Clube do Farol 02/09/2022
Resenha por Elis Finco @efinco
Olá, pessoa! Minha resenha de hoje é sobre o livro que já ganhou as Primeiras Impressões aqui no Clube (clique aqui para conferir). E estou certa que se você já leu, sabe que a expectativa e ansiedade ficaram bem altas após a leitura dos capítulos iniciais. Enfim, estou aqui para contar como foi a minha experiência de leitura dessa obra, que, com certeza, é bem mais que apenas uma história de terror.
Preciso começar dizendo que a própria edição é parte dessa experiência, a começar pela capa, folha de guarda, prefácios e imagens que preparam quem irá ler, criando toda uma ambientação, expectativa, tal qual assistir um filme em um cinema, onde cada coisa é pensada para criar o todo. Assim, deixo logo no início meus mais sinceros elogios. Porque funcionou!!!
O livro é a história de um ator que repetidamente interpreta um único personagem, em apenas um único momento da vida dele, a Via Crucis. Então o imagine assim como os atores que interpretaram o "Papai Noel" nos Natais, eles mantêm sua imagem pronta para ser próxima da imagem associada a seu papel. E, claro, a dúvida que permeia tanto o ator quanto o imaginário dos seus fãs é: Até que ponto o ator acredita em seu personagem e o quanto ele próprio vive no cotidiano o papel que interpreta?
A história é narrada pelo próprio Fausto, com uma linguagem tanto do cotidiano, quanto erudita, a depender de quem está dialogando com nosso personagem principal. O texto se constrói de uma maneira muito fluida e de fácil entendimento. Alguns trechos ganham a narrativa em terceira pessoa, criando um distanciamento da cena, como de quem olha de fora, e traz uma visão que, além de melhorar o entendimento, dá a quem ler um sentimento de profundidade, quase como se a história ficasse em 3D.
Claro que quanto maior seu conhecimento em relação às referências existentes no texto, mais rica fica a história, mas ela própria te explica as alusões e alegorias, o que deixa o texto de fácil entendimento.
Os diálogos são, para mim, sensacionais e também o ponto chave dessa escrita, porque, à medida que acontecem, mostram que a linha entre o real e o abstrato é tênue. Esses mesmos diálogos são um convite ao pensamento crítico, ao quanto o que acreditamos, de fato, é um credo assentado à definição bíblica ou uma forma de costume cultural passado de pais para os filhos, sem nenhuma base mais sólida, que apenas serve como muleta social aos medos do desconhecido.
Em Laila temos a análise crítica, racional, lógica e marcada pelos ponteiros do relógio. Nos diálogos do consultório vemos que, mesmo em um ambiente que teoricamente seria estéril de fé, aquilo que somos enquanto pessoa não se separa do todo em nome da ética profissional. E que a pretensa verdade absoluta deixa de existir quando o medo das respostas é maior do que a pergunta. Deixando durante a leitura a pergunta: Estaria Fausto louco ou apenas mais lúcido que a maioria?
Tal qual os escritos sagrados, o diabo toma a forma que lhe convém para causar o efeito a seu intento. E assim, como fez a Eva, tenta nosso personagem com as promessas, seja de castigo ou poder, o que convém a seu discurso. Me deixando com a certeza de que foi por dar ouvidos ao diabo que Eva pecou. Seu agente, Elias, é a personificação do provérbio que diz que aquele que serve a Deus por dinheiro, servirá ao diabo por um salário maior.
E assim os quatro principais montam o palco dos caminhos que a humanidade trilha a cada dia, colocando o seu próprio “Eu” no altar e se esquecendo que, no plano geral do universo e até mesmo do sistema solar, nada mais somos que um pequeno planeta orbitando ao redor do sol.
A narrativa é pautada por capítulos e marcando parágrafos como versículos, fazendo parte de uma diagramação perfeita para o convite a emersão nessa história, que lida com nossos maiores “pecados” e “virtudes”, em um convite sedutor a repensarmos nosso papel como humanidade. O terror, para mim, não fica por conta da presença do mal encarnado, e sim das respostas às perguntas que somos levados a nos fazer durante a leitura. Será que queremos saber as respostas?
Encerro minhas palavras sobre a história dizendo que, sem ofender a nenhum credo, Fausto expõem as mazelas da humanidade diante da finitude. O maior dos temores, que é a mortalidade, leva o fanatismo a níveis inumanos, para garantir uma eternidade divina, que nega nossa existência.
A escrita do autor continua insinuosa em nossa mente durante a leitura, levando do medo às teorias, perguntas um tanto quanto filosóficas sobre algo tão abstrato quanto a fé. Sem negar a existência de Cristo, o grito de que o fim está próximo e as escrituras se cumprem, dão o tom de algo que, para mim, aterroriza mais os mortais do século 21 que o próprio diabo. A morte.
Com imagens que marcam a imaginação, antes abstrata, em arte concreta em tons de preto e branco, papel e fontes perfeitos para uma leitura confortável, uma revisão textual excelente e uma encadernação de luxo com corte de borda em vermelho, capa dura e verniz dando uma sensação de alto relevo. Temos, sem dúvida, mais que um livro, um presente a qualquer estante.
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