22 menos 1

22 menos 1 Adalgisa Nery




Resenhas - 22 menos 1


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Ronaldo Thomé 22/11/2023

"I'm diggin' my way/ I'm diggin' my way to something"
Belo livro de contos que nos revela a maturidade de uma autora pouco lembrada hoje. Adalgisa Nery teve longa carreira literária e era muito envolvida com questões da sua época, inclusive arte e política.

Os contos deste trabalho são bem variados, discutindo sobre vários temas. Os dois primeiros contos flertam com o terror psicológico; alguns são mais cômicos; outros em parte se assemelham a monólogos, com narradores em primeira pessoa. Muitos giram em torno de dramas familiares e tocam em problemas super atuais, como a opressão feminina, o machismo e a violência cotidiana (tanto para mulheres como homens).

Em especial, alguns dos melhores contos são narrados em primeira pessoa, em geral por uma narradora feminina, em meio a suas reflexõesNery tem um estilo fluido e agradável, que une bem o psicológico com o concreto (com resultados variados, dependendo da proposta da história). É fácil se lembrar do estilo de Lygia Fagundes Telles ao ler seus contos: a narrativa fluida, a inserção de elementos fantásticos nas histórias, a reflexão política e crítica do seu tempo. Porém, Nery vai muito além disso. Em geral, seus textos são bastante aprofundados psicologicamente, o que os aproxima de Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector, por exemplo. 


Importante, no entanto, lembrar que a autora tem um jeito próprio de narrar, sendo essas apenas referências para quem nunca a leu (muitos dos contos, se escritos em versos, estariam próximos das reflexões que Aline Bei, por exemplo, faz hoje). Enfim, mais uma grande descoberta, e talvez o livro mais surpreendente do ano!

Indicado para: quem curte a literatura nacional, numa de suas melhores representantes.

Nota: 10,0 de 10.
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Lopes 20/09/2018

| A ambiguidade sonora |
Adalgisa Nery nos contos deste “22 menos 1”, confere a sua voz narrativa situações que permitem conversas adultas ainda submetidas ao colossal trauma da existência. As investigações metafísicas partem, e se repartem, na busca incessante de observações mais profundas, forçando delírios que se transformam em respostas irrestritas, divagando entre o submundo e a consciência. Conversas com sentimentos estranhos desenvolvem a imaginação, criando um robusto estoque carnal que estimula a ideia de ler pessoas. A intriga e o desenrolar de cada história asseguram a importância dos contos como pequenas conversas entre nós mesmos. Nery precisa tocar fatos e ideias, além de certezas como o tema morte, para se autoenxergar. O exercício da autora é, antes de tudo, se vigiar como escritora, questionando a atenção do leitor. A velha rivalidade entre o imaginário e o real. É uma espécie de ‘do que se trata quando falamos sobre algo’. Adalgisa sabe romper os tratamentos, terminando sempre com pontas soltas, já que nem a morte consegue influenciar as palavras e sua importância, somente abafá-las. E isso cria uma cisão que revoga a importância de findar um ser, como a autora faz em seu primeiro conto sobre suicídio. Ela olha o fato pelo seu fim, articulando sua posterioridade, esquivando o ato em si. Em primeiro momento o que, neste conto que abre o livro, podemos ler é o diálogo sobre as razões aos olhos das amigas que tal fato ocorreu. Adalgisa Nery ronda para pegar desprevenidas tais premissas e sensações de temas caros para a existência, e com isso ela edita momentos sensoriais únicos, incapazes de sairmos ilesos.
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