A terra dá, a terra quer

A terra dá, a terra quer Antônio Bispo dos Santos




Resenhas - A terra dá, a terra quer


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Rebeca 15/03/2024

Saberes quilombolas
Nesta obra, Nego Bispo mostra alguns saberes quilombolas na questão sócio-ambiental e política. Achei interessante a forma como os quilombolas respeitam os demasiados seres vivos da Natureza e suas relações e habitos para com a mesma, com semelhanças que podem ser encontrada na visão dos povos indígenas. Gostei bastante do livro, só não dei 5 estrelas porque discordo do autor em alguns pontos específicos, como na perspectiva do "compartilhamento", eu vivi em comunidade indígena e posso dizer que o ato do compartilhamento não é o "mar de rosas" que ele descreve, até porque o ser humano é meio egoista por natureza. Outro ponto que também não concordei, foi na fala dele sobre restaurantes, pois acho que ele deveria criticar o sistema e não as pessoas, até porque os trabalhadores que habitam os meios urbanos não tem tempo nem pra fazer a própria comida, quem dirá psra visitas. No entanto, achei plausível a visão dele sobre as universidades, é bem coerente com a realidade acadêmica, pois o saber dos brancos acaba sendo o majoritário no meio acadêmico, infelizmente.
Halana.Katrine 21/03/2024minha estante
Um ponto que me deixou intrigada, é quando ele fala do "compartilhamento forçado".


Rebeca 21/03/2024minha estante
esse tbm foi um dos pontos que não gostei, não concordo, pois uma pessoa de baixa renda, na maioria das vezes, parcela o celular, pra vir um trombadinha e tomar e ela que trabalhou meses pra arrecadar a grana e acabar ficando sem??? isso é, no minimo, desrespeitoso com o próximo que sobrevive nas grandes cidades


Halana.Katrine 21/03/2024minha estante
Ficou uma fala bem hipócrita da parte dele, sem contar que passa uma vibe de romantização né? ?????


Rebeca 21/03/2024minha estante
sim sim!




Adriana Scarpin 09/06/2023

Livro impecável de Nêgo Bispo que saiu no Circuito Ubu esse mês, atravessa a essência quilombola da contracolonização de pessoas, animais e plantas, além da própria terra. É uma leitura rápida, porém de grande intensidade que coloca às claras toda "humanização" que nos vilipendia a todos.
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@emedepaula 13/06/2023

Cosmovisão quilombola
Posso dizer que entendo quase todas provocações de Nêgo Bispo nesse livro. É realmente muito bonito vislumbrar outras existências possíveis, outros léxicos, outras correlações e confluências, para usar um termo que ele mesmo reivindica. No entanto, saio do livro e me deparo com a minha realidade material, que é a mesma descrita com o maior desprezo, como se o modo vida dito "humanista" fosse apenas o lado da destruição. Não tomo isso como verdade. É preciso separar na fala de Bispo o que realmente vale ressaltar. Embora chegue ao fim da leitura sabendo um pouco mais sobre a cosmovisão quilombola, esta mesma parece não dialogar muito com as questões da cidade e sua enorme complexidade. Há certamente críticas pertinentes como a das milícias e condomínios fechados, por outro lado há uma simplificação do que é a vida no "asfalto". Na visão de Bispo, nas cidades só vivemos para consumir e morrer, e eu acho que tem bastante gente fazendo muitas coisas legais que passam longe desse determinismo. Enfim. Eu adorei o livro, mas algumas partes não caíram tão bem comigo.
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Hector 09/07/2023

Diálogos e fronteiras em um livro oral
Cheguei ao livro de Nêgo Bispo, publicado pela Ubu, pelo fio da polêmica e das críticas negativas advindas sobretudo do que eu imagino ser uma parcela de pessoas próximas ao marxismo. Dentre elas, pessoas qualificadas, que costumam travar debates sérios. Entretanto, os comentários depreciativos com os quais travei contato antes da leitura foram, de modo geral, típicos de um marxismo preguiçoso, que trabalha por petições de princípios e baba de raiva se não enxerga a palavra "revolução" nas primeiras 5 páginas de algum livro. Acho que é relevante dizer que sou marxista. Trato a revolução como horizonte absolutamente necessário, considero a luta de classes não um jargão ultrapassado e reducionista. Ao contrário, é um conceito que reflete a realidade, filosófica e sociologicamente sólido, como pouquíssimos conceitos conseguem fazer. Insatisfeito (ou até mesmo raivoso!) sairá o marxista dessa leitura caso nela queira encontrar qualquer continuidade de análises marxistas sobre a realidade.

Partindo disso, entenda-se: Nêgo Bispo é uma voz quilombola, formado por mestres quilombolas no Piauí, primeiro a ser alfabetizado em sua família. Isso deve informar o leitor de que este livro é uma versão escrita de ideias que circulam tradicionalmente de modo oral, a exemplo do que podemos observar em escritos de indígenas como Ailton Krenak e Davi Kopenawa. Por isso, creio, a estrutura organizada a partir de pequenos textos curtos reflete bem esse modo de saber. Lê-se, aqui, um quilombola aceitando fazer parte do jogo colonialista da escrita, porque sabe que isso pode render frutos. A existência desse livro é, sim, uma tentativa de dirimir o etnocentrismo das relações. Atitude similar é o mínimo que se espera do leitor não quilombola (seja ele marxista ou não).

Os pontos mais importantes do argumento de Nêgo Bispo, a meu ver, concentram-se na tentativa do autor de apontar como o paradigma humanista projetou e projeta, na teoria e na prática, padrões relacionais colonialistas. De fato, o humanismo enquanto construção filosófica hegemônica é fruto da modernidade. Filósofos atuais vêm tentando levantar esse debate também, a exemplo de Emanuele Coccia, ao propor uma volta filosófica à "vida das plantas" como modo de recolocar a relação com o mundo. Nesse sentido, para Nêgo Bispo, o "humanismo" é construído como o esfacelamento de cosmovisões nas quais o chamado "humano" é um elemento dentre vários, sem estar posicionado hierarquicamente de forma destacada. Portanto, nossos modos de viver (os modos não indígenas, quilombolas, tradicionais, por assim dizer) expressariam uma cosmofobia.

Tal cosmofobia alicerça a reprodução parasitária e destrutiva da vida humana, impedindo o desenvolvimento dos outros tipos de vida. A fim de denunciar e pressionar essas dinâmicas, Nêgo Bispo enfatiza o que chamou de "arte de denominar", isto é, propor palavras que expressem melhor um modo de viver não humanista, É nesse sentido que se entende a repetição de algumas palavras ao longo do texto, com destaque para a noção de "confluência", que se antagoniza à ideia de "coincidência". Trata-se, aqui, do que no jargão acadêmico chamaríamos de disputa no campo discursivo.

É por isso, por exemplo, que Nêgo Bispo chega a recusar os termos "cultura" e "política", por indicar que são constructos que já partem de um modo cosmofóbico de organizar o mundo. É óbvio que o comentário de dois parágrafos realizados por Bispo sobre o termo "política" pode ser considerado insuficiente ou reducionista para explicar toda a complexidade e polissemia do conceito em toda a tradição histórica, sociológica, filosófica, etc. Mas, adivinhem, Bispo não está nenhum pouco interessado em partir das nossas redes explicativas. Simplesmente isso. Ao contrário, o que me parece ser o ponto forte desses textos é a clara demarcação do autor da autossuficiência de um ponto de vista quilombola sobre tudo o que está falando, assim como a Caatinga pode também ser autossuficiente, para espanto dos sulistas e sudestinos, algo muito bem expresso na página 31:

"Nunca vamos atravessar para o lado do humanismo, mas também nunca vamos querer que o humanismo atravesse para o nosso lado. [...] A humanidade está aí, não vamos matar a humanidade. Mas como vamos nos relacionar com ela? Estabelecendo fronteiras.".

Esse ponto é crucial. Ele simplesmente desconstrói o recorrente lema progressista do "destruir todas as fronteiras", espécie de produto palatável à consciência cheia de culpa da esquerda branca. Nêgo Bispo quer demarcar as fronteiras, sim, quer fortalecê-las, pois defende e protege o modo de viver quilombola. É a partir disso, por exemplo, que o autor posiciona colonialistas e "decoloniais" (atenção, marxistas, inclusive a enorme parte dos decoloniais detratores do marxismo!) num mesmo grupo, o grupo do "eles".

Resta saber como esse diálogo proposto por Nêgo Bispo vai ser semeado também por nós. Não acredito que simplesmente desconsiderar um modo de vida que permanece forte, autossuficiente e desafiador depois de séculos das investidas assassinas do colonialismo possa trazer algo de produtivo. Bispo é direto, joga limpo: ele não está interessado em assimilar epistemologias, metodologias e análises que não sejam as coletivas-comunitárias a que ele próprio pertence. Lê-lo como uma reprodução enfeitada da ideologia liberal é pura e simplesmente não entender o ponto.

Acho difícil que pressupostos como o de Bispo, por um lado, e marxistas, por outro, possam coexistir em um programa político unificado. Como marxista, discordei de vários trechos, a exemplo do que Bispo fala sobre o mundo do trabalho. Isso não significa a impossibilidade de coexistência e aprendizado mútuo. Há que se pensar seriamente se fará parte da estratégia levarmos a sério a busca por uma posição menos etnocêntrica ou se, pelo contrário, iremos desvalidar livros como esse e, por extensão, modos de viver cuja história (assim como a história da luta socialista) permanecem sendo um incômodo a quem quer naturalizar o capitalismo.
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Vitória Gomes 18/07/2023

Contracolonialidade e saber ancestral
Antônio Bispo fala das suas vivências no quilombo e na cidade, destacando as relações com seres humanos e não humanos são diferentes no seu território do que é na cidade. A cidade segundo ele, é uma invenção colonial, de desconexão, desconfiança, desequilíbrio e desenvolvimento.

Sobre essa última palavra, ele fala sobre como precisamos criar um novo repertório: em vez de desenvolvimento - envolvimento, no lugar de cultura - modos de viver, ao invés de coincidência - confluência...

Seu saber ajuda a pensar outros mundos existentes nesse mundo, e suas formas de resistir e existir de forma integrada e equilibrada com o todo.
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Messias 04/09/2023

Não há o que falar do Nego Bispo. Um autor, ou um tradutor, como ele se denomina, genial. Um ótimo trabalho de ampliação de um pensamento que vem sendo construído, de forma consistente, nas últimas duas décadas.
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Caio194 07/09/2023

Confluências contra-civ e formas-de-vida contracoloniais
Já havia lido ensaios do Nego Bispo antes, mas esse texto mais completo é novo pra mim. Uma janela para as formas-de-vida contracoloniais, em especial dos povos quilombolas, em uma re-existência contra a "cosmofobia". "Eu não sou humano, sou quilombola. Sou lavrador, pescador, sou um ente do cosmos. Os humanos são os eurocristãos monoteístas". Me fez pensar em convergência (confluências?) contra-civ e em sociedades contra o Estado.
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Gabriela 02/11/2023

Saberes germinantes
Antônio Bispo dos Santos, conhecido popularmente como Nêgo Bispo, nos apresenta nesse livro uma série de cosmovisões quilombolas, com um vocabulário próprio e marcado pela oralidade.

Amparado pela ancestralidade que estrutura seus saberes, Bispo faz críticas contundentes ao colonialismo e ao capitalismo, sempre mostrando suas vivências como quilombola do interior do Piauí como contraponto. Sua escolha vocabular, inclusive, tem como objetivo o contracolonialismo, demonstrando como algumas práticas geracionais de seu povo vem sendo mercantilizadas e mascaradas como inovações.

Um livro para se pensar profundamente a relação com a terra e com todos os viventes, e também com a arte e o trabalho.
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Luísa 08/11/2023

A ideia de contracolonização dá lugar ao pensamento decolonial, uma vez que é defendida como resistência dos povos quilombolas ao colonialismo; uma cosmovisão que abrange não só os seres humanos, essa visão humanista limitada, mas a natureza e os seres vivos como um todo. nego bispo bom d+
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Rita Nascimento 11/11/2023

A Terra dá, a Terra quer - Nego Bispo
A arte de dar nome às coisas. É assim que se faz uma revolução. Com um posicionamento e ação demarcadamente contra colonial e contra capitalista, Nego Bispo nos traz a perspectiva cosmológica do seu povo para nos ensinar a renomear e integrar nossa vivência ao todo. A obra traduz a sabedoria ancestral da oralidade para a escrita tornando a obra acessível aos que estão desconectados da própria natureza.
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Rodrigo Kimura 13/12/2023

Simplesmente sensacional
Nada que tenho lido atualmente teve um impacto tão grande na minha forma de pensar quando comparado a este livro. Seguramente afirmo que Antônio Bispo dos Santos foi uma das melhores mentes que surgiu neste país.
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Conceição 02/01/2024

As nossas vidas não têm fim
Quando Nêgo Bispo morreu, em 03/12/2023, senti como se uma pessoa muito próxima de mim, me fosse arrancada antes do tempo. fiquei, de fato, consternada por dias. no entanto, ao ler "a terra dá, a terra quer", senti como se ele estivesse do meu lado conversando.

fantasiei que andava com ele por entre as matas secas, ouvindo-o filosofar e contar das histórias que há muito não ouvimos desse lado seco, quase sem sombra e calorento das cidades violentas. Nêgo Bispo está vivo, muito vivo. é impossível passar incólume por esse livro, por essas palavras, por esses pensamentos.

ele não vai, apenas, criticar o modo de vida humanista, cosmofóbico, como denomina, ele contará como o povo dele vive e quer continuar vivendo. só isso. por favor, gente da cidade, não me venha com suas ideias e planos e estradas e sustentabilidade, tudo isso que vocês trazem para a roça, só nos destrói. esse é o recado do Mestre Bispo.

uma mudança de vida. de paradigma. de perspectiva. tudo, absolutamente tudo, conectado com o cosmo, com a terra. é um livro curto, mas você não lê de uma sentada. você senta, lê, absorve e olha para o céu perguntando se é possível mesmo viver assim, como estamos nas cidades e nossa falácia urbana e orgânica e organizada. será que temos tempo para mudar ainda?

a tristeza de dezembro, com sua morte, se transformou em muita vontade de viver outra vida, outra história, integrada ao cosmo, que é a terra, que por sua vez, é o todo que somos.

"somos povos de trajetórias, não somos povos de teoria. somos da circularidade: começo, meio e começo. as nossas vidas não têm fim"
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Andressa 03/02/2024

Um livro curtinho, porém intenso e cheio de denúncias. Nêgo Bispo lança luz sobre diversas questões, entre elas o impacto do colonialismo nas comunidades quilombolas e o quanto o conhecimento quilombola foi ignorado e rechaçado, porque afinal, a agricultura quilombola não é mercadoria.
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Geisi9 11/02/2024

Para virar as certezas de ponta a cabeça!
No dia da partida de Antônio Bispo dos Santos recebi por encomenda "A terra dá,a terra quer".

Fiz a primeira leitura daquela que fazemos de uma vez só, sem digerir parte a parte, daquelas leituras que ficamos com nossas certezas balançadas e a cabeça girando. Deixei as ideias soltas pensando sobretudo nos detalhes do que é a cidade em que vivemos e de que modo as relações têm de dados cotidianamente.

Agora, em fevereiro, fiz nova leitura, dessa vez organizando as ideias, fazendo ligações com meu cotidiano e buscando pensar nos diversais que tenho a oportunidade de confluir diariamente.

Finalizo esse encontro com uma máxima que sempre adotei em minha vida e que sigo buscando como ideal: todas as pessoas com as quais me relacionam são necessárias e por isso me constituem e fazem falta quando estão distantes.

Antônio Bispo dos Santos, gratidão pela oportunidade desse compartilhamento! ?
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