Sâmella Raissa 22/05/2016Resenha exclusiva para o blog SammySacional
As mulheres da família DeWitt são conhecidas por terem dons especiais. A principal delas, Lolla DeWitt, fora a matriarca da família que, no entanto, acabou por sofrer perdas inesperadas. Assim, com o desaparecimento da mãe de Tatianna, e a morte dos pais de Faith e Cailey, a responsabilidade pelas três garotas ficou por conta da avó, a quem elas muito se apegaram. Agora, já mulheres feitas, elas procurando seguir com suas vidas após a morte da tão amada avó. Faith, em especial, sofre não apenas por essa perda, como ainda lamenta pela morte inesperada do marido após um acidente de carro, já há alguns meses. Desde então, distanciada da irmã e da prima, sua única família, Faith tem como refúgio suas flores, uma vez tendo como dom a capacidade de entendê-las e associá-las à outras pessoas das formais mais profundas e reais possíveis, por mais hesitante que ela ainda seja à esse respeito.
Mas ainda que morta, Lolla continua a surpreender as netas com uma série de cartas endereçadas especialmente a cada uma delas, escritas antes de sua morte. Cada uma delas, sob a responsabilidade do jovem Thomas, ajudante de Faith em sua floricultura, tem uma data exata para ser entregue, e a primeira delas acaba por ser endereçada à Faith, que tem como missão fazer uma pequena visita ao túmulo da falecida avó, levando-a a se deparar com Rowan, um homem que tem vivido um tanto quanto amargurado desde o assassinato da irmã gêmea, há alguns meses. O caso, na época, ganhara grande repercussão, mas os esforços da polícia não foram suficientes, até então, para encontrar o assassino, aumentando ainda mais sua indignação com tudo. Um novo crime, no entanto, acontece surpreendendo à todos, vendo a possibilidade de ambos os casos estarem relacionados de alguma forma, as investigações são ativadas novamente e Faith, envolvida pelo sentimento de ajudar de alguma forma, acaba por envolver-se com a investigação, ao passo que também se envolverá com o irmão da vítima.
“— Qual o significado dessa flor? — indagou, tendo a certeza de que ela o teria na ponta da língua.
— Significa ‘encontro’, como se algo que estava sendo procurado tivesse sido achado. — explicou, mas nem ela mesma compreendia o que aquilo tinha a ver com Rowan.
— Hum... — murmurou. — Faz sentido!
— Não entendi.
— Eu encontrei você, Faith!”
Já faz uns bons anos que tenho conhecimento dos livros de Bia Carvalho, mas admito que nunca havia parado para lhes dar a devida atenção ao ponto de cogitar a leitura. Após envolver-me e surpreender-me bastante com Horas Noturnas, da mesma autora, decidi engatar na leitura da Trilogia das Cartas e qual foi minha surpresa ao me ver novamente envolvida com seus romances como na leitura de Jardim de Escuridão? Ainda que com um início um tanto quanto apressado, de certa forma, com o passar da leitura fui vendo-me cada vez mais envolvida com o enredo e os personagens de Bianca, e por entre uma narrativa fluida e direta, em terceira pessoa, não demorou muito para que, logo mais, eu me visse avançando as páginas freneticamente, ansiando por saber o desfecho dessa história.
Os personagens, de um modo geral, são muito bem desenvolvidos, cada um com seus pontos principais de personalidade e que cativam o leitor na medida certa. Faith, principalmente, segue a linha de uma jovem mulher que tivera muitos sonhos na vida, dentre os quais se realizara grandemente com um casamento que era o sonho de sua irmã e prima, mas que, no entanto, acabou cedo demais, com o acidente iminente. Desde então, mais reclusa que o habitual, ela receia seguir em frente e abandonar as boas memórias do falecido marido, Henry, ao passo que, no entanto, vê-se cada vez mais disposta a ajudar Rowan em uma nova investigação para descobrir, ao menos, o assassino da irmã dele e sentir que contribuiu para algo realmente útil de alguma forma, mesmo sem entender, à princípio, seu interesse e, logo mais, atração pelo homem.
Rowan, por sua vez, vem de uma família rica, os Allers, que, no entanto, tem sofrido desde a morte da jovem Ursulla Allers, e a chance de reaver a investigação para vingar a morte de sua irmã não apenas vem na hora certa, como, também, possibilita o encontro com Faith, por quem ele rapidamente se interessa e, à medida que conhece mais a fundo sua história e a de sua família, sente-se ainda mais disposto a protegê-la. Nesse ponto, quando o romance começou - que, na verdade, foi bem no primeiro capítulo ainda -, senti que esse quesito em especial se desenvolveu um pouco rápido e abrupto demais. Do nada eles estavam se conhecendo e logo em seguida começaram a envolver-se e Rowan, em particular, soou um pouco grudento demais, por insistir tanto que já estava apaixonado por ela mesmo com tão pouco tempo de conhecidos. Ok, o livro tem essa vibe de 'estava predestinado, então é claro que eles sentiriam essa conexão logo de cara, de alguma forma', mas ainda assim, acho que poderia ter sido melhor desenvolvido.
“— Então além de compreender as flores você também é vidente? — brincou ele, rindo e deixando-a envergonhada.
— Não é isso. Foi apenas uma intuição. — respondeu, tentando disfarçar o embaraço.
— E ela costuma falhar?
— Não muito.”
Apesar disso, a leitura se seguiu bem e admito que, por muitas vezes, eu me via principalmente envolvida com os momentos da investigação. Costumo me interessar muito por encontrar as pistas de algo e começar a moldar o quebra-cabeça da situação para, então, desvendá-la, e nessas cenas em particular eu ficava especialmente agitada, maquinando, junto aos personagens, Jayce, Debra e Steve também, os policiais da trama, quem seria o assassino e quais motivos ele teria como incentivo para cometer os assassinatos. Não é uma elaboração nível máster, mas ainda é toda uma investigação tão bem desenvolvida e com detalhes que se interligam de formas tão minuciosas e coerentes, que eu definitivamente não esperava por muito do que aconteceu no desfecho. Principalmente quando, além da investigação principal, um outro tópico surgiu de repente, trazendo questionamentos tão inesperados que, no fim das contas, acabou por envolver-me quase tanto quanto o mistério principal do livro.
Por fim, ainda que com as ressalvas sobre o romance, no mais, só tenho elogios a fazer à obra de Bia Carvalho, primeiro livro da Trilogia das Cartas, que ainda que com uma grande concorrência entre o gênero de romance policial e um toque de sobrenatural, consegue destacar-se com bons personagens, um mistério muito bem desenvolvido e articulado, e, de sobra, um plot twist inesperado, mas não menos surpreendentemente positivamente! Devidamente recomendado, principalmente para os leitores do gênero no quesito nacional, e que venham muito mais livros da autora!
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