Ca Melo 14/06/2021Segunda chance para a FerranteNo ano passado eu li o primeiro livro da Tetralogia Napolitana e fiquei com a sensação de que faltava algo. Era como se as palavras de Elena Ferrante não tivessem me tomado, como tocou a maioria dos fãs. Até que graças ao Clube do Curinga pude dar uma nova chance à autora.
Porém, minha experiência com “A vida mentirosa dos adultos” foi diferente. Logo nas primeiras páginas fui fisgada pela história da protagonista Giovanna. Eu ficava fissurada a cada capítulo, que sempre guardavam uma reviravolta, fazendo com que a leitura fosse envolvente do começo ao fim.
Sob a perspetiva em primeira pessoa da Giovanna, o leitor é imerso numa jornada de autoconhecimento e descobertas da adolescência. Assim, questões relacionadas ao corpo e sexualidade são bastante exploradas ao longo da narrativa.
Ainda, trazendo os conflitos familiares, justamente por conta dos segredos guardados ao longo dos anos. Fazendo Giovanna questionar os valores e princípios construídos pelos seus pais. Então, o amadurecimento da protagonista é permeado por mentiras e a revelação delas. Tudo isso no contexto marcado pelas diferenças sociais na cidade de Nápoles, na Itália.
Nesse sentido, a protagonista é construída de modo cru e real . Ou seja, Ferrante não faz questão de mostrar uma personagem perfeita. Muito pelo contrário, já que chegamos a questionar diversas atitudes da jovem. Motivo este que, confesso, pode desagradar muitos leitores. Porém, eu gostei, justamente por nenhum personagem ser perfeito, mas guiado principalmente pelos seus desejos.
Assim, acredito também que a maneira como a sexualidade foi explorada foi muito positiva. Isso porque não retrata os estereótipos da perda da virgindade como algo relacionado à romantização da pureza da mulher.
Apesar do final aberto, eu gostei muito da leitura. Assim, posso dizer que “A vida mentirosa dos adultos” vale muito a pena. Quem sabe agora eu me animo para continuar os demais livros da Elena Ferrante.