Pedro Cortat 08/03/2014
Queria ter eu também um Diabo de Garrafa.
Encontrei esse livro barato num sebo junto de vários outros livros, todos com cara de sem sal, alguns bem velhos mas todos baratinhos, comprei mais pelo preço do que qualquer coisa e demorei anos pra começar achando que seria chato. Nunca tinha ouvido falar do autor, nem do livro, esse volume estava novo e ainda assim abandonado numa estante qualquer, por que pensaria o contrário?
No fim do livro Giacomo, nosso ilustre diabo de garrafa se diz desinteressante, talvez inepto. Ninguém que tenha lido suas memórias, transcritas pelo último dono, podem em sã consciência concordar com isso.
Giacomo e seus donos tem suas maravilhosas histórias contadas, pela perspectiva de nosso diabo, com alguns enxertos do último dono, em ricas e cativantes narrativas forjadas a partir de biografias reais temperadas com doses de fantasia e ficção tão bem colocadas que fica difícil não acreditar que ele tenha existido.
O livro é dividido em partes nas quais são narradas as temporadas nas quais a garrafa ficou de posse dos donos mais interessantes de Giacomo. Assim acompanhamos a vida de artistas ilustres como Cellini e Paganini (Como não parar de cinco em cinco minutos para consultar na internet as obras criadas pelo ourives e pelo músico quando são mencionadas pelo narrador), um piloto português dá época das grandes navegações, um brasileiro erradicado na França que busca ser arqueólogo, e um outro diabo prisioneiro e bibliotecário na biblioteca do Vaticano.
E essa é a maior virtude do livro, não temos um tipo de história só. A capítulo a história toda muda, seus ares e motivações, de guerras no renascimento à pirataria nos mares do novo mundo, tudo muito diferente, tudo muito bem descrito, tudo cativante. Impossível perder o fôlego, pois quando uma temática está perto do fim, o livro renasce ao começar uma nova história.
A única coisa que se mantém é o velho Giacomo, meu diabo predileto, que repleto de manias, problemas e sabedoria, acompanha seus donos ajudando-os em suas próprias trajetórias. De maneira bem única marca bem quem é e ser torna um personagem icônico.
Leitura recomendadíssima e quem dera eu encontrasse um livro tão bom quanto toda vez que visitasse um sebo. Ou quem sabe na próxima encontrarei um diabo em alguma estante empoeirada...