Rogério Conrado 24/07/2013
3096 dias com Natascha Kampusch
Olá Skoobeiros...
Natascha Kampusch sofreu o destino mais terrível que poderia ocorrer a uma criança (em 2 de março de 1998,foi sequestrada a caminho da escola).
O sequestrador - o engenheiro de telecomunicações Wolfgang Priklopil - a manteve prisioneira em um cativeiro no porão durante 3.096 dias.
Nesse período, ela foi submetida a todo tipo de abuso físico e psicológico e precisou encontrar forças dentro de si para não se entregar ao desespero.
Através de um livro Natascha Kampusch fala abertamente sobre o sequestro, o período no cativeiro, seu relacionamento com o sequestrador e, sobretudo, como conseguiu escapar do inferno, permitindo ao leitor compreender os processos psicológicos pelos quais passou mantida em cativeiro, sofrendo todo tipo de agressão física e mental imaginável.
“Resisti a todo o lixo psicológico e às fantasias de Wolfgang Priklopil e não me permiti ser dominada. Agora eu estava do lado de fora,e era isso que as pessoas queriam ver: Uma pessoa enfraquecida,que nunca se recuperaria e sempre dependeria da ajuda dos outros.Mas,no momento em que me recusei a carregar a marca de Caim pelo resto da vida,o humor mudou.”(p.222)
Ele era um homem comum, fechado e até tímido, parecia ter grande afeição pela mãe e era provavelmente um vizinho que não causava problemas. Ninguém poderia imaginar que nos confins da casa de muro alto e farpado, havia uma menininha muito corajosa lutando contra a tortura física e psicológica.
A autobiografia escrita por Natascha é dolorosamente explícita, como se ela pudesse olhar para tudo que sofreu com os olhos de um observador.
Há alguns anos atrás,quando a história veio à tona,o mundo conheceu a fabula inacreditável de uma jovem mulher que passara parte da infância e toda a adolescência sobre a cruel vigilância de um sequestrador.Natascha não teve a sorte de todas as crianças e jovens para frequentar a escola, pois está foi destituída de tudo que lhe era familiar, do seu futuro e de sua personalidade, porque para ela não havia escolha e sua rotina era lidar com um homem que dominava o seu universo, sua vida e sua alma.
Em uma biografia há sempre o que se aprender, não é um manual de como viver e sim uma história de vida pura, com erros e acertos reais. Em 3.096 Dias o leitor é levado à vida de Natascha Kampusch, uma menina comum, com extrema baixa auto-estima, ela poderia formar o perfil perfeito de uma depressiva suicida, mesmo aos dez anos Natascha possuía conflitos internos suficientes para pensar em suicídio. E então o leitor e expectador se pergunta: Como poderia essa mesma menina sobreviver a inúmeras violências físicas,humilhações de todo tipo e a eliminação de sua individualidade?
É então que entra a maior lição que Natascha Kampusch nos ensina ao narrar sua própria história, a de que todo ser humano possui dentro de si o instinto de sobrevivência. Em sua vida antes do seqüestro ela não possuía muita credibilidade, mas depois de ser enclausurada Natasha descobriu que sua sobrevivência dependia dela mesma, cada passo, cada frase, tudo o que fizesse e agüentasse era apenas a preparação para o dia em que ela se libertaria.
A narrativa é um pouco cansativa no início, eu não conseguia entender porque ela citava tantos por menores, como o cheiro das coisas, ou a paisagem, logo eu viria a compreender que todos estes detalhes a alimentaram de imagens e recordações nos longos anos que permaneceu afastada do mundo real.
A forma como Natascha expõe sua opinião sobre a síndrome de Estocolmo é digna de ser analisada por especialistas da psiquiatria. A verdade é que é difícil para as pessoas aceitarem que um ser humano possa ter algum tipo de relacionamento com alguém que o humilha e agride constantemente, entretanto nos esquecemos da influencia que as pessoas têm sobre as outras. O fato de Natascha ter construído um tipo de relacionamento com seu sequestrador não me surpreende, porque sei e ela também sabe que sua sobrevivência estava ligada intimamente como ela se portava com ele. De certa forma, Natascha aprendeu a conviver com a dor e a manipulá-lo quando preciso, e isto se deve ao seu livro. Se ela tivesse sido mais sensível e menos racional, ela ainda estaria presa ou morta, e em conseqüência jamais dividir sua história com o mundo.
Eu indicaria o livro para adolescentes e adultos que estejam preparados para realmente conhecer a vida de Natascha. Como foi seu início de infância e o que se tornou depois de oito anos vivendo em um cubículo, sem a menor privacidade, sofrendo violentas agressões físicas, morais e “pequenos abusos sexuais” dos quais ela prefere não falar em sua autobiografia.
Não encaro Natascha Kampusch como uma vítima, ela o foi no passado, hoje ela é uma mulher como muitas outras que também sofreram violência, tentando resgatar sua vida e sua individualidade. Senti pena da menina de dez anos que perdeu seu futuro saudável, mas não o sinto pela mulher adulta, apenas a admiro e respeito pelo exemplo de força humana.
3.096 Dias é o relato de uma menina que conheceu de perto o inferno, mas não só escapou como ainda manteve sua sanidade mental. Provavelmente ela ainda carrega as cicatrizes na alma e no corpo, mas depois de ler o livro, estou seguro de que se existe alguém preparada para viver neste mundo ela é Natascha Kampusch.
Desfrutem da minha 2ª Resenha, fiquei emocionado com todo o texto! Beijos galera (: