hafronita 26/03/2024
Da imagem deturpada à aceitação de um novo recomeço
Essa passagem pode ser metaforicamente descrita como uma jornada repetitiva através de um labirinto de pensamentos, onde a personagem Duda se encontra presa em um ciclo incessante de busca pela magreza, uma obsessão que a mantém cativa, mesmo diante de diferentes eventos e reflexões ao longo da narrativa. Ela precisa ser tudo, menos gorda. O impasse cíclico-psicólogo da trama está nessa afirmação anterior: a negação de um corpo fora dos padrões e a falta de autoconhecimento por influências de comentários do seu entorno. Duda é uma alma vagando em um corpo estranho, como se Duda estivesse aprisionada em uma pele que não é sua, em uma narrativa que não a representa. Ela se perdeu de si mesma e está lentamente se esvaindo. As pessoas ao seu redor, sejam amigos, parceiros ou família, estão perplexas e impotentes diante das batalhas mentais que consomem-.
E ela não entende.
Ela não entende eles.
Ela não se entende.
Ninguém a entende, se ela não se entender primeiro.
O leitor se encontra imerso na história ao lado da personagem, tentando entender suas motivações e desafios. No entanto, quanto mais nos esforçamos para compreender, mais percebemos a complexidade e dificuldade da situação de Duda. A narrativa é uma jornada marcada por luta, persistência e uma quantidade imensa de coragem necessária para enfrentar os desafios apresentados. Não há de se negar a compaixão, mesmo que complexa, em entender todos os meios, cenários e interligações do passado-presente-futuro em que, em nenhum, Duda está vivendo.
Não, Duda perdeu a vida.
Perdeu a vida junto das calorias que queria perder.
Perdeu a vida junto das pessoas que perdeu.
Ela apenas não podia se perder, não se novo.
Ana Eduarda é diagnosticada com anorexia atípica, e a medida que ela passa a se escolher, ao invés de dar nomes e cores aos personagens que estão na sua vida, Duda encara a si própria em sua jornada ? deixando de canto tudo aquilo que ela fez, de si, um pedaço de carapaça sem vida.