Amanda.Riselli 25/01/2023
Sobre O Silêncio dos Sinos
#4ªDeContos
Eu já sabia antes mesmo de começar a ler O Silêncio dos Sinos que seria amor à primeira lida, porque a Carol Façanha é uma das poucas autoras que conseguem atravessar o labirinto que leva ao meu coração, adentrando-o e tocando-o de uma forma singular e permanente.
Em um universo construído com tanta maestria e criatividade, a Ilha do Sino nos é apresentada, onde mulheres que costumam se encontrar na madrugada, cheias de sussurros e cânticos para venerarem a lua, começam a ser perseguidas e lançadas no Véu pelos Agentes do Sol, pois passaram a ser vistas como um empecilho para as novas crenças profetizadas e espalhadas pelo vento como verdades incontestáveis. Pompeu é um desses agentes, sendo considerado o braço direito do Bendito Superior, por isso fazia o seu trabalho de devolver as Filhas da Noite ao breu de onde elas vieram, sem contestar ou mesmo se interessar pelo local pra onde iam após serem lançadas, mas tudo muda quando ele passa a sonhar com ela?
Pois quando penso em seu rosto, Maladia, e espio a escuridão que me chama, uma pergunta me arranca do santuário em que estou ora preso, ora protegido. Sou seu cúmplice ou seu algoz?
Através de uma escrita poética, marcante e repleta de reflexões nas entrelinhas de suas metáforas, Carol vai descortinando esse universo distópico onde utopia é uma palavra desconhecida e onde sonhos (ou seriam pesadelos?) se misturam em imagens de memórias e profecias. Onde os sinos calam as ameaças e se dobram diante dos aliados. Onde há compra e venda de ilusões, patriotismo estranho, idolatria e lealdade cegas. Onde pessoas se julgam superiores às outras, buscando justificativas para seus atos e erros, porém sem sequer terem coragem de olhar para o próprio reflexo, enxergando suas fraquezas, falhas e imperfeições. É perceptível, portanto, o quanto essa ficção se assemelha à vida real, mesmo tendo como base elementos do realismo mágico e da fantasia sombria. Um silêncio necessário que ressoa nas profundezas de nossa alma, um afago fortificante nessa jornada tão árdua e barulhenta que percorremos.
É impossível não se deixar cativar pela Maladia, sentir e chorar todas as suas dores e se inspirar em sua resiliência! E resistir ao charme do Pompeu, esse personagem apaixonante pelo qual torci bastante para que a voz do seu coração falasse mais alto, despertando-o do sonambulismo proporcionado pela falsas promessas. Afinal, o amor (com todas suas nuances) é o único capaz de nos libertar, de nos tornar esperançosos (para seguirmos em frente sem medo do amanhã) e de vencer até mesmo a morte. Extraordinariamente belo e impactante!