Duda.bae 09/04/2024
2 reais ou um bilhete misterioso?
Isso não vai ser uma resenha muito elaborada, apenas um registro geral da minha opinião sobre a obra.
Quero começar dizendo que a sinopse deste me chamou bastante a atenção, fiquei curiosa para saber como iria ser o decorrer da história. Achei a ideia muito interessante, apesar de não ver tanto sentido, mas o King não seria ele se não fosse suas ideias bizarras e fascinantes ao mesmo tempo.
"Ande ou morra, essa é a moral da história. É simples assim. Não é a sobrevivência do mais apto fisicamente, foi nisso que errei quando me permiti entrar nisto. Se fosse, eu teria uma chance."
O livro tem alguns capítulos bem lentos, mas há outros com cenas bem tensas, como por exemplo o Garraty cochilando e chegando a sonhar enquanto continua a caminhar, nos deixando apreensivos e querendo que ele acorde para não levar as três advertências. Ou então quando um dos garotos surtam e começa a levar advertências até o limite (são três no total, na quarta vez ganha o bilhete e é eliminado). São vários momentos assim, que nos deixam querendo saber o que vai acontecer a seguir, isso prende atenção.
"A única coisa que importava era a brisa fresca que soprava no alto da colina. E o som de um pássaro. E a sensação da camisa úmida na pele. E as lembranças na mente. Essas coisas importavam, e Garraty se agarrou a elas com consciência desesperada. Eram dele, e ele ainda as tinha."
Vamos conversar um pouquinho sobre o personagem principal, o Garraty. Ele é um bom garoto, daquele tipo que cresce sem dar muito trabalho para os pais, teve uma boa educação e aparentemente tem um bom relacionamento com eles na medida do possível. Tive a impressão que ele tem mais afinidade com a mãe quando o pai ainda não havia "ido embora", aliás, Garraty fala do pai como se ele tivesse sido mais rígido na criação, apesar do livro não aprofundar nada com relação a isso. O garoto também passa a impressão de ser afetuoso, sempre pensando na namorada Jan e às vezes na mãe também, inclusive o que motiva ele a continuar caminhando é encontrar as duas que estariam esperando para vê-lo em uma das cidades por onde a marcha passaria, isso o ajudou a continuar por muito tempo.
"Mas algo ia mais fundo, uma lógica mais verdadeira e mais assustadora. Harkness era parte do grupo do qual Garraty fazia parte, um segmento do subclã dele. Parte de um círculo mágico ao qual Garraty pertencia. E se uma parte daquele círculo pudesse ser quebrada, qualquer parte podia ser quebrada."
Sobre os outros personagens, Olson, McVries, Baker, Harkness, Abraham, Barkovitch, Parker, Scramm e Stebbins, são os personagens que mais aparecem, pelo que me lembro, mas tem mais alguns. Uns são apenas chatos e irritantes, entretando, Olson e McVries são aqueles tipos de personagens meio irritantes metidos a engraçadinhos, que falam bastante e que acabam ganhando a empatia do leitor de alguma forma, pelo menos a minha eles ganharam, porém Olson perde essa personalidade com o decorrer da história. É gritante a diferença da pessoa que ele é no início para a pessoa que ele se torna depois dos 35%; ele se fecha no seu mundinho e praticamente se perde por lá.
Enfim, é legal ver a amizade dos garotos se construindo aos poucos, e da mesma forma que amizades são construída também são destruídas, afinal, apenas um poderia sair vencedor.
"Toda a Marcha parecia não passar de um ponto de interrogação. Disse para si mesmo que uma coisa daquelas devia ter algum significado mais profundo. Só podia ter. Uma coisa daquelas devia oferecer resposta a todas as perguntas; era só uma questão de manter os pés em movimento."
Eu confesso que esperava que tivesse um motivo por trás dessa Marcha, mas é apenas isso, uma competição criada pelo governo apenas como um entretenimento para o público, entretenimento esse que aparentemente não deveria ser questionado pelos cidadãos, pelo menos foi isso que eu entendi.
"Estava tudo bem, no fim das contas, não estava? Ele estava vivo e não adiantava pensar no futuro, um em que ele talvez não existisse mais"
Algumas mortes passam batidas, porém, outras me tocaram tanto que me arracaram lágrimas. Eles eram apenas garotos participando de uma competição, e ao meu entendimento a maioria não estava ali pelo prêmio, é triste, mas tive a impressão que alguns deles estavam ali porque não sabiam o que fazer da vida, talvez até mesmo um desejo subconsciente de morte, isso é até citado por um dos personagens. E por mais triste que isso seja, eles estavam ali por vontade própria, e o fim a gente já imagina. Ah e algumas cenas são bem violentas e gráficas, então cuidado se você sensível a isso.
"Pensar, pensou Garraty. Esse é o trabalho do dia. Pensar. Pensar e se isolar, porque não importa se você passa o tempo do dia com alguém ou não; no fim das contas, você está sozinho."
No geral, é uma obra que traz várias reflexões, acho que foi o livro do King que eu fiz mais marcações por enquanto. E por ser um livro mais reflexivo ele acaba sendo mais lento, às vezes até cansativo um pouco, apesar de ser curto. Enquanto eu lia parecia que estava ali com os garotos andando enternamente sem chegar a lugar algum, e a história é exatamente isso, eles andando sem parar em linha reta, mas sem uma linha de chegada, apenas caminhando para continuarem vivos.
SPOILER:
Não posso falar muito sobre o final sem dar tantos spoilers, mas vou tentar falar o menos possível.
Eu estava desde ontem pensando sobre esse final, e cheguei a conclusão que foi bem coerente, depois de tudo o que vencedor passou; depois de todas as perdas; as dores; cansaço, achei a a reação dele ao vencer foi sim coerente, ele não quis saber do prêmio, não quando tinha o sangue dos seus amigos e até um pouco do seu também e mesmo depois de tanto marchar ele teve forças para correr pra longe de tudo aquilo, ou pelo menos tentar, porque a gente não sabe o que acontece depois que ele corre.
" ? É a única coisa que espero. Se existir um? um além, eu espero que não seja escuro. E espero que dê pra lembrar. Eu odiaria andar por aí no escuro pra sempre, sem saber quem eu era ou o que estou fazendo lá, sem nem saber que eu já tinha vivido algo diferente."