Otávio - @vendavaldelivros 07/12/2020
“Uns sujeitos fizeram umas gracinhas na La Favorita sobre as mulheres de, olhe só que engraçado, Pantolândia, como se viesse de Panta!”
Um intendente do exército peruano com grande capacidade de organização e gestão de processos e um grupo de prostitutas. O tema de “Pantaleão e as Visitadoras”, por si só, já pode ser considerado curioso e “diferente”. E é lendo esse livro que vemos uma faceta diferente de Mario Vargas Llosa: O humor.
Publicado em 1973, “Pantaleão e as visitadoras” conta a história do capitão do exército peruano Pantaleão Pantoja, que recebe a missão de organizar um serviço secreto de visitadoras. O objetivo é atender a demanda dos soldados peruanos alocados na Amazônia e que vinham cometendo atos de violência sexual, segundo o alto comando do Exército, por conta da “ausência de mulheres”.
Pantoja, portanto, se muda para Iquitos com sua mulher e sua mãe e inicia o trabalho secreto de organização, captação e contratação das prostitutas. E é nesse cenário no mínimo improvável que nasce um livro hilário, divertido e com uma acidez na medida certa. Pantaleão, antes um militar exemplar, acaba se envolvendo com uma das visitadoras, tendo seu casamento afetado e sua imagem, perante a sociedade de Iquitos, manchada.
Ainda assim, com sua gigante capacidade de organização, Pantoja transforma o Serviço das Visitadoras em algo extremamente bem gerido, com funcionalidades bem definidas e prestadoras de serviço engajadas. Mais do que isso, me parece que de uma maneira torpe e inadequada (porém dentro das possibilidades de um Peru da década de 50) o serviço das visitadoras trás dignidade e humanidade a pessoas marginalizadas. Mulheres que antes não tinham segurança financeira e física, agora eram “funcionárias do exército peruano”.
Em uma crítica bem construída ao militarismo, parte do livro se constrói em relatórios militares que são enviados para os superiores e para outros departamentos. E são esses relatórios os pontos altos de humor do livro, tratando de temas tão “profanos” com terminologias militares. Por fim, o livro ainda reserva um espaço considerável para mostrar como seitas podem surgir em meio à pobreza e à falta de acesso à infraestrutura e como isso pode destruir uma sociedade por inteiro.
Altamente recomendável, “Pantaleão e as visitadoras” é um livro que faz rir em muitos momentos, mas ainda assim consegue nos passar mensagens importantes e críticas sobre a realidade de quem pouco ou nada tem e de como as classes mais favorecidas lidam com sua própria hipocrisia. Mario Vargas Llosa em sua melhor forma!
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