Dudu Menezes 16/12/2022
Genial!
A premissa parece simples. Mas não se engane!
Neste livro ficamos sabendo que Paulo, sua esposa e sua filha desapareceram por um ano. Certo dia ele volta, mas elas não! Ele diz não lembrar de nada do que aconteceu, durante todo esse tempo, e não fazer ideia de onde elas podem estar. A partir daí, precisa conviver com as dúvidas da mãe e dos amigos sobre o que realmente aconteceu, além de ser investigado pela polícia e buscar respostas por meio da psicanálise!
Bom, e daí? Daí que muitas possibilidades se abrem...
Então, resumindo, esse livro é foda! Ponto! Quem não gostou, obviamente, tem o direito de não gostar. Pode não se sentir confortável em não receber um final fechado, tradicional, entregue de mão beijada.
Mas é aí que reside a genialidade do Mutarelli, ao meu ver. Eu poderia supor pelo menos três desfechos, nessa primeira leitura, que, incrivelmente, não tem narrador, e é toda construída através de diálogos, em um ritmo frenético, nos fazendo devorar as páginas até o "final".
Essa "escrita de reticências" me agrada - e muito. Porque obriga a pensar, desacomoda e causa desconforto ao fechar o livro. Tenho achado isso importante! Principalmente se estamos numa sequência de leituras que não deixam "pontas soltas".
Eu "criei" o meu final. Tive que usar a criatividade para amarrar as últimas conversas de Paulo e Carlos e de Carlos e Cris! Voltei em alguns pontos da trama e, finalmente, "nada me faltou".
O Paulo, que acompanhei durante toda narrativa, foi se construindo bem antes desses últimos diálogos e eu já tinha uma suposição sobre o caso dele, que nem mesmo foi sugerido em nenhum diálogo anterior aos dois últimos!
Aliás, pouco me importa se o final pode pressupor "outros finais". Não é assim, também, com as nossas vidas? Eu posso usar a criatividade para justificar o meu final, ou melhor, "o final deste livro", ou tudo aquilo que convencionamos chamar de "final".