laricass 19/10/2023
Quando acaba o século XX
"E nem sempre ?casa? quer dizer ?lar?. Casa sempre foi um local de repouso e abrigo. Já lar é um conceito criado pela burguesia, no século XIX, que tendeu a idealizar esse lugar, sublinhando o modelo de família estruturada e esquecendo dos conflitos por lá inerentes. Muitas vezes romantizamos esse espaço, sem ver que, nesse contexto pandêmico, os números de violência doméstica aumentam. Os de feminicídio e de infanticídio também."
"Uma particularidade do momento que vivemos é que as pessoas recebem informações com muito mais velocidade, o que pode ser uma vantagem e uma desvantagem."
"Negar o passado significa também não aprender com ele ? com nossos erros e acertos."
Sinopse
"Neste breve e impactante ensaio, a antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz reflete sobre os impactos da pandemia de covid-19 em nossa compreensão sobre as desigualdades estruturais da sociedade brasileira e os limites da utopia tecnológica que marcou o século passado. Em entrevistas e textos publicados nos últimos meses, Lilia Moritz Schwarcz cravou um diagnóstico de grande repercussão: "Ao deixar mais evidente o nosso lado humano e vulnerável, a pandemia da covid-19 marca o final do século XX". A utopia tecnológica do século que agora termina deu lugar a uma crise social, econômica, ambiental, cultural, moral e da saúde ? e o sofrimento que dela decorre é incomensurável. Nos últimos anos, a sucessão de desastres climáticos e ambientais de proporções inéditas alertavam para o fato de que nossa marcha sobre a natureza encontrara seu limite. Mas as contradições da ideia de progresso também se manifestam na inaceitável desigualdade que marca a experiência de países como o Brasil, na perpetuação de estruturas sociais racistas e machistas, e na transformação da história e dos idosos em "velharia". Esses são alguns dos temas abordados em Quando acaba o século XX. "Pessimista no atacado e otimista no varejo", Schwarcz defende que "se cada um exercer sua cidadania, sua vigilância cidadã, quem sabe damos sorte no azar". Se o Brasil já se perdeu e já se encontrou várias vezes em sua história, "é hora de fazer da crise um propósito."