Kamilla 14/03/2022CorajosaConfesso que sou uma leitura voraz de romances de época, são rápidos, distraem e são despretensiosos, lógico que em determinado momento, depois de muitos livros lidos você nota que os plots começam a se repetir. Um dos plots mais usados em romances de época é o do libertino que é ‘reformado’ pelo amor de uma mulher pura e angelical.
O livro de Anne Bronte é uma versão corajosa e realista de como um casamento desses de fato seria vivido na época retratada por esses romances. A pura e religiosa Helen se apaixona pelo ‘bad boy’ Arthur, que inicialmente também se apaixona por ela. Os dois se casam na crença ingênua que o amor puro de Helen cortará as raízes dos modos egoístas e irresponsáveis de Arthur, e com o tempo a ilusão começa a se desgastar até que Helen se vê aprisionada em um casamento extremamente abusivo.
Se relacionamentos abusivos são difíceis de se escapar em 2022 é complicado até tentar se colocar no lugar de uma mulher em uma época em que de fato a lei e a sociedade davam direitos absolutos ao marido sobre esposa e filhos. A partir do momento em que Arthur desiste de ‘ser reformado’ pelo amor e pelo exemplo de Helen e volta aos seus velhos hábitos cabe a ela se adaptar ao estilo de vida dele que inclui alcoolismo, violência, libertinagem e o descontrole financeiro.
O lado revolucionário do livro é se colocar ao lado da mulher que usa os poucos recursos que tem para fugir de tal casamente, ainda por cima levando o filho, se hoje em dia parece o mais lógico, na época foi considerado escandaloso e imoral que o livro defendesse o ponto de vista de Helen e ainda a presenciasse com um final feliz.
Provavelmente vou continuar lendo os meus romances de época com seus libertinos reformados por muito tempo, mas graças a coragem de Anne Bronte eu sei que tais mudanças só existem no reino na fantasia, de certa forma ela me presenteou com uma das heroínas mais corajosas e destemidas da história da literatura.