Neylane Naually 26/03/2024"Quem sabe onde uma mulher começa e onde termina?"Tehanu é o livro 4 da aclamada série de fantasia Ciclo Terramar da Ursula K. Le Guin e foi o meu primeiro contato com a autora e com Terramar. O livro veio 20 anos depois do terceiro, A última margem, e avança 25 anos na história, trazendo agora o depois de Tenar e Ged, com a adição de Therru, uma garotinha especial que sofre abuso e tem parte do corpo queimado.
Conhecer uma serie no seu quarto livro é um desafio interessante, mas Ursula consegue fazer funcionar sem deixar pontas soltas pra quem chega atrasado. O leitor tem que abrir a mente e deixar aqueles novos conceitos e mundos entrarem e então será livre para enfim mergulhar na fantasia e abstrair tudo que ela tem a oferecer, e Tehanu se mostra muito rica, tanto em construção de personagens e histórias como em conceitos e discussões, pertinentes até para o nosso mundo mundanamente real.
Terramar é cercada de magia, línguas secretas, dragões escondidos... e muita misoginia. Ursula aponta excessivamente esse ponto, o que não era muito debatido quando o livro foi lançado, em 1990. A própria autora admite que o livro foi taxado de "feminista" e não foi bem aceito pelos leitores, mas a história se manteve viva e forte até hoje, resistindo ao tempo e cimentando sua importância na literatura de fantasia mundial.
Eu gostei demais! Quero conhecer mais de Terramar, os livros que vem depois de Tehanu e os que vieram antes também. A escrita da Ursula é como um abraço, envolvente e aconchegante, porém sabe apertar o coração quando necessário.
O livro é o lançamento de março da Editora Morro Branco e eu recebi um exemplar em parceria com a editora. A edição é muito linda, ótima tradução e ilustrada.
"Ah, veja, minha querida, uma mulher é uma criatura completamente diferente. Quem sabe onde uma mulher começa e onde termina? Escute, senhora, eu tenho raízes, tenho raízes mais profundas que esta ilha. Mais profundas que o mar, mais antigas que a elevação das terras. Eu volto à escuridão. ? Os olhos de Musgo cintilavam com uma radiância estranha nas bordas vermelhas, e sua voz era melodiosa como um instrumento. ? Eu volto para a escuridão! Antes da lua, eu existia. Ninguém sabe, ninguém sabe, ninguém pode dizer o que sou, o que uma mulher é, uma mulher de poder, o poder de uma mulher, mais profundo que as raízes das árvores, mais profundo que as raízes das ilhas, mais antigo que a Criação, mais antigo que a lua. Quem se atreve a fazer perguntas à escuridão? Quem vai perguntar à escuridão o nome dela?"