Queria Estar Lendo 23/05/2024
Resenha: A Rosa Sanguinária
Nicholas Eames ataca novamente com uma das melhores histórias de fantasia e aventura que já li. A Rosa Sanguinária é "sequência" de Os Reis do Wyld e acompanha, dois anos depois, uma barda se juntando ao lendário bando Fábula.
Tam é filha de um mercenário aposentado que não quer nem pensar nela se juntando a um bando. Ela trabalha em uma taverna e sonha com o dia em que vai poder pegar a estrada e cantar histórias, como sua mãe, uma grande barda, costumava fazer.
A chance aparece de repente: o Fábula, um dos bandos que Tam mais admira, comandado pela lendária Rosa Sanguinária, está em turnê. E precisa de um bardo para registrar suas apresentações gloriosas pelas arenas do mundo. Eles têm um contrato a cumprir e não pretendem chegar nem perto da Horda Invernal, uma marcha de mortos-vivos que tem devastado os lugares por onde passa - atraindo cada vez mais bandos para tentar derrotá-los.
A contragosto do pai, e com o alaúde da mãe em mãos, Tam parte em viagem com o Fábula e se aproxima dos seus grandes heróis: Rose, Freecloud, Brune e Cura, só para descobrir que toda a glória cantada em histórias não é exatamente a verdade. A vida de um mercenário é dureza. O lado bom é que ela é só uma barda.
A Rosa Sanguinária é um livro tão bom que me faltam palavras para expressar o quanto ele é bom.
Se você gosta de The Legend of Vox Machina, Dungeons & Dragons, Tormenta20, etc, e ainda não foi ler esse autor, você está cometendo o maior errado da sua vida!
Os Reis do Wyld já tinha sido um favorito. Uma história irreverente e cheia de adrenalina acompanhando os mercenários aposentados em uma última aventura.
Aqui, a gente está no ápice do bando. O Fábula é um dos maiores do mundo, lendário em tudo que propõe. Rose é uma das maiores guerreiras que se conhece. Então é curioso que eles estejam em uma turnê fazendo apresentações em arenas, enfrentando monstros em coliseus, quando poderiam estar marchando em busca da glória.
Através dessa questão, o autor nos conduz, sempre acompanhando a Tam, às reviravoltas que permeiam o bando. Tudo que envolve o Fábula é muito criativo, seja o conflito principal ou os individuais.
Tudo que envolve esse mundo é muito criativo. Toda a questão com os bandos, com os agentes, as apresentações, os contratos, a construção de grandiosidade que se tem em torno dos heróis porque eles são os salvadores, sempre - que é desmistificada durante a história, aliás, porque nem todo monstro é realmente um monstro.
"Eu dei o meu coração para ela, e ela me deu uma faca."
Cada um dos personagens tem seus arcos de desenvolvimento muito bem marcados na história. Brune é um xamã com problemas familiares. Cura tem traumas que enfrenta com monstros que invoca das tatuagens em seus corpos. Freecloud e Rose são um casal enigmático, e guardam um segredo que envolve todo o bando.
E aí tem a Tam, que é só uma barda. Mas longe de ser só isso, realmente.
A Rosa Sanguinária é aquele tipo de aventura que começa despretensiosa. É só um encontro em uma taverna que vai levar a uma pequena missão, e de repente se torna uma coisa grandiosa porque a união do bando é maior do que qualquer coisa.
"Ela passou a perceber que aqueles heróis eram humanos, afinal, tão falíveis quanto qualquer pessoa que ela já tinha conhecido. Ainda mais, até."
É uma família que sangra junto, luta junto e se protege de todos os horrores do mundo. E, rapaz, como tem horror nesse mundo.
O grande problema do livro, que vai levar a um embate épico no fim, só se releva com uma reviravolta chocante ali pelo meio. Todas as decisões que o bando toma os leva até ali, e é ali que a história deles muda. Que eles são forçados a ser a lenda que são.
Eu gostei demais de todos os personagens. É aquele tipo de amor que nasce de uma found family, e é impossível não se importar com eles. Brune e Freecloud são carisma puro. Rose, em toda a sua seriedade, é uma líder que dá gosto de acompanhar. Cura é sarcasmo e deboche temperados com umas patadas bem afiadas, e eu me apaixonei perdidamente.
E aí tem a nossa barda. Que é lésbica, aliás! Uma garota sonhadora que encara a realidade de maneira bastante madura. Ela é a voz dessa história, com suas músicas inspiradas e seu apoio incondicional. Ela vê seus heróis e se torna parte de quem eles são com o passar do tempo. A barda do Fábula é a peça essencial para essa história acontecer como acontece.
"Todo mundo sofre. Nós todos perdemos pessoas que amamos, e não é sempre justo. Mas só um monstro pinta o mundo com o mesmo pincel de sangue."
O livro tem de tudo. Aventura, batalhas, monstros sanguinários, dragão, humor cômico que escorre das páginas. Tem romance sáfico, tem corações partidos, tem um sátiro com a língua mais suja do mundo. É o que uma boa aventura medieval pede: uma farofa de tudo.
A edição da Trama tá linda demais. Eu não canso de elogiar essa capa que, igual a de Os Reis do Wyld, vende certinho a ideia do que é esse livro. A gringa fala de uma história sombria, que não tem absolutamente nada a ver com ela. A tradução de Regiane Winarski é um primor. Tudo tão bem adaptado, o humor e a tensão e o peso da narrativa do autor se mantém. Outra tradução maravilhosa dela, como sempre!
"Mas ela desconfiava que ninguém era o vilão de uma história sem ser o herói de outra."
A Rosa Sanguinária entrou pro meu top 5 de melhores leituras do ano, e ocupa o primeiro lugar por enquanto. É um livro genuinamente hilário e emocionante que, no final, me deixou chorando igual um bebê. O autor sabe como evocar as emoções nos melhores momentos possíveis, e nos coloca dentro da aventura com esse bando lendário como se fôssemos parte dele.
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