Zeka.Sixx 21/12/2022
O melhor livro da Clara - até agora!
Em seu segundo romance, a autora novamente coloca a si mesma como protagonista, numa habilidosa autoficção que, em momento algum, sucumbe às armadilhas do gênero. Clara, a protagonista, é uma escritora de trinta e poucos anos, com prêmios literários no currículo, que se desdobra entre um trampo e outro, enquanto aproveita os momentos de folga para curtir a vida de solteira em Porto Alegre, ao lado de suas amigas Jaque e Melissa, geralmente no boteco favorito do trio: o Bar Esperança (em uma bela homenagem da autora ao filme de Hugo Carvana).
Aos poucos, contudo, o livro vai mostrando como as vidas regadas a chopes gelados, gargalhadas e noitadas de sexo casual das três amigas passam a ser afetadas, em maior ou menor grau, por situações de risco e violências cotidianas geradas e praticadas por homens. Fugindo de clichês e sem forçar a barra, Clara expõe como todas as mulheres, mesmo aquelas protegidas por diversas camadas de privilégios, continuam à mercê de uma sociedade que ainda está longe de se livrar do famigerado "machismo estrutural". As situações que o romance apresenta são um mero reflexo do que infelizmente é vivenciado, todos os dias, por diversas mulheres no Brasil e no mundo.
Entre diálogos espirituosos e ágeis e uma escrita direta ao ponto, sem firulas, Clara se mostra uma autora em franca evolução, apresentando uma obra ainda melhor do que a sua anterior - que já havia sido excelente. É daqueles livros que são quase impossíveis de largar depois que se começa a ler. Uma leitura fácil, no melhor sentido possível da expressão, mas que trata de temas difíceis, espinhosos e, o mais importante, muito necessários.