Helder 30/11/2011A velha literatura inglesaPela capa esperava um romance histórico, mas é mais do que isso. Na verdade é quase um livro de suspense. Como já foi dito aqui em outras resenhas, em muitos momentos lembra antigos livros que puxam para o lado gótico, e por isso mesmo o livro fica bem interessante.
Conta a estória de Vida Winters, uma escritora octagenaria que vive reclusa. Ela escreveu dezenas de romances durante sua vida, mas nunca contou a ninguém a sua história. A cada entrevista, utilizando sua criatividade, ela inventava um novo passado, e todos passavam a acreditar que aquele era o verdadeiro. Quais seriam seus grandes segredos?
Até que um dia um jornalista a desafia a contar a verdade, e percebendo que seu tempo está acabando, ela resolve contratar uma biógrafa, Margaret, uma moça criada dentro de uma livraria e que sofre em silencio a perda de uma irmã gêmea, algo que para ela nunca ficou muito bem explicado.
Desde o primeiro encontro percebemos a personalidade forte de Vida. Ela quer contar sua historia, mas exige que seja no seu tempo. E ai começa uma história muito legal, como as antigas estórias da literatura inglesa. Conhecemos George, cuja esposa morre no parto. Este acontecimento a principio o isola, mas de repente ele vê na filha recém nascida a imagem da esposa perdida, e começa a se dedicar somente a ela, deixando Charles, seu primogênito de lado. Com o tempo, Charles a e pequena Isabelle vão crescendo e o clima de desleixo da casa vai aumentando. Uma família rica governada por crianças. E chegam as gêmeas Adeline e Emeline, num momento em que não existem mais regras e elas vivem como se fossem pequenas selvagens.
Enquanto Vida conta sua estória, Margaret, desconfiada da “contadora de estórias” vai buscando validar as informações, e assim acaba descobrindo passos na frente que ainda não foram contados pela escritora de acordo com o seu roteiro pré-definido.
E essas checagens em campo fazem com que nossa curiosidade seja atiçada. Quem é Vida Winter? O que aconteceu com todos aqueles personagens descritos? Se Vida é uma das gêmeas, o que aconteceu com a outra? Como que a casa foi incendiada? O que aconteceu naquele incendio? Quem derrubou a escada? O que levou Hester a perder o controle? Qual a história do homem que hoje freqüenta as ruínas da antiga casa?
Aos poucos Vida vai contando o que aconteceu com cada um e as coisas começam a se encaixar, porém no final, algumas coisas são deduzidas por Margaret de uma maneira um pouco mágica demais, o que acaba tirando um pouco do impacto do livro.
Sua dedução sobre as gêmeas e sobre a paternidade de Ambrose são fáceis demais, apesar de que para mim elas já eram esperadas, pois não acreditava que um livro tão estiloso descambasse para soluções fáceis com fantasmas. Mas no livro parece que foi fácil concluir tudo isso.
Outro ponto que também achei desnecessário no livro foi todo o sofrimento de Margaret por sua irmã morta. Fiquei o livro todo achando que isso seria algum gancho, mas só serviu para encher lingüiça. Imagino que a intenção fosse mostrar que ela entendia bem de gêmeas separadas, mas para mim só tornou a personagem chata.
Mas a estória real de Vida é muito bem bolada, e vale a leitura.