Alê | @alexandrejjr 20/04/2021
Crônica sobre um épico
Que tarefa árdua, Erico. Como eu vou fazer isso? Como posso convidar desconhecidos para conhecer a mente de outra pessoa, no caso, a sua, Erico? Complicado…
Mas eu vou tentar. Posso começar pela galeria inesquecível de personagens irretocáveis, citando o doutor Carl Winter - que, cá entre nós, era a sua voz dentro do romance, certo, Erico? Quem sabe o embate estranhamente real entre Luzia Silva e a agora temida Bibiana Terra, uma personagem que, nada me tira da cabeça, será, graças à sua literatura, imortalizada como uma mulher de carne e osso nos becos da minha memória, parafraseando esse título maravilhoso de um livro da escritora Conceição Evaristo. Devo citar também o filho de Luzia e neto de Bibiana, o homem que carrega o sangue do capitão Rodrigo, Licurgo Cambará. O que será que o futuro reserva a ele nos próximos tomos? Bom, isso eu irei descobrir em seguida, sozinho.
Não, é pouco o que estou oferecendo. Talvez o caminho para convencer alguém a ler os dois primeiros tomos de “O tempo e o vento” seja argumentar sobre o ritmo hipnotizante da sua prosa. É uma boa opção, certo? Muitas dúvidas e poucas certezas sobre o que falar, Erico, como a boa literatura demanda.
A verdade é que qualquer tentativa de digitar palavras que expliquem a sensação de virar as páginas do segundo tomo do seu épico me parece inócua, Erico. Como explicar aqueles momentos em que, ao pegar o livro, eu fugia da minha limitada realidade entre as quatro paredes do meu quarto para um mundo onde a imaginação não tem limites? Como explicar essa viagem proporcionada pelas tuas frases e diálogos? É possível? Acho que sim, certo, pois é nisso que você acreditava. E eu também acredito.
Acreditei que tomava meu amargo (chimarrão, para os “estrangeiros”) enquanto os gaudérios puxavam fumo. Participei como um convidado vip das intrigas da família Terra Cambará. Estive nos corredores desse personagem à parte chamado Sobrado e acompanhei as andanças do tempo e as preocupações do metafórico vento dos acontecimentos através das reflexões das personagens secundárias e, é claro, do alemão, do estrangeiro Carl Winter. Vi o nascimento rasteiro de uma República pelos olhos das intenções ambíguas de quem queria o poder, enquanto os negros escravos eram alforriados e jogados à incerteza de viver algo que desconheciam devido à desumanidade de seus donos: a liberdade. E tudo isso aconteceu de um ponto de vista privilegiado, reservado especialmente para nós, leitores.
Obrigado, Erico.