O manto da noite

O manto da noite Carola Saavedra




Resenhas - O manto da noite


7 encontrados | exibindo 1 a 7


Alice.Gomes 08/01/2024

Me senti em um sonho antigo de um sono comum (coletivo). Quase me lembrei de algo que há muito me esqueci. Parece uma verdade que com o tempo de esvaiu, e com os sussurros do vento, da terra e das águas foi lembrada.
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jamilidepaula 06/07/2023

Queria ter lido o livro do fungo
é um livro diferente, cheguei nele por outro livro da autora (com armas sonolentas) e dá pra ver que ela tem uma voz e um estilo. gosto da mistura de estilos narrativos. mas me perdi mais vezes do que gostaria. em inúmeras vezes fiz indagações do tipo "ela quem?", "sumiu, tipo morreu? morreu?", "uai, voltou?" parece muito desconexo um capítulo do outro.
o capítulo do fungo é sensacional.
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Marcia 14/04/2023

Minhas impressões sobre o livro
"Sua primeira memória é uma memória em trânsito " E foi nessa pegada que viajei pela América Latina, com destaque pela Cordilheira dos Andes.
Um livro pequeno mas achei difícil e em vários trechos perturbador. A escritora reúne nesse livro vários elementos como : viagem no tempo entre presente e futuro, realismo fantástico, metamorfose, jornalismo, sonhos, alucinações, cultura indígena....
Há um espírito que está atravessando a Cordilheira e seu corpo, que não morreu, esta em outro lugar. E a Cordilheira ganha vida, conversa com esse espírito, conta sobre sua história, fala das guerras, dos massacres e dos milhares de mortos que lá ficaram...
Também encontraremos metamorfose, o personagem se transformando num animal...
A mensagem do livro, entendi que é o respeito a terra, a natureza, as diferentes culturas. Também mostrar o místico e a busca nossa sua origem, nossa essência e nos conhecer.
A escrita é diferente, ha diálogos meio surpresas, não colocados na forma convencional mas valeu a experiência
Esse livro, para mim, pede releitura.
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Matheus656 24/01/2023

?o manto da noite? combina diferentes pontos de vista sobre histórias que se entrelaçam de maneiras inesperadas.

a falta de linearidade me ?estacou? um pouco no início da leitura, mas, com o passar dos capítulos, o texto foi ficando intrigante e o ?caos? passou a fazer sentido. fazia tempos que não lia um livro tão diferente.

terminei o texto com a sensação de que deveria relê-lo. gostei muito da estrutura da escrita, com diversos narradores e linhas temporais. pra mim, o enredo em si não trouxe grandes inovações, mas o estilo me deixou bastante intrigado - a história não é o mais importante aqui, mas sim as escolhas narrativas que a carola saavedra fez.

o livro inteiro é um mosaico. são tantas camadas, tantos jeitos de entrelaçar destinos, idas e vindas no tempo, que uma leitura só não é o suficiente para alcançar todos os pontos abordados nesse livro.

recomendadíssimo (como tudo o que eu já li da autora).
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 18/12/2022

Carola Saavedra - O manto da noite
Editora Companhia das Letras - 160 Páginas - Capa: Ale Kalko - Imagem de capa: Caminhada noturna de Ruth Albernaz - Lançamento: 2022.

O lançamento mais recente de Carola Saavedra é um romance perturbador – por falta de definição mais apropriada – que desafia o leitor com soluções narrativas experimentais, muito além dos conceitos de polifonia e estrutura não linear no tempo e no espaço, já comuns na literatura contemporânea. De fato, a autora propõe uma abordagem radical ao combinar identidade, protagonismo e ancestralidade com base em diferentes generos literários, tais como: prosa, diário e teatro. Alguns desses temas foram abordados no livro de ensaios de Carola, O mundo desdobrável (2021) ao questionar o papel da literatura em um mundo no qual tudo parece mais urgente que a própria literatura.

Na abertura de O manto da noite é citada uma ilha que sempre existiu, referência subjetiva à ancestralidade e aos povos originários, recorrente ao longo da narrativa: "A ilha tem o formato de um pássaro. Seu voo subterrâneo. Mergulha e consome o próprio fogo. Flutua na borda de um mundo anterior. É como começa." Em sequência, uma protagonista não nomeada apresenta fragmentos de memórias da sua infância, sempre deslocada, em casa ou na escola, ela expressa estranhamento e dúvidas sobre a própria origem e os idiomas que a cercam. Sempre em movimento, ela sofrerá transformações reais e imaginárias, alternando passado, presente e futuro.

"Sua primeira memória é uma memória em trânsito. Tem três anos de idade e o avião onde está sobrevoa a Cordilheira dos Andes. Fala espanhol. É o único idioma que conhece. Mas a memória não é de palavras. É uma imagem. Olha pela janela, a Cordilheira está coberta de neve. Não sabe para onde vai. Brasil, explica a mulher ao seu lado. Mas ela não entende o que significa Brasil. A mulher ao seu lado diz ser sua mãe, mas ela não acredita nisso. A avó diz que a menina não a reconhece porque a mãe passou muito tempo no Brasil com o marido, seu pai, mas agora veio buscá-la, e ela vai com aquela mulher para o Brasil, viverão os três lá, no Rio de Janeiro, que é uma cidade muito linda, abençoada pelo Cristo Redentor. Ela chora, não quer ir para o Brasil com uma desconhecida, quer ficar com a avó. Não seja boba querida, você vai ver o seu pai, não está com saudades dele? Pai? Quem é o meu pai? A mulher que diz ser a sua mãe se enfurece, como é possível que essa criança fale tanta bobagem. A avó tenta defendê-la, coitadinha, você esteve quase um ano fora, as crianças esquecem muito rápido." (pp. 19-20)

Em certo momento, a protagonista passa a caminhar ao longo da Cordilheira, uma personagem aparentemente não humana, contudo a explicação de Julie Dorrico na orelha do livro é certeira sobre a intenção da autora: "Aqui a Cordilheira é gente. Isso não é uma metáfora, é um princípio indígena empregado na linguagem de Carola Saavedra para dizer, entre tantas outras, que a terra se lembra das guerras travadas sobre seu corpo; da máquina colonial ininterrupta que produz mortos, que de alguma forma é reativada outra vez e outra vez. A Cordiheira, no entanto, nos avisa que ninguém consegue fugir dos próprios mortos."

"Já perdi a conta, mas calculo que faz uns dez anos que estou aqui, apesar de que para mim os números não significam muita coisa. A neve transforma o tempo em nada, uma única tempestade. Um dia que nunca termina. Às vezes ouço vozes. São os mortos, me diz a cordilheira. Os mortos não falam, eu respondo. Claro que falam, o fato de você não escutá-los não significa que não falem. Está bem. Em todos esses anos aprendi que não se discute com uma Cordilheira, ainda mais com uma com tantos vulcões. A Cordilheira é feita de vulcões, com bocas enormes que gritam para fora, vomitam o interior da terra. Seu estômago de fogo. Seja como for, talvez ela tenha razão, talvez os mortos falem mesmo, um barulho infernal. São muitos séculos, mais de quinhentos anos de mortos que se amontoam, e, mesmo que a maioria estivesse coberta de neve, não era incomum que aparecessem braços, pernas, às vezes um corpo inteiro, como estranhas flores num deserto. / Aqui os mortos não morrem nunca, ela me diz. Enquanto o corpo não acabar o morto não morre. Bom, tem mortos que acabam, mas mesmo assim não morrem, eu digo. [...]" (pp. 43-4)

O diário carioca assume um tom narrativo bem-humorado ao dar voz a uma protagonista escritora (a própria Carola?) envolvida com um romance de ficção científica no qual um fungo percorre uma viagem interdimensional em busca de um planeta para colonizar; o romance é obviamente reprovado pela editora, gerando uma crise da escritora que tenta a publicação alternativa em uma edição de autor. Finalmente, esta obra pretensamente fadada ao esquecimento acaba se revelando uma chave para eventos do futuro em uma visão apocalíptica do Rio de Janeiro, tudo isso prenunciando a chegada de uma caravela do passado com personagens de Shakespeare: Caliban e Sycorax.

"Estou escrevendo um novo romance. Sobre um cogumelo extraterrestre que invade o planeta ainda no período cambriano. O cogumelo narra toda a sua trajetória desde a chegada, através de uma viagem interdimensional, quando a vida ainda não tinha saído da água. Li que os fungos foram essenciais para essa passagem, o surgimento de plantas que fizessem fotossíntese, e, por tabela, para o surgimento de quase toda a vida fora da água. [...] Meu principal problema com o livro é uma questão de técnica narrativa: como o fungo é um organismo sem cérebro, ou seja, de inteligência descentralizada, e eu me impus o uso da primeira pessoa do singular (tentei a primeira do plural, mas ficou ridículo), acabo presa na armadilha da minha própria linguagem. Teríamos que inventar uma voz que correspondesse a um tipo de inteligência que ainda não compreendemos. Fiquei pensando nos fungos capazes de encontrar o caminho mais rápido entre um ponto e outro, como seria essa comunicação? Talvez algo inconsciente, um saber do corpo, como andar de bicicleta. Uma memória do corpo. Os fungos sabem assim como o corpo sabe. Fico feliz com a minha conclusão, mas ela não me ajuda muito na escrita do livro." (pp. 86-8)

Sobre a autora: Carola Saavedra é autora dos romances Toda terça (2007), Flores azuis (2008), Paisagem com dromedário (2010), O inventário das coisas ausentes (2014) e Com armas sonolentas (2018), todos pela Companhia das Letras. Publicou também o livro de ensaios O mundo desdobrável (Relicário, 2021) e a coletânea de poemas Um quarto é muito pouco (Quelônio, 2022). Seus livros foram traduzidos para o inglês, francês, espanhol e alemão.
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Jasmine 14/11/2022

Sobre O manto da noite, de Carola Saavedra
Um fio de palavras desconcertantes se desenrola e aparece como um feixe de luz a indicar um caminho para sonhar. A única direção recomenda seguir em frente e mais ao sul. Esse fio transpassa noite e dia, sonho e vigília, mas é no enigmático universo onírico que o inverossímil se instaura, mas ?uma bruma separa o nada da existência?.

Em ?sonhos sonhos são?, Chico canta ?que língua é essa em que despejo pragas e a muralha ecoa?. Em ?O manto da noite?, uma das personagens de Carola canta para a cordilheira, que também é gente, e a cordilheira ecoa. A cordilheira pede música, aconselha, acolhe e vela a metamorfose de alguém. A cordilheira é uma, mas parece um coletivo, toda a ancestralidade, a única realidade. Por vezes, a música é o céu, ou melhor, as palavras são o universo, o céu é música, que entra em alguém, quando não resta nada, além da escuridão. No completo vazio, ainda há o som.

A descrição de uma consulta com um acupunturista chinês-peruano é puro enlevo e graça, como beber vinho numa xícara de chá, mas a força narrativa de Carola ?carrega nos ombros a sombra dos nossos passos? e abraça mais forte na ?tempestade?. Um manto que revolve a imaginação e a sensibilidade, transforma o corpo (?é preciso ter um corpo para poder amar?) e, aqui, a ponta do fio do início, que desconcerta. A linha é apresentada por ela, didaticamente, como um portal, para o qual tudo converge, onde é possível o trânsito entre passado e futuro.

A escrita da Carola convida ao pensamento e ao sonho, à caminhada em direção ao sul, ao tempo do homem de Neandertal e do processo colonizador, à mitologia, enfim; mas também ao futuro, sem códigos, onde nele ainda seja possível compreender o passado e mudar a história.
Alê | @alexandrejjr 16/11/2022minha estante
Que lindeza esse texto, Jasmine! Nunca me canso de ler tuas reflexões e devaneios sobre as leituras que te marcam.


Jasmine 16/11/2022minha estante
Fico muito feliz por isso, Alexandre! Muito obrigada! Seguimos dividindo nossas impressões por aqui e nos inspirando. ?




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