Leonardo.H.Lopes 14/05/2021Uma declaração de amorQuando ler vira um hábito e você já leu tantas coisas na vida, acaba que ler algo que realmente te surpreenda se torna algo raro. Não que ler se torne alguma coisa que a gente faz por fazer, quem é leitor sabe do prazer de simplesmente ler, mas quando a leitura vem acompanhada de emoção, paixão, êxtase, estupor, respeito, admiração, a literatura é elevada a outro patamar. Nesse exato momento, acabo uma jornada de três meses por uma obra que nem sei ao certo como descrever, há tantas coisas a ser ditas e contempladas nesse texto que esse é apenas um breve relato de uma experiência.
Cheguei ao fim dessa história homérica com personagens que deixaram marcas indeléveis na minha vida literária e que com certeza deixarão saudades. Sempre me lembrarei, naqueles momentos em que meus olhos brilham longe porque estou contemplando aquelas cenas que só existem na minha cabeça e que me foram dadas pelos livros, de cada personagem, desde Pedro Missioneiro até Floriano Cambará. Me recordarei do Angico, do Sobrado, de um certo Capitão Rodrigo, de Ana Terra, Dinda, Luzia, da figueira da Praça, das paisagens serenas gaúchas, das revoltas e revoluções, das aventuras de Bio, das superstições e folclores, dos ideais, d’O Retrato. Sentirei saudades de Santa Fé, uma cidade fictícia onde eu morei nesses três meses enquanto percorria essas duas mil e quinhentas páginas e que agora me sinto como um morador que fez as malas e se foi, sempre disposto a recordar de cada pedacinho como se fosse seu lar no mundo dos fatos. Toda vez que ventar, lembrarei da contenda entre o tempo e o vento, recordarei da velha Bibiana se balançando em sua cadeira e de todas as situações que as mulheres daquela família tiveram de suportar e o representaram, muitas vezes de modo anônimo, na história de um povo, tanto intra como extranarrativamente.
Com toda certeza, essa obra literária fez de mim uma pessoa melhor, uma pessoa capaz de sentir mais as nuances e sutilezas da vida, alguém com uma habilidade melhor de tentar traçar, nas medidas de minhas possibilidades, pontes entre as ilhas que cada ser humano representa no arquipélago que é a humanidade. Verissimo sai do desconhecido para se tornar um dos meus escritores preferidos, um dos que eu mais respeito, admiro, e um dos que escreveu algo que me fez recordar do poder da arte literária. O Tempo e O Vento é uma declaração de amor do Erico Verissimo para o Rio Grande do Sul, para esse país e para nossa literatura.