Libera 19/07/2021
3096 dias...
Esse foi o tempo que Natascha ficou em cativeiro. 3096 dias é o título desse livro que traz relatos da própria Natascha, desde sua infância até os dias de sofrimento que passou durante seu sequestro.
O livro começa com partes da infância de que Natascha tem lembrança. Natascha nasceu em uma família já desmoronando, suas irmãs já eram adultas quando sua mãe engravidou de um novo namorado, com a qual se casou e manteve um casamento conturbado. Natascha lembra do pai sempre alegre e brincalhão, mas também se lembra dele muitas vezes bêbado. A mãe sempre trabalhando muito para cuidar da família. Mas com o tempo o casamento acabou e começaram as brigas.
"Eu sofria uma forma diária de violência- não era suficientemente brutal para ser considerada abuso, mas era uma indiferença tão grande que lentamente acabou com minha autoconfiança. Quando se fala em violência contra crianças, pensa-se em pancadas sistemáticas que resultam em ferimentos corporais. Eu não experimentei nada disso na infância. Antes, era uma mistura de repressão verbal e tapas "clássicos" que me mostrou que, como criança, eu era a parte mais fraca."
Natascha se sentia sozinha, sempre entre as brigas dos pais, sendo deixada de lado, ou recebendo castigos por causa do mal humor dos pais. Mesmo depois da separação as coisas continuaram ruins. Natascha lembra-se de sua avó, com quem ela passou os melhores momentos de sua infância, alguém que dava carinho, mas que com o tempo se afastou.
Ao iniciar a leitura imaginei que o sofrimento seria por se tratar de um caso de sequestro, mas o sofrimento de Natascha começou dentro da própria casa. Aos 5 anos Natascha tinha que aguentar um peso que nenhuma criança deveria carregar. Com a separação dos pais, a mãe passou a descontar na menina todo sua raiva pelo ex marido. Se sentindo abandonada e sofrendo violência psicólogica dentro de casa, Natascha sonhava em fica adulta logo, para não ser um peso para os pais. E apesar de tudo, ela amava seus pais.
Tudo o que li sobre sua primeira infância, só me fez crer que tudo o que aquela menina queria era chamar atenção, se sentir amada, mas nunca conseguia.
Aos dez anos ela começou a entender que precisava se virar, já queria ir sozinha para a escola, se sentir mais "independente", e foi aí que a vida dela desmoronou de vez.
Mesmo depois de fugir do cativeiro Natascha não conseguiu ter sua vida de volta. Até hoje muitas pessoas dizem ser mentira o sequestro, que ela ficou com o sequestrador por que quis, que ela queria dinheiro e coisas horríveis desse tipo, isso porque ela se culpou pela morte do sequestrador, comprou a casa dele um tempo depois, e não conseguiu se desligar de tudo.
"Pude sobreviver porque inconscientemente suprimi e afastei de mim os horrores que vivi. E, com as terríveis experiências durante o cativeiro, aprendi a ser forte. Talvez até a desenvolver uma força que não teria se estivesse em liberdade."
Natascha sofreu muito, e pessoas que a jugam por ter criado um laço com o sequestrador não sabem o que dizem. Ela passou oito anos com ele, dos 10 aos 18 anos, ou seja, a formação dela foi naquele lugar, ela aprendeu a viver daquele jeito, não consigo nem imaginar como é isso, e ninguém deve achar que consegue.