas em cobaias vivas me pareceram uma previsão bastante acertiva do que décadas depois foi feito com seres humanos em campos de concentração nazistas. Outras situações me lembraram os processos de subjugação e controle utilizados na escravidão. Em ambos os casos, há a predominância da visão dos brancos/europeus como raça superior e, por isso, com plenos direitos de dominação sobre outras raças.

É um livro curto, fácil de ler, cheio de mistérios e aventuras, mas que traz vários questionamentos em relação aos rumos que o desenvolvimento científico tomava na época.

E essa edição tem tradução de Monteiro Lobato!
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Ellie 17/09/2023

Experimentos
A crueldade e os limites éticos são o ponto principal, onde um cientista acha que pode tudo, indo além da compreensão humana.
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LAvia440 09/07/2023

Me surpreendeu positivamente
Comecei a ler esse livro com as expectativas baixíssimas, estava até um pouco desanimada para ser sincera.
Por se tratar de um livro mais antigo achei que a história seria arrastada ou que teria dificuldade de entender o vocabulário mais erudito.
Mas para a minha surpresa não ocorreu nada disso. Estava super inserida na história, muito focada e entretida. A escrita é muito gostosa e fluída, vai direto ao ponto sem ser superficial.
Fiquei pensando em defeitos para diminuir a nota e sinceramente não consegui. Sinceramente, gostei muito da história e foi uma das minhas leituras favoritas do ano até agora.
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Marc 28/02/2023

Quando o livro foi lançado, em fins do século XIX, a biologia ainda estava tentando digerir “A Origem das Espécies”, de Darwin. E a Europa vivia uma busca frenética por riquezas nos países africanos, o que seria uma das causas da Primeira Guerra Mundial. Freud havia publicado seus primeiros textos sobre a histeria e, curiosamente, usado o termo psicanálise ainda no mesmo ano de publicação do livro de H G Wells. Tudo isso combinado ajuda a explicar a intenção do autor ao criar uma ficção científica que beira o terror e tenta refletir sobre a humanidade.
Geralmente sou contrário a procurar paralelos históricos em livros, como se eles fossem metáforas de eventos e se limitassem a registrar a impressão dos autores, como um alerta para as gerações futuras. O que acontece aqui, no entanto, é que estamos diante de um socialista fabiano, ou seja, uma pessoa que trabalhava, sim, com intenções políticas em seus escritos. Isso muda tudo, a meu ver.

A primeira referência que devemos lidar é a do colonialismo europeu no continente africano. A Inglaterra, país de origem de H G Wells, chegou a ter um domínio tão vasto que era comum se referir da seguinte maneira ao Império Britânico: “O império onde o sol nunca se põe”. Em relação a isso o livro é uma ironia sutil, porque Moreau é um cientista que teve que se afastar da Inglaterra por ter caído em desgraça, devido a sua falta de ética na busca por novas descobertas. O mesmo acontece com Montgomery, que também fugiu de Londres por não ser uma pessoa capaz de corresponder à etiqueta social e fazer o jogo de poder de seu ramo de atuação. Ambos, então, procuram um lugar o mais afastado possível, uma ilha que sequer aparece nos mapas, para ficarem livres e dar sequência aos experimentos radicais. A ironia, se é que precisamos explicar, é que não importa que a ética seja rompida, basta que isso não aconteça diante dos olhos do império e tudo estará bem. O livro não explica, mas se essas pessoas cometeram crimes, como é o caso de Moreau, por que motivo estariam livres?

É muito importante contextualizar a crítica presente no livro, pois ela nos ajuda a compreender até onde o autor está disposto a chegar. A biologia havia dado um passo tão grande que não era de surpreender que houvesse textos especulando sobre o que poderia fazer. Mesmo que o livro de Darwin tivesse cerca de 40 a essa altura, o ensino da teoria da evolução demorou a se tornar dominante nas escolas e as pessoas simplesmente não compreendiam o pensamento de Darwin. Podemos dizer que essa é uma segunda ironia do autor, brincando com o sentido do termo evolução, como se fosse possível que os animais evoluíssem individualmente a ponto de tornarem-se humanos.

Se unirmos as duas provocações de H G Wells teremos uma reflexão sobre os valores éticos da dominação dos europeus sobre o mundo, tudo embasado pela ciência, que afirmava que o continente precisava transmitir seus valores ao mundo e fazê-lo evoluir ao mesmo ponto em que eles se encontravam. Se animais poderiam chegar a ser humanos, por que outros humanos não poderiam ser “como europeus”? Esse é o sentido do pensamento geral da incompreensão — ou deformação — do pensamento de Darwin na época e que o autor conseguiu muito bem ironizar. Quer dizer, Darwin servia como uma desculpa para o colonialismo europeu e a ciência funcionava como a racionalização para o verdadeiro massacre que acontecia em especial no continente europeu. Isso tudo, para um socialista como o autor, faz bastante sentido. Mas há um outro ponto importante.

Mesmo que essa humanização fosse alcançada, ela seria transitória. O livro abre para esse tipo de comentário, a despeito de parecer algo preconceituoso. Se a Europa conseguisse impor seu modo de vida fatalmente, o autor alerta, as mudanças seriam limitadas e durariam pouco tempo. Impossível “converter” à força, pois a natureza fala mais forte e o equilíbrio antigo é restituído. De uma forma ou de outra, as culturas massacradas pelo homem ocidental seriam recompostas, mesmo que estivessem repletas de cicatrizes e deformidades. Nesse ponto, se não lermos os ensaios do autor, esse tipo de observação passará ao largo.

Cerca de 20 anos depois, quando o mundo já havia passado pela Primeira Guerra Mundial, H G Wells escreveu um texto em que procurava criar meios para uma humanidade uniforme e pacífica. Ali ele mostra que a força gera resistência e que uma verdadeira conspiração aberta, que visasse a pacificação da humanidade só poderia alcançar esse objetivo se os países tivessem suas culturas lentamente direcionadas a um governo mundial. Não se trataria de uma violência, como foi o colonialismo, mas solapamento das bases de especificidade de cada cultura, como a religião, os valores específicos de cada sociedade, etc, para que todas se alinhassem a uma cultura dita global. O que o autor começava a descrever aqui, que assume ares de definição só décadas mais tarde, é que o problema da diversidade dos povos jamais seria resolvido pela imposição violenta pois isso faria com que os povos se fechassem às mudanças.

Em alguns momentos chega a provocar risos a maneira como o autor tenta criar um substituto para a imposição de valores do Ocidente sobre os povos colonizados. No livro, Moreau inculca em cada uma de suas criaturas que ele é uma espécie de deus e que a Lei que cria deve ser seguida sem qualquer tipo de exceção. Assim, as criaturas repetem, sem convicção alguma e sem a menor ideia do significado, o mantra de que não se pode matar, não se pode comer carne, andar em quatro patas ou sugar a água. Enfim, uma paródia — a meu ver não intencional, porque não há espaço para o humor — dos ensinamentos cristãos que tentavam catequizar povos que não tinham a menor ideia do que era tudo aquilo e não lhes dizia o menor respeito. Essa diferença entre os povos aparece diversas vezes ao longo do livro, com as criaturas formulando explicações místicas a respeito de máquinas, instrumentos e mesmo a atividade de Moreau. De modo que, parece, o autor perdeu a chance mostrar o quanto Prendick poderia ficar aterrorizado com aquelas criaturas que não conseguia entender e criar as explicações o mais malucas possíveis. Seria uma maneira de inverter o pensamento, colocando o colonizador branco exatamente no mesmo nível do colonizado e criando um argumento forte contra a teoria de raças que afirmava a superioridade do branco. Mas isso não ocorreu ao autor e ele perdeu uma grande chance. O livro oscila entre uma ficção científica e um terror, mas não consegue se firmar em nenhum desses gêneros e termina perdendo força, porque esclarece tudo muito rapidamente, não consegue explorar o terror do protagonista ao defrontar-se com as criaturas e encaminha para o clímax óbvio que, supostamente, deveria ser uma crítica à ciência.

Esse é apenas um comentário breve, mas o livro está repleto dessas críticas aos colonizadores, todas feitas com a melhor das intenções, mas que terminam manchadas pela direção que a obra e a vida de H G Wells tomaram.

Um pouco fora desse aspecto político do pensamento do autor, o livro se aproximava do terror em alguns momentos, como disse, mas não consegue descrever o que vai pelo pensamento do protagonista. Acredito que essa seja uma enorme limitação, um autor conhecido pela alta capacidade imaginativa, mas que não conseguia especular sobre os sentimentos humanos. Aqui, levando em conta sua obra posterior, poderia fazer uma série de suposições sobre suas opções políticas e essa limitação, mas prefiro deixar subentendido. No entanto, dado que ele parecia conhecer muito bem os progressos das ciências de seu tempo, talvez possamos explicar um pouco suas escolhas pelo conhecimento dos textos de Freud. Claro, isso fica na mera suposição, mas acredito que não seja uma perda de tempo pensar um pouco a respeito.

Quando Freud começa seu trabalho, é óbvio que não tem ainda nem mesmo as ferramentas conceituais, nem uma ideia definida a respeito do objeto de estudo. No entanto, a novidade de suas teorias saltava aos olhos desde seus primeiros escritos. Havia um enorme desenvolvimento da psiquiatria e a chamada Era Vitoriana produzia uma nova doença: a histeria. Havia o entendimento de que as pessoas eram “controladas” por algo que não estava exatamente em suas consciências. Freud se colocou esse problema e descobriu o inconsciente. Em termos gerais, porque é impossível mencionar o impacto que essa descoberta teve na humanidade, significava dizer que as pessoas não eram totalmente racionais e não tinha controle absoluto nem sobre sua fala, comportamento, decisões, etc. Aquilo que a civilização tanto prezava, portanto, era mais um efeito de superfície, que escondia um imenso abismo insondável. Além disso, Freud vai descobrir mais tarde, o inconsciente não possui exatamente a mesma linguagem que a mente racional. Os sonhos são manifestações complexas, que lidam principalmente com imagens, geralmente ilógicas, que misturam impressões e referências do dia, do passado, do inconsciente, etc.

No livro isso aparece na própria escolha das criaturas, que deixam de ser humanas tão logo a lei e o pai primordial sumam do horizonte. A civilização que Moreau criou se desfaz muito mais rapidamente do que havia sido criada. Mais uma crítica ao período vitoriano, onde a moralidade era muito observada. Outro modo de dizer isso é recorrendo ao conceito de Rousseau sobre o bom selvagem sendo corrompido pela sociedade. Levando em conta que essa é a base do socialismo moderno, era natural que H G Wells não apenas conhecesse, mas corroborasse essas teorias.

Sei que a quantidade de referências já fica exagerada e que o texto está um pouco confuso, mas essa é praticamente uma contextualização que ajuda a compreender o livro. A meu ver, devido a essa crítica política, à quantidade de ideias retiradas de várias áreas diferentes do conhecimento, o livro não consegue lidar com todas e praticamente vira um panfleto anticolonial. Havia um enorme potencial, mas aquilo que faria o livro interessante era justamente o que menos interessava ao autor, que tinha pressa em desmoralizar o Ocidente. Uma pena.

Por fim, para não dizer que seus esforços foram em vão, há que se notar que sem esse livro, jamais teríamos “A Revolução dos Bichos”. Mas não posso deixar de lamentar o que ele deixou de fazer. Creio que as pessoas gostam desse livro muito mais pela expectativa que ele cria do que por ele em si. Eu mesmo comecei com essa impressão, de que ele seria capaz de atingir o desespero do protagonista diante do desconhecido, num terreno também desconhecido e sem amigos a quem recorrer, mas não era sua intenção.
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